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Iris Rezende, Vanderlan Cardoso, Jayme Rincón, Adriana Accorsi, Waldir Soares. Um deles pode ser eleito prefeito de Goiânia, mas devem perceber que o eleitorado quer um projeto mais arrojado e crível para capital

A frase “o futuro nem a Deus pertence” é atribuída a um padre anônimo — católico devotadíssimo, mas cultor de aforismos, na linha do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. O mineiríssimo Tancredo Neves costumava sugerir aos seus aliados que, “em política, não existe cedo — só tarde”. Mesmo considerando que o futuro é uma incógnita — não há como prevê-lo (o planejamento é uma aproximação, uma tentativa de torná-lo mais eficaz) —, os políticos trabalham intensamente, mais nos bastidores do que nas páginas dos jornais, na articulação de seus projetos políticos-eleitorais. A eleição para prefeito de Goiânia — que será realizada daqui a um ano, três meses e 16 dias, ou daqui a 15 meses e 16 dias — levou vários políticos a colocarem seus times em campo.

A Prefeitura de Goiânia é praticamente um Estado, com uma arrecadação superior a 200 milhões de reais por mês e a cidade tem quase 1 milhão de eleitores, e por isso tende a fortalecer líderes políticos tanto locais quanto regionais. Portanto, joga-se 2016, mas também 2018.

Iris Rezende, o favorito

Reprodução
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Comecemos por Iris Rezende, do PMDB. Segundo as pesquisas de intenção de voto, é o favorito.

O que surpreende, no momento, é que Iris Rezende, embora seja um ícone da política de Goiânia, não consegue superar a casa dos 40% das intenções de voto. Fica com índices entre 30% e 35%. Os motivos? Pode parecer preconceito do eleitorado, mas pesquisas qualitativas sugerem que o peemedebista-chefe, que terá 83 anos em 2016, é avaliado como “muito velho” para administrar uma cidade de grande porte como Goiânia. Outra explicação é que, se candidato, não permitirá a renovação de seu partido. Uma vitória sua, por exemplo, não é equivalente a uma vitória do PMDB, pois não haveria renovação de quadros políticos para embates futuros. Cada vez que Iris Rezende disputa, sacrificando nomes novos, o PMDB deixa de fortalecer seus políticos mais jovens, como Daniel Vilela, Agenor Mariano, Júnior Friboi e Bruno Peixoto.

Há outro ponto referente a uma eleição um pouco mais distante, a de 2018. Uma possível vitória de Iris Rezende para prefeito de Goiânia fortalece seu grupo político e terá influência decisiva no próximo pleito para governador. O peemedebista, se eleito, por certo bancará a candidatura do senador Ronaldo Caiado para o governo de Goiás. Se perder, Iris Rezende não conseguirá bancar o político do DEM para o governo.

No caso de derrota de Iris Rezende, e se o prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, conseguir fazer o sucessor — Euler Morais ou Gustavo Mendanha —, o candidato do PMDB a governador não será, evidentemente, Ronaldo Caiado, e sim o deputado federal Daniel Vilela ou o empresário Júnior Friboi. Se Friboi for o candidato, Maguito deverá disputar mandato de senador; se o candidato a governador for Daniel Vilela, Friboi deve disputar uma vaga no Senado.

A eleição de Goiânia “mexe”, portanto, com o xadrez de 2018. Mas não apenas no PMDB.

Vanderlan, no 2º turno

Foto: Fernando Leite
Foto: Fernando Leite

Se Vanderlan Cardoso (PSB) for para o segundo turno contra Iris Rezende — nenhum pesquisador avalia que Iris, se for mesmo candidato, ficará fora da disputa —, a tendência é que seja apoiado pelo grupo do governador Marconi Perillo. Por dois motivos. Primeiro, Iris Rezende se apresenta, mesmo com forças reduzidas, como adversário político e, até, inimigo pessoal do tucano-chefe. Segundo, se Iris perder, um dos principais adversários políticos do líder do PSDB, Ronaldo Caiado, ficará sem base política e financeira sólida.

Se apoiado por Marconi Perillo, ainda que apenas no segundo turno, Vanderlan possivelmente não embarcará na campanha de Ronaldo Caiado ou de Júnior Friboi em 2018.

Rincón, o gestor

Foto: Fernando Leite
Foto: Fernando Leite

Porém, obviamente, há o primeiro turno, e Marconi Perillo vai bancar um candidato a prefeito. Pode ser Jayme Rincón (PSDB), o preferido do governador e de sua base política. As resistências são mais pontuais do que estruturais. Apontado como gestor eficiente e um articulador político hábil, Jayme Rincón decerto conseguirá convencer a base do governador a apoiá-lo. Seu perfil casa com aquele que Goiânia vem cobrando — o de um gestor competente e rápido na resolução dos problemas.

No caso de vitória de Jayme Rincón — que poderá ser apresentado como “o novo combinado com experiência administrativa” (faz um trabalho irretocável na presidência da Agetop; mesmo oposicionistas ressaltam seus acertos, como a ampla recuperação da malha viária) —, o quadro para 2018, na base marconista, se altera? Talvez sim. Talvez não.

