Políticos terão ganho eleitoral com medidas duras do governador Marconi. Não é ilusão
14 fevereiro 2015 às 10h39
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A modernização da máquina pública, colocada a serviço da sociedade e não da barganha política, vai ser decisiva para que os eleitores percebam o governador de Goiás, o tucano-chefe Marconi Perillo, e seus aliados como porta-vozes da modernidade nas eleições de 2016 e 2018
“O político deve ter: paixão por sua causa; ética em sua responsabilidade; mesura em suas atuações.”
Max Weber
É consensual que o maior político do século 20 é o britânico Winston Churchill. Quando a Inglaterra estava praticamente derrotada, com políticos e aristocratas pensando numa composição com o nazista Adolf Hitler, o chefão da Alemanha entre 1933 e 1945, Churchill disse “não” e garantiu que lutaria até a morte para defender sua pátria e, sobretudo, a civilização. Até 1941, o soviético Stálin era aliado de Hitler, com documento assinado, e permanecia inerte ante o sofrimento dos ingleses e outros povos europeus. Franklin D. Roosevelt, engessado pela opinião pública e pelo Congresso, relutava em apoiar, com homens e armas, o “aliado”. Assim, a Inglaterra, bombardeada pelos alemães, esteve na iminência de ser invadida. Havia, entre os militares germânicos, aqueles que entendiam que, no lugar de atacar a União Soviética, a Wehrmacht deveria ter invadido a Inglaterra. Com esta fora do teatro da guerra, a Europa estaria praticamente sob controle e, em seguida, o país de Stálin poderia ser dominado sem maiores riscos, porque não teria apoio de outras nações. O busílis da questão é que havia, na velha Albion, um homem obstinado, intimorato. Primeiro, continuou lutando. Segundo, trabalhou, com o apoio do americano Harry Hopkins e outros, para persuadir Roosevelt de que era preciso conter a monstruosidade que era o nazismo. Terceiro, para conter o ditador que mesmerizara a terra de Goethe e Thomas Mann, aceitou compor com o czar vermelho. Terminada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), apontado como o salvador da Europa e, quem sabe, do mundo, o primeiro-ministro perdeu a eleição para um integrante do Partido Trabalhista. Os ingleses avaliaram que, se era bom para ganhar a batalha, para destruir, talvez não o fosse para a construção. É provável que, num momento de crise, os indivíduos optaram por aqueles que tinham um discurso mais fortemente social, e não liberal, como o de Churchill.
Goiás, felizmente, não está em guerra. Porém, diferentemente de Churchill, o governador Marconi Perillo, de 52 anos (em março), tem uma visão de Estado que se aproxima mais da de Franklin Roosevelt (curiosamente, os dois foram eleitos quatro vezes; o americano, seguidamente). O criador do New Deal entendeu que, para recuperar a economia americana — a depressão era uma espécie de guerra sem armas —, precisava investir em infraestrutura, melhorar os serviços do Estado e adotar programas assistenciais-inclusivos. Chegou a ser tachado de “comunista” pelos liberais, quando, na verdade, era tão liberal quanto seus críticos. O que descobriu é que, no poder, há problemas que ultrapassam a discussão ideológica e princípios rígidos. A recuperação de um país e da estima dos indivíduos está acima de questiúnculas e debates meramente intelectuais. O tucano-chefe goiano pensa praticamente da mesma forma. Porém, há uma convergência com Churchill (e não se está pretendendo colocá-los no mesmo patamar histórico): a energia pessoal, a capacidade de fazer e de transformar aquilo que está no papel, às vezes disposto de maneira soberba, em ações, em resultados. Churchill, Roosevelt e Marconi, diversos em alguns pontos e parecidos em outros, certamente agradariam Max Weber. “O político deve ter: paixão por sua causa; ética em sua responsabilidade; mesura em suas atuações”, escreveu o sociólogo alemão.
No seu quarto governo, Marconi está se consolidando como gestor, acima da tradição populista do país. Mesmo entendendo que não pode, e não quer, perder aliados políticos, tudo indica que, com a adoção de medidas duras, está pensando mais na sociedade do que em interesses pessoais — inclusive nos seus — e de grupos organizados.
Na semana passada, para desconforto de aliados e, inclusive, de alguns de seus secretários — que protestam em silêncio, às vezes por receio de perder seus cargos e os de seus aliados —, Marconi anunciou uma agenda duríssima. A máquina estatal deve reduzir seus custos, este ano, em 2 bilhões de reais. Por dois motivos básicos. Primeiro, para que, ao final da gestão, não se tenha um rombo nas contas públicas. Segundo, porque num ambiente de crise nacional — portanto, com menos recursos gerais para as unidades da Federação —, é preciso que o Estado recupere ao menos parte de sua capacidade de investimento.
