Vitória de José Eliton pode reabrir ciclo e vitória de Daniel Vilela pode fechar ciclo até pra aliados
25 fevereiro 2017 às 09h49
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A política é um poço de contradições. Vencendo em 2018, o postulante do PSDB reabre a política para aliados e, até, rivais. Se o peemedebista ganhar, fecha espaços para aliados e adversários
Não há como não dizer: em termos político-eleitorais, 2018 está batendo à porta — como o destino naquele filme já clássico, com Jack Nicholson e Jessica Lange. A eleição para presidente, governador, deputado e senador será realizada daqui a 19 meses, quer dizer, um ano e sete meses. Parece muito distante, leitor? Não. Tanto que os “jogadores” já estão em “campo” — como se estivessem se “aquecendo”. As farpas trocadas pelo senador Ronaldo Caiado, do DEM, e pelo deputado estadual José Nelto, do PMDB, sinalizam que as peças do xadrez estão sendo movidas. Nelto é porta-voz de Daniel Vilela e, como tal, pode dizer aquilo que o deputado federal e presidente do PMDB não pode expor publicamente. Porque, adiante, poderá precisar compor com o líder do partido Democratas. Por que, se o jovem peemedebista fala por meio de um porta-voz, o senador não faz o mesmo? Porque nunca teve porta-voz.
O jogo político está sendo estabelecido, com as configurações iniciadas, mas não concluídas. Qualquer político com o mínimo de experiência — o próprio Daniel Vilela é menos inexperiente do que se costuma pensar — sabe que não se joga todas as fichas de uma só vez. A peleja vai sendo armada aos poucos, sondando posições e forçando a realidade. Fazer política é criar e recriar realidades; noutras palavras, construir o futuro no presente — colocando um cadinho dos indivíduos no processo de mudança.
No momento, Daniel Vilela sabe que seu principal adversário não é nem Ronaldo Caiado nem o vice-governador de Goiás, José Eliton, do PSDB. Os dois podem ser os rivais de 2018. O que o deputado precisa é sedimentar-se no PMDB e firmar a imagem de que tem condições de ser candidato a governador. Para tanto, é preciso retirar um peemedebista sênior do jogo preliminar. O que torna Daniel Vilela relativamente frágil é a força política de seu pai, Maguito Vilela — ex-governador, ex-senador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia.
Agregador nato, Maguito Vilela quer ser candidato a governador de Goiás. A maioria dos políticos — sobretudo os de fora do PMDB — aposta que será o postulante do partido. Há os que frisam que, entre ele e Daniel Vilela, é o único que poderá obter o apoio do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, do PMDB. É uma informação — ou interpretação — a considerar. Porém, tem a ver com a realidade interna do partido, não necessariamente com o pensamento da sociedade.
A eleição de 2018, depois do consenso nacional de que a ética deve prevalecer na vida pública, poderá pôr uma pedra no sapato dos políticos que têm passado. No caso, ter um passado nem significa que precisa ser muito ruim para ser rejeitado. A questão é outra: a sociedade quer renovar e isto significa derrotar aqueles que estão há muito tempo na política, e por isso estariam, teoricamente, “contaminados”. Se Maguito Vilela for candidato pela terceira vez, isto significa que, em 20 anos, de 1998 a 2018, o PMDB terá tido apenas dois candidatos ao cargo de governador. Iris Rezende disputou três vezes — em 1998, 2010 e 2014. Maguito Vilela disputou duas vezes — em 2002 e 2006 e poderá disputar em 2018. Os dados sublinham que renovação não é uma prática do PMDB e, portanto, usá-la, como discurso de ataque ao grupo que está no poder, o do governador Marconi Perillo, do PSDB, poderá não funcionar. Poderá ser um tiro pela culatra, especialmente se o tucanato optar por lançar um candidato jovem, como José Eliton, que, não tendo um passado gigante, não tem desgaste pessoal. Então, se disser que o tucanato está no poder há 20 anos — contra os 16 anos do PMDB, entre 1983 e 1998 —, o peemedebismo terá de explicar por qual motivo, em 20 anos, bancou apenas dois nomes para a disputa do governo. Aquilo que não se tem como explicar, em política e na vida, é, em geral, um desastre para o explicador.