Depois de eleito quatro vezes para governador, e planejando um salto qualitativo na política nacional — como candidato a presidente ou vice-presidente da República —, Marconi Perillo é o político goiano mais cacifado. Tanto que, se candidato a senador, em 2018, será visto como hors concours. Uma vaga tende a ser sua. Noutras palavras, só uma vaga estará em discussão, especialmente se seu governo der certo. O que se quer dizer é que o tucano-chefe é muito forte em termos políticos-eleitorais. Se fizer o prefeito de Goiânia, e se o eleito for de sua chamada “cota pessoal”, como Jayme Rincón, ele estará ainda mais forte para bancar seu sucessor, que tanto poderá o vice-governador José Eliton (PP) — que já está montando uma estrutura pensando na disputa de 2018 — quanto Giuseppe Vecci, do PSDB, quanto Thiago Peixoto, do PSD. Mesmo se assumir o governo, José Eliton precisará do apoio ostensivo do principal líder tucano.

Problema Waldir Soares

Foto: Fernando Leite
Foto: Fernando Leite

Há no PSDB um problema chamado deputado federal-delegado Waldir Soares. Trata-se de um outsider, uma espécie de “Daniel Antônio das algemas”. Noutras palavras, por ter sido eleito pelos próprios esforços — depois de criar uma relação umbilical com o eleitorado; talvez seja possível sugerir que se trata de um caso raro de político que “criou” seu eleitorado —, Waldir, embora filiado a um partido, não depende dos demais políticos, como Marconi Perillo.

O eleitorado “de” Waldir Soares, suficiente para bancá-lo a deputado federal, seria suficiente para elegê-lo prefeito de Goiânia? Talvez sim, se ampliado. Talvez não, considerando que eleições proporcionais são muito diferentes de eleições majoritárias. Há um fato objetivo: se candidato, o deputado pode enfraquecer sobretudo o eleitorado de Iris Rezende. Waldir Soares é forte sobretudo na periferia de Goiânia e, se candidato, vai dividir votos com Iris Rezende. Seu grande desafio é se tornar palatável à classe média. Iris Rezende é forte entre os pobres e relativamente palatável à classe média.

Porém, se esvaziar o peemedebista-chefe em grande proporção, é possível que Waldir Soares contribua até para retirá-lo do segundo turno — favorecendo, provavelmente, tanto Vanderlan Cardoso, que pode ser visto como um Iris Rezende remoçado, quanto Jayme Rincón, apontado como o político que faz e desburocratiza.

Já o PSD pode bancar Virmondes Cruvinel ou Francisco Júnior.

A petista Adriana Accorsi

Foto: Fernando Leite
Foto: Fernando Leite



O PT tem três nomes consistentes para a disputa de Goiânia: Adriana Accorsi, a preferida do prefeito Paulo Garcia; Humberto Aidar, o delfim do grupo de Rubens Otoni e Antônio Gomide; e Edward Madureira, ex-reitor da Universidade Federal de Goiás e sempre mencionado como gestor de qualidade.

O problema de Edward Madureira é que, embora esteja filiado ao PT, o PT não está com ele. Por não ser integrante de nenhuma tendência do partido, Edward Madureira é visto com desconfiança pelos petistas — que o rejeitam como candidato para cargo executivo. O deputado Humberto Aidar o banca para prefeito de Goiânia, mas é uma voz isolada, não encontrando ressonância nem mesmo na tendência da qual faz parte, a PT Pra Vencer.

O deputado estadual Humberto Aidar, com forte apoio da Igreja Católica e político experimentado, é amplamente rejeitado pela tendência do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia. E, como se sabe, não há como ser candidato (pelo PT) na capital contrariando o prefeito.

A deputada estadual Adriana Accorsi é o nome mais sólido do PT na capital, porque tem o apoio do prefeito Paulo Garcia e porque, representante da área de segurança pública, é popular, tanto que foi eleita com uma votação expressiva em 2014. Sua dificuldade reside no fato de que o PT está em baixa tanto no país quanto em Goiânia. Porém, se o quadro melhorar e se expor um projeto para colaborar para tornar mais eficiente a segurança pública na capital, pondo a prefeitura como aliada da Secretaria de Segurança Pública, passa ser um nome eleitoralmente viável.

Como se disse no primeiro parágrafo deste Editorial, “o futuro nem a Deus pertence” e “em política não há cedo — só tarde”. Os dados estão sendo lançados. Deve ser eleito prefeito de Goiânia aquele que surpreender o eleitorado com um projeto consistente e crível (a credibilidade advém da consistência das ideias e projetos). Nada que seja mirabolante. Os melhores planos são simples e contribuem para resolver problemas complexos. Acrescente-se que o eleitorado da capital é cada vez mais independente e, como tal, costuma surpreender as visões tradicionais de se fazer política. Candidato apoiado pelo governador do Estado não se elege? Pode ser que, em 2016, o eleitor mude de ideia, surpreendendo o coro dos contentes e, até, dos descontentes. É bem possível que o eleitor esteja “cansado” de forças políticas e argumentos tradicionais.