Se permanecer forte na política do país, o tucano pode consolidar novas lideranças em Goiás e contribuir para o desenvolvimento de sua região

Governador de Goiás, Marconi Perillo, foi eleito 1º vice-presidente do PSDB | Foto: Divulgação

Goianos brilharam na política nacional ao longo da história. Podem ser citados Leopoldo de Bulhões — chegou a ser ministro da Fazenda —, Domingos Vellasco, Alfredo Nasser (ministro da Justiça do governo do primeiro-ministro Tancredo Neves), Henrique Santillo e Iris Rezende. Mais recentemente, o senador Ronaldo Caiado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o governador de Goiás, Marconi Perillo, aparecem de maneira ativa do país.

Ronaldo Caiado, por não manter uma relação construtiva e agregadora com seu partido, o DEM, tem uma ação isolada. Aparece como político nacional, é respeitado, mas não se tornou decisivo, um player. Mesmo quando tem brilho individual, o player precisa de um grupo que o fortaleça. A evidência de que não está se sentindo confortável na política nacional é que pretende disputar o governo de Goiás em 2018.

Henrique Meirelles (PSD) foi eleito deputado federal por Goiás, em 2002 (o mais votado), mas não assumiu o mandato, tornando-se presidente do Banco Central, no governo do ex-presidente Lula da Silva, do PT. Agora, na gestão do presidente Michel Temer, faz um trabalho meritório, contribuindo para colocar o governo em ordem — até onde é possível — e para a retomada do crescimento econômico. Pode-se dizer que atua como uma espécie de primeiro-ministro. Tanto que a ligeira melhoria da imagem do governo e do próprio Temer tem a ver com os acertos do ministro na economia. A ressalva é que a consolidação como técnico não significa necessariamente uma cristalização como político. Porém, se firmada a correlação, pode se tornar forte candidato a presidente. Só que, para consolidar-se, precisa tanto do apoio de Michel Temer quanto do de Gilberto Kassab (que prefere apoiar o tucanato paulista), presidente nacional do PSD. Se é um player na área de economia, Henrique Meirelles terá dificuldade de se tornar um player político.

Iris Rezende poderia ter se tornado um político nacional. Foi ministro e quase se candidatou a presidente da República. Porém, na primeira derrocada — não conseguiu ser o candidato do PMDB a presidente em 1989 —, desistiu do projeto nacional e voltou-se para a política regional. Deixou de ter presença no país e acabou se tornando não mais um político regional, e sim municipal, de Goiânia. Quer dizer, está finalizando sua carreira política menor do que quando começou (ou recomeçou) em 1983, como governador.

Para se consolidar como player nacional, o político precisa insistir, deve disputar espaço, participar de grupos, ser agregador e dialogar com a imprensa (Iris Rezende, dadas as suas deficiências culturais, sempre teve dificuldade de dialogar com jornalistas não áulicos e nunca soube fornecer informações cruciais, em “on” ou “off”, aos repórteres de jornais como “Folha de S. Paulo”, “O Globo”, “O Estado de S. Paulo” e “Veja”).

Marconi Perillo

Em 2017, com o país em crise, o governo de Goiás, dado um ajuste relativamente rigoroso nas contas públicas, tornou-se modelar para os demais Estados. O governo termina o ano com o pagamento dos funcionários públicos consolidado, sem atrasos, e com investimentos em praticamente todos os municípios. O Goiás na Frente, que tanto chama a atenção dos governantes de outras unidades da Federação, é um dos maiores programas municipalistas (e de desenvolvimento) da história do país. Cidades com certidões negativas em dia, não importando se os prefeitos são do PSDB ou do PMDB, vão receber (dezenas estão recebendo) recursos financeiros para investirem em infraestrutura.

