Não é justo esquecer que Marconi Perillo contribuiu para melhorar a vida dos goianos

22 setembro 2018 às 11h43

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Avaliado pela média, e não pelos extremos, pode-se sugerir que o político tucano merece uma vaga no Senado? A decisão é do eleitor

Os indivíduos devem ser avaliados pela média ou pelos extremos?
Homens extremos, como Stálin e Hitler, devem ser avaliados pelos extremos: representam pontos comuns em que a história retroage. O filósofo britânico John Gray frisa que, baseado em noções do Cristianismo, do Iluminismo e do Positivismo, o marxismo ampliou a tese de que o progresso é inexorável. O mundo caminharia assim, seguindo a teoria dos modos de produção: comunitário, escravismo, feudalismo, capitalismo, socialismo e, finalmente, comunismo (seria a retomada do modo de produção comunitário, mas com excedentes para distribuição coletiva).
A ideia de progresso contínuo, linear é retirada do positivismo. A ideia de sociedade de iguais e do paraíso — o comunismo — é filha do Cristianismo. Uma ideia tão bela quanto utópica. O Iluminismo emprestou ao marxismo a crítica corrosiva à sociedade, reforçando a ideia de igualité, fraternité e liberté. A conclusão “fusion” é esta: a sociedade perfeita, portanto o indivíduo perfeito, é possível.
O que resta provado — John Gray e Isaiah Berlin escreveram a respeito — é que a história, por vezes, retrocede. O stalinismo e o nazismo, longe de serem progressistas, eram movimentos políticos — sistemas, quiçá — regressivos. Tornaram os homens mais destrutivos do que construtivos e não recriaram o mundo paradisíaco. Ao contrário, criaram mundos violentos, nos quais os fins não justificaram os menos; antes, os meios corromperam os fins. Stálin e Hitler sacrificaram a democracia — a liberdade — e não criaram a “sociedade de iguais”. A sociedade, digamos, da plenitude.
Democratas, como Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e Charles de Gaulle, devem ser avaliados pela “média”. Ora, se foram homens do poder, não deveriam ser avaliados pelos extremos? Não. Porque, ao contrário de Hitler e Stálin, governaram “limitados” pelas instituições — com Judiciário e Legislativo independentes. Acrescente-se que uma Imprensa crítica jamais deixou de existir durante suas gestões.
Churchill, na Inglaterra, Roosevelt, nos Estados Unidos, e De Gaulle, na França, não foram políticos-estadistas extremistas e, portanto, governaram segundo princípios democráticos. Por isso devem ser avaliados pela média. Porque, pela média, foram políticos excepcionais — possivelmente os três maiores do século 20. A democracia atual, convém não esquecer, deriva, em larga escala, da luta desses três homens. Por uma questão de justiça histórica, é preciso admitir que, apesar de ser um ditador — teria mandado matar de 25 milhões a 30 milhões de soviéticos —, Stálin também contribuiu para a vitória dos Aliados, quer dizer, da democracia.
Marconi Perillo
Mudando o foco para Goiás, observa-se que, no momento, para fins eleitorais, tenta-se “demonizar” o ex-governador de Goiás Marconi Perillo — candidato a senador pelo PSDB. Avaliado pela média, com relativo distanciamento histórico — o que, de tão acirrada, a disputa política atual não permite —, o que se pode dizer do tucano de 55 anos é que se trata de um grande político. Destruir a imagem dos que constroem (leia adiante a respeito do que fez), com fins eleitorais imediatos, é danoso para o Estado e para o país. Quem escreve isto logo é chamado de “governista” e “marconista”. Mas o julgamento da história — o mesmo que sugere que Henrique Santillo e Iris Rezende, se avaliados pela média, devem ser ressaltados como modernizadores respeitáveis — certamente vai concluir que Marconi Perillo contribuiu e contribui para o crescimento e o desenvolvimento de Goiás.
O PSDB é, como seu nome indica, um partido socialdemocrata, mas há, entre seus integrantes, políticos que se aproximam das ideias liberais ortodoxas, postulando que unicamente a mão do mercado, e não também a mão do Estado, deve conduzir a sociedade, a economia. A vida real não funciona assim. Apesar das crises provocadas por determinados gestores, o Estado tem a função de representar a sociedade, com suas contradições e diversidades, e o mercado representa a si mesmo. Marconi Perillo alinha-se entre os desenvolvimentistas que trabalham tanto pelo crescimento da economia quanto pela distribuição de seus benefícios.
