Ao contrário do PT, o tucanato não tem ligação com os movimentos sociais, e por isso um candidato insosso como Alckmin precisa de maciço apoio político

Presidente Michel Temer (PSDB) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB)
Foto: Beto Barata/PR

Políticos amadores, como Joaquim Barbosa e Luciano Huck — que, a rigor, ainda nem se tornaram políticos —, às vezes avaliam que certo aplauso das redes sociais, nas quais as pessoas curtem para curtir, se traduz em aplauso real. Na verdade, apesar de se falar tanto em mudança, que há um novo eleitor que, portanto, exige um novo político, a mudança precisa de um tempo pra sedimentar-se. A tendência é que, em 2018, as grandes estruturas estaduais tenham um peso muito maior do que as estruturas recém-criadas nas redes sociais. Partidos gigantes como o PMDB, profundamente enraizados nas cidades do país — disputando eleições há décadas —, não devem ser menosprezados.

A impressão que se tem é que o PSDB do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fiado em pesquisas que mostram o desgaste do PMDB e do presidente da República, Michel Temer, não quer ou não pode perceber que abandonar determinados aliados poderá ser, eleitoralmente, fatal em 2018. Os cabeças pretas do tucanato querem o partido distante tanto de Michel Temer, apontado como “maldito”, quanto de seu governo — pois, teoricamente, vão “puxar” para baixo quem estiver nas proximidades. Pode ser uma aposta certeira, mas também pode não ser.

Aos trancos e barrancos, o Brasil volta a crescer e as expectativas para 2018 não são tétricas. Com mais empregos — e menos desemprego — e a possibilidade de consumo estabilizada, com inflação baixa, como serão avaliados o governo e o presidente Temer? O publicitário Nizan Guanaes, convocado por Michel Temer, estuda como melhorar a imagem do governo e do presidente. Publicitários sabem que, para restaurar a imagem do presidente, o melhor caminho é trabalhar a recuperação da imagem do governo. Provar que o governo é sério, que está fazendo as reformas necessários para garantir não apenas o crescimento imediato, e sim sua viabilidade e permanência futuras, é o sendeiro adequado. Recuperada a imagem do governo, ainda que não seja uma recuperação total, pode ser fundamental para requalificar a imagem de Michel Temer.
Em 2018, se o governo estiver com uma imagem mais positiva, algum candidato terá como dispensar o apoio do presidente Michel Temer? É provável que não. Porém, se dispensar o apoio agora, o PSDB terá como reconquistá-lo posteriormente? Tudo indica que não.

Requalificados governo e presidente — missão para Hércules, e Nizan Guanaes está mais para Aquiles, com certa vulnerabilidade —, o PMDB poderá buscar aliados, por exemplo o DEM de Rodrigo Maia e o PSD de Gilberto Kassab, e bancar candidato a presidente da República. Pode ser o próprio Michel Temer — apontado como o presidente que tem coragem de aprovar o que outros não têm coragem — ou outro nome, como Henrique Meirelles (PSD) ou Rodrigo Maia (DEM). Henrique Meirelles é sisudo, pouco empático, mas, se trabalhado com eficiência, pode se tornar uma espécie de Fernando Henrique Cardoso 2. A palavra a reter é “pode”. O ministro da Fazenda é democrático, mas, quando fala e até sua atitude corporal, lembra, quiçá vagamente, a de um ditador. Fica-se com a impressão que, para ele, as pessoas são puramente números. Mudá-lo não será fácil, mas convém lembrar que Duda Mendonça transformou Lula da Silva, em 2002, de Sapo Barbudo no Príncipe dos Operários, quer dizer, tornou-o palatável aos brasileiros, inclusive aos empresários. Talvez seja mais fácil “transformar” Henrique Meirelles, que não tem desgaste superlativo — exceto uma ligeira ligação com os irmãos Joesley e Wesley Batista (um deles chegou a reclamar do ministro para Temer, o que sugere independência) —, do que tornar Michel Temer popular. Rodrigo Maia, se não for “lavajateado”, é a alternativa jovem. Hoje, como presidente da Câmara dos Deputados, funciona como ministro informal do governo. Tanto que impôs o deputado federal Alexandre Baldy como ministro das Cidades — um dos mais importantes cargos do governo federal.