Entretanto, mesmo antes do Goiás na Frente, o governador de Goiás, Marconi Perillo, de 54 anos — foi eleito pela primeira, em 1998, aos 35 anos —, no seu quarto mandato, já vinha se consolidando na política nacional. Claro que os feitos no Estado o fortaleceram no país — afinal, como apreciava sugerir o baiano Antonio Carlos Magalhães, só é forte na corte quem é forte na província. Mostraram aos políticos de vários Estados, sobretudo aqueles com presença nacional, que alguém, mesmo na crise, estava e está conseguindo fazer uma administração meritória.

Mas o país não está pondo em discussão o que Marconi Perillo está fazendo em Goiás. Na verdade, ele se tornou um player nacional porque está discutindo, de igual para igual, as questões do país, que vão muito além dos interesses regionais.

Ao se colocar no cenário nacional, como um articulador político, Marconi Perillo consolidou-se. Não se trata tão-somente do gestor que está em voga, e sim, sobretudo, o político, que tanto articula quanto agrega.

Recentemente, com Tasso Jereissati, por imperícia política, destituído do comando nacional do PSDB, os líderes tucanos passaram a discutir as figuras talhadas para dirigir o partido — que, em 2018, planeja reconquistar a Presidência da República, com Geraldo Alckmin ou outro postulante. Num primeiro momento, duas candidaturas foram postas na roda: a de Marconi Perillo e a de Tasso Jereissati. Para evitar uma divisão partidária, o que contribuiria para prejudicar o projeto de 2018, decidiu-se que Geraldo Alckmin seria o presidente do partido e Marconi Perillo o vice-presidente. Apesar de que arestas sempre ficam, o tucanato não saiu fraturado.

O fato é que, ao se colocar na disputa, ao se posicionar com firmeza, ao trafegar pelo país, de Norte a Sul, Marconi Perillo consolidou-se como player nacional. O presidente da República, Michel Temer, uma raposa política, convoca-o com frequência para discutir a política nacional e questões estratégicas do governo.

O que fazer para manter-se como player nacional? Primeiro, não descuidar da política do próprio Estado. Uma vitória de José Eliton (PSDB) para governador, que daria a sexta vitória consecutiva da aliança tucano-pepista em Goiás, fortaleceria ainda mais Marconi Perillo no seu projeto de ocupar espaço na política do país. Segundo, se eleito senador, conquistar espaço sólido no Congresso. Terceiro, deve continuar com sua política agregadora. Observe-se que se tornou um líder dos políticos e gestores do Centro-Oeste (incluindo Tocantins).

No caso de vitória de um aliado para presidente da República — como Geraldo Alckmin ou Henrique Meirelles —, é provável que Marconi Perillo seja convocado para um ministério importante, como Transportes, Cidades ou Casa Civil. Mais tarde — 2022 ou 2026 —, pode disputar a Presidência da República. Aliás, na possibilidade de Geraldo Alckmin não disputar a Presidência em 2018, o nome do tucano goiano está aí, pronto para concorrer. Há, inclusive, a possibilidade de uma composição entre o tucanato e Henrique Meirelles.

Para se manter como player nacional, o político precisa fazer o percurso inverso de Iris Rezende. Este, abandonando a política no país — havia sido ministro do governo de José Sarney e de Fernando Henrique Cardoso —, não soube entender seu próprio esgotamento político regional.

Marconi Perillo pode se fortalecer na política local mantendo-se forte na política nacional, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento de seu Estado e colaborando para forjar uma nova liderança política (qual líder Iris Rezende forjou? Em 1998, candidatou-se a governador, atropelando Maguito Vilela. Hoje, quando poderia incentivar o fortalecimento de um líder jovem, prefere jogar com um político tradicional, Ronaldo Caiado). Um player nacional não pode ser relutante. O tucano goiano não o é. É um político que a oposição não tem sido capaz de “decifrar”… daí as cinco derrotas consecutivas. Marconi Perillo derrotou diretamente os dois principais líderes do MDB em Goiás — Iris Rezende, três vezes, e Maguito Vilela, uma vez. Deveria ser um alerta, mas não tem sido, de que não conseguem interpretá-lo e, por isso, combatê-lo.