Não se escreverá a seguir sobre pavimentação asfáltica — os governos de Marconi Perillo foram decisivos para ampliar e reformar a malha rodoviária de Goiás, o que contribuiu, diretamente, para o crescimento da economia — e edifícios. Não se dará prioridade às obras físicas, ainda que algumas possam ser lembradas, mas não pelas construções físicas em si.
Saúde
Comecemos pela saúde. Em 1998, setores do MDB foram considerados responsáveis pelo escândalo conhecido como Caso Caixego. Desviaram milhões de reais do banco liquidado para fins aparentemente político-eleitorais. Dada a intervenção do Ministério Público e da Justiça, devolveram cerca de 5 milhões de reais ao Erário. Com o dinheiro, no lugar que um governo emedebista havia repassado para uma associação particular transformar em estacionamento, Marconi Perillo, no seu primeiro governo, construiu o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer). “É reconhecido como CER IV (Centro Especializado em Reabilitação) pelo Ministério da Saúde, e acreditado com excelência pela Organização Nacional da Acreditação (ONA). Atua na reabilitação das pessoas com deficiência física, auditiva, visual e intelectual. Hoje a unidade tem 33.275 metros quadrados de área construída e realiza, em média, 1.600 atendimentos por dia.” O Ministério da Saúde, na gestão de um dos governos do PT, chegou a recomendá-lo como modelo para outros hospitais do país.
Marconi Perillo é responsável pela construção do Hugol, em Goiânia, do Huapa, em Aparecida de Goiânia, e do Huana, em Anápolis. Há problemas nos hospitais de urgência? Há. Nada é perfeito. Mas, no campo da saúde, houve mudanças substanciais, o que é reconhecido pelos usuários do sistema (é preciso relembrar que o Hospital Geral de Goiânia, HGG, esteve fechado por longos anos; Marconi Perillo reabriu-o e o reformou inteiramente, tornando-o mais eficiente e qualitativo). Em períodos eleitorais, os problemas são ampliados para efeito de crítica política. Mas as organizações sociais contribuíram para melhorar a qualidade do atendimento aos pacientes, mas são criticadas de maneira mais política — às vezes, ideologizada — do que técnica. O sistema de saúde funcionaria melhor se as prefeituras, como a de Goiânia, atendessem de maneira eficaz nos cais — o que não faz.
Educação
Na educação, houve avanços significativos — o que, num país conflagrado e que avalia tudo pelos extremos, não é percebido na sua magnitude. Ao assumir o governo, em 1999, Marconi Perillo e sua secretária da Educação, Raquel Teixeira, perceberam que parte significativa dos professores da rede estadual não tinha curso superior. Num investimento expressivo no indivíduo, o governo levou os mestres à universidade e hoje todos têm curso superior. Avanço feito, avanço esquecido? Mas, insista-se, está feito.
O governo de São Paulo, com o apoio de professores brasileiros e franceses, construiu a USP, no início da década de 1930. Oitenta e cinco depois, a Universidade de São Paulo, apontada como a melhor do país e com renome internacional, está consolidada. No momento em que o governo de Fernando Henrique Cardoso incentivava o ensino privado, com o objetivo de ampliar o acesso à educação superior e reduzir os custos da universidade pública, Marconi Perillo, como governador, fez um percurso inverso, de matiz desenvolvimentista, e criou a Universidade Estadual de Goiás. Há problemas? Há, como em qualquer lugar, inclusive na USP e na Unicamp. Mas a UEG está criada, funciona e é um centro de excelência universitária, com quadro de professores de primeira linha. Antes, havia faculdades isoladas e o jovem tucano teve a ousadia de uni-las e criar uma universidade. Mais uma vez, trata-se de investimento no indivíduo — na sua formação e qualificação. Avanço feito, avanço esquecido? Frise-se: está feito — tornando-se um patrimônio dos goianos-brasileiros.
Bolsa Universitária
Políticos liberais são críticos contundentes dos programas sociais, como o Renda Cidadã, matriz do Bolsa Família — como o próprio Lula da Silva admitiu —, mas não deixam de mencionar como altamente meritório a Bolsa Universitária, porque, tendo porta de entrada, tem porta de saída. Milhares de estudantes se formaram graças à bolsa concedida pelo governo de Goiás e integraram-se ao mercado, à sociedade. O programa beneficia os estudantes pobres. Trata-se, mais de uma vez, de ação que beneficia o indivíduo e contribui para seu crescimento cultural e profissional. Criação de Marconi Perillo, a Bolsa Universitária não tem dono, é claro. É um programa de Estado e, por certo, qualquer que for o próximo governador — Ronaldo Caiado, do DEM, José Eliton, do PSDB, Daniel Vilela, do PMDB, ou Kátia Maria, do PT —, será mantido. A “autoria” foi esquecida? É possível.
