“A tecnologia na educação, uma ferramenta a serviço de quem?”, Relatório Global de Monitoramento da Educação de 2023 da Unesco, é taxativo: “As notificações recebidas ou a mera proximidade do celular podem ser uma distração, fazendo com que os alunos percam a atenção da tarefa. O uso de smartphones nas salas de aula leva os alunos a se envolverem em atividades não relacionadas à escola, o que afeta a memória e a compreensão”.

De cada quatro países um proíbe ou adota políticas rigorosas sobre o uso de celular em sala aula. O relatório da Unesco lista benefícios, mas aponta que o celular em sala de aula pode ser prejudicial à aprendizagem.

México, Portugal, Espanha, Suíça, Estados Unidos, Letônia e Escócia e províncias do Canadá baniram, de vez, os celulares em sala de aula. Renata Cafardo, do “Estadão”, informa que na França os aparelhos podem ser usados “por certos grupos, como os com deficiência, ou quando está claro o uso pedagógico”.

Na Ásia e na África, os países têm regras rígidas sobre uso de celulares em sala de aula. Uzbequistão, Guiné e Burkina Faso são rigorosos. Nem mesmo os professores podem utilizar celulares em Bangladesh.

Estudante com celular durante a aula | Foto: Reprodução

O Brasil não adota leis que proíbam celulares em sala de aula. Porém, determinadas escolas particulares são rigorosas. Umas chegam a proibir e outras permitem exclusivamente em atividades escolares. Renata Cafardo relata que um projeto de 2015, ainda em análise na Câmara dos Deputados, proíbe ‘o uso de aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares e tablets, nas salas de aula da educação básica e superior de todo o país”. O deputado Alceu Moreira, do MDB do Rio Grande do Sul, é o relator do projeto. O parlamentar frisa que o projeto indica que “os aparelhos só serão permitidos ‘se integrarem as atividades didático-pedagógicas e forem autorizados pelos professores”.

Recentemente, de acordo com relato de um professor de universidade goiana, de 22 alunos de uma sala pelo menos 15 estavam conectados em aplicativos e redes sociais, como Tik Tok e Instagram, e não prestavam atenção ao que o mestre, com pós-doutorado, dizia. Dos 15 alunos sintonizados nas redes sociais nenhum estava usando os celulares para fazer pesquisas e melhorar o aprendizado.

O relatório da Unesco será lançado na quarta-feira, 26, no Uruguai.

A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, afirma que, durante a pandemia da Covid-19, houve a tendência de “ver as soluções tecnológicas como uma ferramenta universal, adequada para todas as situações, uma forma inevitável de progresso”. Porém, sublinha, há desafios e riscos. “Vale reiterar o óbvio: nenhuma tela jamais substituirá a humanidade de um professor. A relação entre professores e tecnologia deve ser complementaridade, nunca de substituibilidade”, assinala.

O uso de celulares tem prejudicado alunos da pré-escola à universidade. Estudo feito em 14 países indica que o quadro é ainda pior nas universidades. De acordo com reportagem do “Estadão”, baseada no relatório, “outro estudo mostra que os alunos podem levar até 20 minutos para se concentrar novamente no que estavam aprendendo depois de usarem o celular para atividades não acadêmicas. Há ainda o efeito negativo relatado com o uso de computadores pessoais para atividades não relacionadas à escola durante as aulas, como navegação na internet”.

Os autores do relatório fazem uma ressalva: ““Banir a tecnologia das escolas pode ser legítimo se a integração não melhorar o aprendizado ou piorar o bem-estar do aluno. No entanto, trabalhar com tecnologia nas escolas e seus riscos pode exigir algo mais do que o banimento”. O documento complementa que “deve haver clareza sobre o papel que essas novas tecnologias desempenham na aprendizagem e sobre seu uso responsável pelas escolas” e, também, que os estudantes “precisam aprender os riscos e oportunidades que vêm com a tecnologia, desenvolver habilidades críticas e entender como viver com e sem tecnologia”.

Países que baniram o celular em sala de aula e/ou são rígidos

Bangladesh

Canadá

Escócia

Espanha

Estados Unidos

Finlândia

França

Guiné

Holanda

Letônia

México

Portugal

Suíça

Uzbequistão