Impeachment pode liquidar o governo de Dilma Rousseff e iniciar a recuperação da economia
09 abril 2016 às 13h44
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País não suporta mais erros da gestão da petista. Salvá-la, portanto, é salvar o PT, mas não o Brasil. O impeachment tornou-se uma questão de vida ou morte para a economia, para as empresas
Quando uma empresa “quebra” numa economia estável, com os níveis de consumo interna e externamente razoáveis e juros bancários não (ou menos) escorchantes, as raízes de sua crise devem ser buscadas necessariamente nos seus próprios problemas e desvios. A crise de uma empresa é sua crise — não é do mercado, não é da sociedade. Porém, quando há uma crise nacional, provocada por desastres mais da gestão pública do que dos empreendedores privados, a origem do fechamento de empresas ou de retração da produção não é endógena — é exógena. Ou, mais claramente, a responsabilidade é, no geral, das ações equivocadas do governo federal.
No momento, há uma crise econômica, de matiz interno — não se pode “culpar” unicamente problemas externos, como a redução do crescimento da China —, potencializada pela crise política. O governo da presidente Dilma Rousseff perdeu inteiramente o crédito da sociedade e do mercado. Investir alto no momento só para quem pode perder capital agora para ganhar adiante. Só empresas extremamente capitalizadas podem fazer isto e elas são poucas. As empresas de médio e pequeno porte em geral sucumbem às crises — por isso a quantidade de lojas fechadas nos shoppings. O setor varejista está quebrando e as indústrias estão reduzindo sua produção, portanto têm de demitir trabalhadores, pois têm menos postos onde colocar seus produtos. Os supermercados cada vez mais vazios resultam dos preços elevados.
Votorantim em Niquelândia
Mesmo empresas poderosas estão fechando parte de seus negócios. A Votorantim de Niquelândia fechou e demitiu quase 2 mil trabalhadores — o que abalou a economia do município, que vivia, em parte, da estrutura criada pela empresa produtora de níquel. A bilionária família Moraes não fechou a unidade goiana, como alguns pensam, por que não sabe administrar seus negócios. Na verdade, administra a Votorantim muito bem, mas, na falta de mercado para sua produção, não tem como manter o empreendimento aberto e dando prejuízo. Só governos têm o dever de investir a fundo perdido, apostando no social em tempo integral. Empresas privadas, se fizerem isto, se se descapitalizarem, quebram definitivamente. No caso do níquel há o problema externo — a Ásia, crescendo menos, está comprando menos. Mas há também o problema interno: a crise econômica gerada, em parte, pela crise política. Se um não investe, se outro reduz o investimento e mais um para de investir cria-se uma bola de neve — a crise espalha-se e contamina praticamente todos os setores.
Mitsubishi em Catalão
Em Catalão, além do setor de mineração, há a Mitsubishi, que, quando vai bem, é o maior empregador da cidade — gerando mais renda para o município e ampliando o crescimento (mais empresas). Entretanto, devido à recessão, a montadora não está conseguindo vender veículos (de origem japonesa) para as concessionárias e, estas, para os consumidores. O pátio da empresa assusta: lotado de carros. Recentemente, demitiu mais 250 operários. Mas havia feito, um pouco antes, demissão em massa. Os gestores da empresa querem desempregar? Não, querem vender seu produto e, para tanto, precisam empregar trabalhadores. Mas, sem vender, demite (ou, em alguns casos, dá férias coletivas) para não fechar as portas e não comprometer inteiramente sua margem de lucro (cada vez mais reduzida).
Na mesma Catalão, uma empresa que vende pneus para a Mitsubishi empregava mais de 200 trabalhadores e agora mantém apenas 17. A redução do quadro de funcionários visa manter a empresa viva — à espera de dias melhores.
Cecrisa em Anápolis
Na semana passada, Irapuan Costa Junior esteve na redação do Jornal Opção (é um de seus articulistas) e se disse “impressionado” com o fim das operações da Cecrisa — produtora de pisos e azulejos — em Anápolis. Quando governador de Goiás, na década de 1970, Irapuan Costa Júnior criou o Distrito Agroindustrial de Anápolis. “A Cecrisa instalou-se em 1978 — há 38 anos. O mínimo que se pode dizer é que uma empresa com quase meio século é séria, porque é muito difícil sobreviver no mercado brasileiro, frequentemente sujeito a planos econômicos equivocados e a gestores pirotécnicos”, disse o ex-governador e ex-senador.
O fechamento da Cecrisa levou ao desemprego de mais de 200 pessoas em Anápolis. São trabalhadores com relativa qualificação mas que, mesmo assim, terão dificuldade para voltar ao mercado. Há casos de operários que estão desempregados há mais de um ano — vivendo de bicos. A Cecrisa era mal administrada? Não era. Se fosse, não teria sobrevivido quase 40 anos. No Brasil, país de economia instável, sobreviver ao menos cinco anos na selvageria do mercado é considerado heroico por especialistas do maior gabarito.
