“É um desrespeito retirar questões de língua portuguesa de concurso público”, diz professor Carlos André

26 janeiro 2024 às 12h02

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Recentemente, o governo federal divulgou o Concurso Público Nacional Unificado (CNPU), que disponibiliza 6.640 vagas distribuídas em 21 órgãos federais. O período de inscrições teve início em 19 de janeiro e se estende até 09 de fevereiro. Com informações atualizadas, o número total de inscritos já ultrapassa 700 mil.
Apesar da importância atribuída à realização de um concurso de tal magnitude, professores e educadores em todo o país expressam surpresa diante da notícia de que questões de língua portuguesa foram excluídas das provas para cargos de nível superior, abrangendo sete dos oito editais anunciados.
Em entrevista, Regina Camargos, secretária adjunta de Gestão de Pessoas do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) e coordenadora da Comissão de Governança do CPN, justificou essa decisão argumentando que o conhecimento da língua portuguesa não pode ser avaliado apenas por meio da memorização de regras gramaticais.
Para aprofundar a compreensão desse cenário, o Jornal Opção consultou o professor de língua portuguesa e advogado especializado em educação, Carlos André. O especialista destaca que, se confirmada, essa decisão do governo representará uma tragédia para o ensino no Brasil, considerando-a gravíssima e expressando perplexidade diante da indiferença ao estudo da língua.
Carlos André reitera que a Frente Nacional pela Defesa da Língua Portuguesa e pela Educação não aceitará que essa situação prossiga. Ele considera inaceitável que alguém sem especialização na área de linguagem emita opinião sobre um assunto de grande importância nacional, contestando a justificativa da secretária sobre as provas de português.
“A secretária usa de uma falácia quando chama as provas de português de “decoreba”, isto é, um equívoco muito grave. Ela demostra desconhecimento do que acontece nas provas de concursos públicos pelo país. Há muito tempo que não se medem regras gramaticais como ela disse na entrevista. Na verdade, o que se cobra é a leitura, interpretação de texto e a gramática no texto, que é fundamental para que possamos escrever um texto”, contesta.
O professor destaca que a secretária demonstra desconhecimento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que enfatiza a importância da língua portuguesa para a competência e habilidades na construção da cidadania. Além disso, ele ressalta a falha da secretária ao ignorar que a proficiência em leitura, estrutura e regras da língua é fundamental antes de produzir um texto.
Carlos André enfatiza que a fala da secretária é desrespeitosa aos milhares de professores de português no país, e critica a falta de conhecimento da realidade educacional brasileira, citando os resultados trágicos do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022, que coloca o Brasil entre os piores em leitura.
“Dizer isso publicamente é no mínimo desrespeitoso, em um país em que os professores são tão desrespeitados e desvalorizados. O próprio governo tem informações de que a leitura no Brasil é um desastre e quando a secretária fala uma asneira dessa, ela mostra que não tem conhecimento dos próprios dados do país”, replica.
O professor avalia que a tentativa do governo de amenizar a situação, retirando as questões de língua portuguesa apenas das provas objetivas, é equivocada. Ele destaca o decréscimo significativo na capacidade linguística nos últimos anos e a necessidade de cobrar proficiência na língua, discordando da abordagem do governo.
Carlos André alerta para a mensagem transmitida pelo governo, sugerindo que o estudo da língua portuguesa não é relevante. Ele destaca a contradição de um país preocupado com linguagem neutra, mas que deixa questões de língua portuguesa fora de um concurso tão importante, considerando a situação lamentável. . “O que dizer de um país que está se preocupando com linguagem neutra e deixa questões de língua portuguesa de fora de um concurso tão importante?”
O professor destaca a necessidade de uma lei específica que torne a língua portuguesa obrigatória em todos os concursos públicos, referindo-se ao artigo 13 da Constituição Federal. Ele insta o Congresso Nacional a agir nesse sentido e aconselha o governo a reconsiderar essa decisão absurda antes que seja tarde demais. A Frente Nacional pela Defesa da Língua Portuguesa elaborou uma carta aberta em defesa da língua portuguesa. Veja a carta na íntegra.
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