O PMDB é um partido forte, mesmo quando parece baleado e quase morto — como agora. Menosprezá-lo, assim como aos seus líderes, é sempre um risco. Desde 1985, com José Sarney (Tancredo Neves ganhou no Colégio Eleitoral), até 2014, com a ex-presidente Dilma Rousseff, todos os presidentes precisaram do apoio do PMDB tanto para ganhar eleições quanto para governar. Ninguém governa sem o apoio da bancada de deputados federais e senadores do partido. Lula da Silva e José Dirceu, espécie de Fouché não policial, inventaram o mensalão porque acreditavam que, comprando os partidos médios e menores, poderiam governar sem o PMDB. Desco­briram que era muito mais produtivo manter a vinculação com os peemedebistas — como fizeram pós-mensalão e até a debacle do governo de Dilma Rousseff — do que ligar-se integralmente aos partidos menores. Lula da Silva, que é um político hábil e está anos luz na frente de Dilma Rousseff, sabe que o governo da petista começou a naufragar, não apenas devido aos ventos da corrupção, e sim em virtude de manter um relacionamento tenso, de menosprezo, com os peemedebistas.

O presidente do PMDB, o senador Romero Jucá, disse recentemente à “Folha de S. Paulo” que o PMDB deve se coligar com o PT em oito Estados — chegou a citar Goiás como um deles (de fato, o deputado federal Daniel Vilela, do PMDB, mantém relação cordial com o vereador petista Antônio Gomide, de Anápolis). Lula da Silva tem conversado com frequência com o senador Renan Calheiros, um dos principais operadores políticos do PMDB.
Se o PMDB não pode ser “dispensado”, por que grupos significativos do PSDB, inclusive políticos ponderados, como Geraldo Alck­min, estão se afastando? Porque acreditam que os clamores das ruas vão jogar na sarjeta todos aqueles que se aliarem ao PMDB e, talvez sobretudo, ao presidente Michel Temer. Os tucanos não estariam concedendo um peso exagerado aos gritos das ruas? Talvez sim — se a história ensina alguma coisa. Talvez não — se a história nada ensina.

A hora dos russos
Geraldo Alckmin comporta-se com candidato a presidente da Repú­bli­ca. Ele não estaria lavajateado o suficiente — a ponto de ter de abrir espaço para um político sem ou com menos desgaste, como o prefeito de São Paulo, João Doria Junior — e por isso é visto com pule de dez. Mas vai para a disputa com quais aliados? No momento, difícil responder, considerando que, no primeiro turno, os partidos mais importantes querem lançar candidato.

O vice de Geraldo Alckmin poderia ser do PSB? Pode, desde que ele apoie seu vice, Márcio França (PSB), para o governo de São Paulo — o que contraria João Doria. O PSB, por sinal, está em busca de candidato a presidente, possivelmente o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. O PSD tende a caminhar com o presidente Michel Temer ou mesmo a bancar Henrique Meirelles para presidente. Como fica o DEM? A tendência é que caminhe com o governador paulista. Mas parte está fechada com Michel Temer. O que pode acontecer é que, tendo dado ouvido aos cabeças pretas — que estariam ouvindo as ruas e as redes sociais com ouvido mais apurado —, o tucanato pode concorrer à eleição presidencial com uma estrutura muito menor. Frise-se que Geraldo Alckmin não é popular, não empolga. Noutras palavras, é candidato que precisa de muito apoio político para se tornar palatável ao país.

Político de centro, que tranquiliza a população — sugere o diplomata e economista Rubens Ricupero —, Geraldo Alckmin terá, antes de disputar a eleição, de conversar com os “russos”, quer dizer, com os eleitores e com os políticos. Porém, desprezando o peemedebismo, vai conquistar quem? Outro problema do PSDB é que não tem, ao contrário do PT de Lula da Silva, ancoragem social. A sociedade organizada — além do lumpenzinato — tem pouco a ver com o tucanato.

As eleições presidenciais, quando não se tem um candidato hors concours — nem Lula da Silva tem mais força para vencer na primeira etapa —, geralmente são decididas no segundo turno. Quem foi dispensado no primeiro turno aceitará compor no segundo turno? Talvez não.

A impressão que se tem é que os cabeças pretas do PSDB podem terminar com(o) cabeças brancas pós-eleições de 2018. l