A secretária da Fazenda, Ana Carla Abrão Costa, uma economista que conhece os meandros da economia real — sabe, por exemplo, que uma casa que gasta mais do que arrecada não tem como ficar em pé por muito tempo; um dia, cai —, afirma que o governo vai revisar a folha de pagamento dos funcionários públicos. Claro que, até por motivo de estabilidade, não se demitirá servidores efetivos, mas é possível economizar com possíveis correções nas distorções da folha. A introdução do ponto eletrônico dirá quem de fato trabalha e será possível conter certos “ralos”. Porém, mesmo com a correção, com ajustes para eliminar possíveis desperdícios, a folha do funcionalismo continuará alta e, assim, drenando amplos recursos da sociedade. Hoje, o governo gasta mais de 60% de sua arrecadação com as mais de 100 mil pessoas que trabalham na máquina pública. Convém lembrar que Goiás tem 6,4 milhões de habitantes. Dada a força do corporativismo, de uma máquina sindical azeitada, é praticamente impossível conter a expansão da folha. Tem sido assim ao longo da história.
Talvez mude um pouco agora. A palavra a reter é “talvez”. Os políticos são “prisioneiros” da, digamos assim, força política e da capacidade mobilizadora do corporativismo. Até a imprensa, às vezes sem ter opinião informada e formada sobre os fatos, é manipulada, direta ou indiretamente, por sua pressão. Ressalte-se, porém, que os trabalhadores têm escassa (ou nenhuma) culpa pelo inchaço do Estado. Eles são mais “vítimas” — do que sujeitos — produzidas pelas máquinas eleitorais ao longo da história.
Ao enfrentar a própria máquina política que o elegeu, tentando convencê-la de que planeja fazer o melhor para a sociedade, para o todo — os cidadãos —, Marconi sugere que é, de fato, um modernizador. Sintomaticamente, as oposições estão “boquiabertas”, porque o tucano-chefe está fazendo o dever de casa, enquanto os aliados estão “chocados”, porque perderam certas regalias para si e para seus cabos eleitorais.
Políticos da velha guarda dizem que Marconi não está fazendo política, ao contrariar seus companheiros e ao reduzir cargos para as máquinas político-eleitorais. Ledo engano. A ação do gestor — aquele que toma medidas duras mas cruciais para garantir ou incentivar o crescimento e o desenvolvimento do Estado — não exclui a ação do político. É provável que, sendo um gestor eficiente, que não quer desperdiçar recursos, Marconi está sendo mais político do que antes.
Cortando gastos, para gerir o Estado com mais qualidade, para torná-lo mais “barato” para a sociedade, para melhorar os serviços — nas áreas de saúde, educação e segurança pública —, Marconi está fazendo aquela política que, na falta do mote justo, talvez se possa chamar de “estadismo”. Ou então “alta política”. Os políticos, aqueles que querem nomear apaniguados — e todos têm os seus, mesmo quando criticam o empreguismo, o clientelismo e o patrimonialismo —, pensam, num primeiro momento, que estão “perdendo”, principalmente que vão perder aliados, aqueles que perderam ou não conseguiram cargos. É uma visão política estreita, limitada e limitante.
Na verdade, se o governo de Marconi der certo, em função de uma máquina mais ajustada, contará com a aprovação da sociedade. Nas próximas campanhas, se o governo criar mesmo uma máquina mais enxuta, com o objetivo de fazer mais obras e oferecer serviços de mais qualidade, a maioria dos políticos da base governista será aprovada e, deste modo, poderá se eleger ou se reeleger. O que vai garantir o possível sucesso eleitoral da base marconista, em 2016 e 2018, não são contratações de comissionados, e sim os resultados positivos que a sociedade vai colher como decorrência dos possíveis acertos do governo Marconi.
O político que tem visão é aquele que pensa no futuro enfrentando as agruras do presente (vive-se no presente, e não no futuro, costumava frisar o filósofoso anglo-letão Isaiah Berlin). Marconi tem demonstrado, desde 1999, que tem mais visão do que muitos de seus pares. Quem estiver próximo do tucano, aprovando as medidas que beneficiam a sociedade, dada a possibilidade de expansão da economia e do desenvolvimento, certamente terá mais ganhos do que o mero apoio de funcionários comissionados “satisfeitos”. A modernidade bate à porta daqueles que lhe são receptivos.