Piquiras e shoppings
A imprensa não tem culpa pela crise das empresas e ela própria passa por dificuldades (tanto que é um dos setores que mais demitem no país). Mas, por vezes, lida de maneira sensacionalista e pouco perceptiva quando se trata de noticiar, com manchetes escandalosas, a crise das empresas. Fica-se com a impressão de que há uma torcida — típica do esquerdismo que o russo Lênin criticava como “doença infantil do comunismo” — para que as empresas quebrem. A recuperação judicial, que existe em outros países sob nomenclaturas diferentes, é uma artifício para manter as empresas vivas, empregando e gerando renda também para os governos. Uma empresa em crise é mais eficaz para o mercado do que uma empresa fechada.
Há algum tempo, o Piquiras — restaurante, empório e buffet —, que empregava 400 pessoas (mais do que a maioria das grandes fábricas brasileiras), entrou com processo de recuperação judicial. Entregou sua sede no Setor Marista ao Banco Santander — o mercado chegou a avaliá-la como valendo 7 milhões de reais, mas teria sido repassada à unidade financeira espanhola por 3 milhões de reais. A dívida total da empresa supera 17 milhões de reais. É muito difícil pagá-la, mas não é impossível. O Piquiras não é apenas um empreendimento comercial. É um símbolo de qualidade gerado pela economia de Goiânia — criada por um empreendedor que acertou mais do que errou. Não se pode culpar só os problemas nacionais, mas uma economia mais pujante poderia ajudá-lo a se recuperar mais rapidamente.
Em seguida, a Rápido Araguaia, longeva empresa gerida por Odilon Santos e sua família, pediu recuperação judicial. Pode-se falar que a crise no setor de transporte coletivo se arrasta há algum tempo — e ocorre em todo o Brasil —, mesmo antes do governo da presidente Dilma Rousseff, mas certamente foi agravada pelos equívocos da gestão petista. Do ponto de vista estrito da economia, avaliando que toda empresa precisa ter lucro — não se trata de entidade filantrópica, embora seja cobrada como tal —, senão não cresce e mal consegue se manter, a passagem de ônibus não é “muito” cara. Mas a questão é extremamente politizada — até ideologizada — e é difícil discuti-la com sobriedade.
Os shoppings de Goiânia pareciam verdadeiros oásis. Não são mais. O Passeio das Águas, por vezes, lembra ruas fantasmas de certos filmes de western. O Bougainville choca pelo número de lojas fechadas. O restaurante-empório Piquiras resiste, não se sabe até quando. Uma das lojas mais antigas e sólidas, Le Postiche, fechou as portas. Até o Flamboyant, o mais importante shopping da cidade, vive dias difíceis, com lojas fechadas e, coisa rara, alguma inadimplência. O Goiânia Shopping perdeu várias lojas — inclusive a Novo Mundo, uma das empresas mais sólidas do setor de eletrodomésticos. Luziano Martins, o patriarca da família e criador da empresa, disse ao ex-deputado Vilmar Rocha que, nos seus mais de 70 anos de idade, nunca viu uma crise como a atual. O presidente do PSD contemporizou: “Mas o país já passou por outras crises”. O empresário replicou: “Sim, mas havia expectativa de que seria possível sair do fundo do poço. Agora, não. Os empresários não sabem mais o que fazer”. Então, sem perspectivas, fecham as portas para não sacrificar um patrimônio construído ao longo de décadas. Não é o caso da Novo Mundo — frise-se —, que encolheu para manter-se no topo, investindo nas lojas mais lucrativas.
Impeachment de Dilma
Empresários, taxistas, dois garis (um deles fala impeachment corretamente; o outro diz: “o ‘impincha’ daquela mulher”, mas entendendo perfeitamente do que se trata) e cinco deputados federais disseram ao Jornal Opção que não há alternativa: ou Brasil acaba com o governo da presidente Dilma Rousseff, por meio do impeachment, ou o governo da petista acaba com o Brasil.
Mas o impeachment resolve tudo? Não, é claro. Até porque a crise espraiou-se por toda a sociedade — com escassas ilhas de prosperidade (o gigantismo do Estado patropi, pagando em dia seus funcionários, com salários acima dos ganhos dos empregados do mercado privado, camufla parte da crise). Mas convém lembrar que, noutra circunstância — com o PMDB mais “limpo” e sob a liderança de um político íntegro, Itamar Franco —, quando da queda do presidente Fernando Collor, o impeachment foi vital para a retomada do crescimento econômico e da estabilidade institucional. A saída de Fernando Collor permitiu a adoção do Plano Real, que controlou a inflação, estabilizou a moeda e possibilitou a retomada do crescimento da economia.
O que a sociedade está pedindo não é muita coisa. O que ela está dizendo é mais ou menos isto: “Tudo — menos o governo da presidente Dilma Rousseff”. A petista está no governo, mantém o controle do poder, mas não governa. É o que os agentes econômicos estão dizendo com todas as letras. Salvar seu governo, na Câmara dos Deputados e no Senado, é o mesmo que “matar” o Brasil. Custo Brasil? Nem se fala mais nisto. O que se fala é no “custo PT” e no “custo Dilma Rousseff”.
O país não suporta mais os erros do governo da presidente Dilma Rousseff. Salvá-la, insista-se, é salvar o PT, mas não o Brasil. O impeachment tornou-se uma questão de vida ou morte para a economia brasileira, para que se escape à paralisia geral, para que o governo volte a ter credibilidade e contribua para o crescimento da economia e para o desenvolvimento.