Vapt-Vupt e Oscar Niemeyer
O Vapt Vutp, ao se tornar um patrimônio público, não tem dono — o que é o certo. Mas os serviços públicos de Goiás melhoraram, em larga escala, porque Marconi Perillo, com o apoio do economista Giuseppe Vecci, um dos secretários mais criativos das gestões tucanas, criou o Vapt-Vupt. É possível esquecer o avanço? Quem usa seus serviços pode até olvidar quem os criou, mas não esquece de reconhecer sua qualidade.
Incrustada no planalto central, Brasília, capital do país, se tornou uma cidade relativamente turística por causa de sua inventiva arquitetura, uma criação do arquiteto Oscar Niemeyer (o projeto global de Brasília muito ao arquiteto Lucio Costa). Em Goiás, numa de suas últimas obras, Niemeyer criou, a pedido de Marconi Perillo, o Centro Cultural Oscar Niemeyer. As edificações se tornaram uma referência turística e quem visita Brasília para conhecer a arte do arquiteto-símbolo do país acaba visitando Goiânia para ver o centro cultural. Mas sua importância não está apenas na arquitetura. O Palácio da Música já foi palco para várias apresentações — da música popular (Caetano Veloso) à erudita (Nelson Freire). O Museu já exibiu mostras de pinturas de vários artistas. O lugar é usado também para debates intelectuais.
Servidor público
O funcionalismo público, depois de anos tratado de maneira indigna, recebendo os salários com atraso — o 13º era pago quando dava, às vezes a partir de março do ano seguinte —, passou, nas gestões de Marconi Perillo, a ser respeitado. O salário não mais atrasou e o 13º passou a ser pago no mês do aniversário do servidor. Antes, os funcionários públicos eram vistos com desconfiança pelas empresas e lojas, porque sempre pagavam suas contas com atraso. Eles não sabiam se podiam assumir compromissos. Ao longo de 20 anos, os salários melhoraram. Entretanto, como em 20 anos praticamente se constituiu uma nova geração e novas demandas apareceram, a valorização anterior, que às vezes sacrificou o Estado e a sociedade, acaba sendo esquecida. Mas desconhecer o avanço é ignorar, por falta de informação ou má-fé — quiçáideologização política —, que alguém pôs o dedo na história e valorizou, durante anos, os servidores públicos de Goiás.
Player no Senado
Há muito mais a mencionar — como a estação de tratamento de esgoto do Rio Meia Ponte, o alto investimento em saneamento básico, as escolas dirigidas por civis e militares (uma espécie de organização social que funciona tão bem que as populações do interior se unem para conquistá-la para suas cidades), os gerentes setoriais, os milhares de quilômetros pavimentados e/ou recuperados —, mas optamos por arrolar alguns avanços que, ao se tornarem conquistas coletivas, o que é correto, perderam, digamos assim, autoria. Seu autor, Marconi Perillo, avaliado pelos extremos e não pela média, às vezes é criticado de maneira excessiva. A crítica é saudável, pois ilumina o mundo, mas precisa ser justa — contando a história completa do indivíduo.
Se eleito senador, dada sua experiência como deputado federal, governador e senador, Marconi Perillo não chegará a Brasília como integrante do baixo clero. Chegará como um player nacional — responsável, consequente. O que se disse acima não tem o objetivo de desmerecer os demais candidatos a senador — como a experimentada senadora Lúcia Vânia (PSB), o empresário Vanderlan Cardoso (PP), o deputado estadual Luis Cesar Bueno (PT), o vereador Jorge Kajuru PRP), o empresário Agenor Mariano (MDB) e a Professora Geli (PT). A intenção é mostrar as qualidades de um político e gestor acima da média. É preciso avaliá-lo pelo que fez em Goiás e não pela crítica contundente, nem sempre justa, de alguns adversários. A politização excessiva do debate, potencializada pelo discurso do ódio, não raro impede que um político seja avaliado pela média. Avaliar um político apenas por possíveis defeitos, sem a apresentação das qualidades, é a maneira de não conhecê-lo com precisão.