Pode-se dizer, portanto, que, se tem a força da experiência e a capacidade de agregar, Maguito Vilela, do ponto de vista da sociedade, tende a ser visto como o “velho” — frise-se que não tem a ver com idade — e como um elemento da não-renovação. Tal interpretação, se estiver realmente consolidada na sociedade, tende a ser uma barreira para o ex-prefeito e uma catapulta para Daniel Vilela.
A força de Maguito Vilela, sua experiência e o fato de ser conhecido, pode ser também sua fraqueza — revelando as contradições da vida. É a tal de dialética, diriam Heráclito e Marx.
Realidade contraditória
Há um consenso de que as duas figuras exponenciais da renovação, ao menos com força para ganhar uma eleição, são mesmo José Eliton (seu perfil não dista do prefeito de São Paulo, João Dória; note-se sua firmeza e a falta de um “passado queimado”), no campo da situação, e Daniel Vilela, no campo da oposição. Ambos representam “estruturas” sólidas, enraizadas na história política de Goiás, que há 20 anos (em 2018) disputam o poder — sem espaço para a terceira via. Tanto que o ex-senador Demóstenes Torres, no auge de sua popularidade, em 2006, disputou o governo e obteve menos votos do que Maguito Vilela, Alcides Cidinho Rodrigues (o eleito, como político-mochila, quer dizer, foi carregado pelo tucano Marconi Perillo) e Barbosa Neto. Nem todas as eleições são iguais, mas o eleitorado goiano parece adotar um padrão — não elege candidatos-outsiders. Há razões-explicações, mas, como não são o foco deste Editorial, não serão expostas.
Há um aspecto curioso que o jornalismo político pouco tem enfatizado. José Eliton deve assumir o governo, em abril de 2018. Se for eleito em outubro daquele ano, não poderá disputar a reeleição em 2022. Deste modo, sua vitória, longe de fechar, abre canais para seus aliados. Em 2022, estando no poder, poderá bancar um candidato de sua base política para governador. Conclui-se, pois, que, vencendo José Eliton, abre-se o quadro político-eleitoral para seus aliados — como Thiago Peixoto, Alexandre Baldy, Virmondes Cruvinel, Roberto Órion Naves, Lêda Borges, Lincoln Tejota, Lucas Calil, Jean Carlo, Gustavo Sebba, Hildo do Candango, Célio Silveira, Abelardo Vaz, Vinicius Luz, Valmir Pedro, Jânio Darrot, Vanderlan Cardoso, Ana Carla Abrão, Wilder Morais, Francisco Júnior, Henrique Arantes, Marcos Abrão, Rogério Troncoso e tantos outros — disputarem eleições majoritárias em 2022. Ressalte-se que seu vice em 2018, no caso de vitória eleitoral, estará cacifado para a disputa seguinte. É uma informação a ser levada em conta, especialmente num momento em que vários políticos veem o Senado como uma espécie de paraíso na Terra. Em suma, uma vitória de José Eliton abre o ciclo para sua base eleitoral. Aliás, pode abrir o ciclo para os políticos em geral.
Outra faceta do aspecto que apontamos como “curioso” no parágrafo anterior diz respeito a Daniel Vilela. Se for eleito governador em 2018, o peemedebista, longe de abrir um ciclo para seus aliados e adversários, pode fechá-lo para todos. Primeiro, porque tende a disputar a reeleição em 2022 — se a reeleição não cair. Segundo, se perder, deve disputar de novo, por ser jovem, em 2022. Terceiro, a expectativa de continuidade no poder costuma tolher as lideranças emergentes.
Ao leitor, o Jornal Opção sempre faz determinados esclarecimentos. Como o futuro nem a Deus pertence — quem seria capaz de “inventar”, inclusive como ficcionista, que a presidente Dilma Rousseff sofreria impeachment e que o PT sairia devastado?; Gabriel García Márquez seria capaz de imaginar uma personagem como Sergio Moro e a Operação Lava Jato? Talvez não —, é preciso dizer que julgamentos e avaliações peremptórios acabam por ser implausíveis. Portanto, o que se diz, neste Editorial, é mais um referencial para que os políticos pensem sobre suas ações e jogos. É mais um guia para a reflexão do que para a ação. Quanto aos que dizem que 2018 está longe não acredite neles, leitor. 2018 está à porta — e batendo forte. l