Eduardo Bolsonaro pode ser o coveiro do bolsonarismo e Caiado pode ser o renascimento da direita

15 fevereiro 2025 às 21h19

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Há políticos de valor no país. Por isso a imprensa, cada vez mais entretenimento e menos jornalismo, equivoca-se quando concentra seu noticiário no empresário Pablo Marçal, do PRTB, e no cantor Gusttavo Lima, sem partido.
Pablo Marçal e Gusttavo Lima se apresentam como pré-candidatos a presidente da República e a eleição está batendo à porta, ou seja, será realizada daqui a um ano e sete meses.
Para um país que já teve Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso como presidentes, entre 1930 e 2002, é lamentável que se perca tempo discutindo “políticos” que possivelmente não têm nenhuma noção de como governar uma das nações mais ricas e importantes do mundo.
A presença de Pablo Marçal e, sobretudo, Gusttavo Lima nas páginas principais dos jornais e revistas dizem respeito a uma crise política e, ao mesmo tempo, a uma crise jornalística. Não é, mas parece uma brincadeira de “crianças adultas”.
O jogo real, de políticos reais, passa ao largo de Gusttavo Lima e Pablo Marçal? Tudo indica que sim. Os dois, meio políticos, fazem parte do mise-en-scène dos tempos contemporâneos. Entretanto, a disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2024, ficou, no final, entre dois políticos reais, o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, e Guilherme Boulos, do Psol. Pablo Marçal, quase fake, ficou fora do processo, esquecido pelos eleitores.
Então, para 2026, vão ficar tão-somente os políticos reais? É a tendência. Repita-se: tendência; afinal, o futuro nem a Deus pertence e às vezes chega muito diferente das previsões de cientistas políticos e especuladores em geral. Os políticos-fakes vão ficando pelo caminho, depois da empolgação inicial. Um Gusttavo Lima, ao entrar no mundo real, o do jogo duro, terá “couro grosso” para aguentar a “pancadaria” dos adversários? Difícil, muito difícil, senão impossível.

Frise-se, de antemão: não se estará falando a seguir de Gusttavo Lima ou de Pablo Marçal. Mas de um político hipotético, Paulus Petrossaurion von Kokain.
Paulus von Kokain, bisneto de um político da Baviera, é cantor, coach e empresário. Nas horas vagas, cheira cocaína, talvez de maneira recreativa. Se for candidato a presidente da República, sua história com “madame branquinha” apareceria na mídia e na campanha? É possível.
O fato, ou quase-fato, é: Pablo Marçal e Gusttavo Lima são ótimos para sair na frente, ou quase na frente, e, quem sabe, excelentes para chegar em último ou penúltimo lugar (talvez sejam “guaios”: cavalos paraguaios ou boliguaios). Um profissional da política como Lula da Silva pode “devorar” os dois com relativa facilidade.
Jogo real: Jair Bolsonaro com Eduardo
O jogo real hoje é o seguinte: ninguém acredita que Jair Bolsonaro será candidato a presidente da República. Nem ele acredita. Mas permanecer no jogo — numa partida na qual nem será reserva quando os times entrarem em campo — é tanto uma maneira de fortalecê-lo, para não ser olvidado, quanto de robustecer o seu candidato.
O candidato de Jair Bolsonaro não será Michelle Bolsonaro, do PL, pois ele não a quer envolvida numa campanha pesada (e até sórdida), com o passado “retornando”, não como “tempo perdido”, ao modo de Proust, e sim como “condenação”. A ex-primeira-dama deve ser candidata a senadora, no Distrito Federal. É o quadro praticamente definido.
A amigos e aliados, aqueles que avalia como confiáveis — podem ser contados nos dedos —, Jair Bolsonaro tem sugerido que, como não será candidato, tende a bancar alguém de sua família, provavelmente o deputado federal Eduardo Bolsonaro, do PL.
Por que Eduardo Bolsonaro? Porque, em termos ideológicos, é o mais ligado a Jair Bolsonaro. Os dois são radicais de direita, até da extrema direita, e o filho é até mais extremista do que o pai.
Mais próximo da família do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Eduardo Bolsonaro tem estampa e carisma (ainda que seja menos articulado do que o senador Flávio Bolsonaro, o filho do ex-presidente que parece membro do Centrão).
O problema de Eduardo Bolsonaro é exatamente não saber articular. Então, se candidato, sua articulação precisará ser feita por Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, o presidente do PL, que é um realista absoluto. O senador Ciro Nogueira, do pP, na hipótese de ser vice, poderia ser o operador para atrair o centro político.
Porém, se “desconfia” de Jair Bolsonaro — adicto de putschs —, que é relativamente mais moderado, por que um centrista democrático como Ciro Nogueira iria compor com Eduardo Bolsonaro? No fundo, Ciro Nogueira e o deputado federal Arthur Lira — “futuro” ministro do governo de Lula da Silva — não querem compor com ninguém neste momento, a um ano e sete meses das eleições.
Realistas absolutos, Ciro Nogueira e Arthur Lira querem um quadro mais claro para, só então, se posicionarem. Se a esquerda melhorar o governo, sobretudo se continuar em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, ambos poderão caminhar com Lula da Silva.
A “ideologia” do Centrão — Ciro Nogueira e Arthur Lira — não tem a ver com ideias (comunismo ou capitalismo, direita ou esquerda), e sim com o poder, com a sobrevivência política a partir de se manter “dirigindo”, direta ou indiretamente, os governos.
Como seria descartável numa ditadura, o Centrão prefere a democracia — o que o caracteriza como um fator “positivo”.
Tarcísio: forte em São Paulo e risco no país
Nenhum político experimentado trabalha apenas com um ou dois jogos. O Centrão, habilmente, opera com três. Poderá apoiar Lula da Silva? Poderá, sobretudo se o governo ganhar uma cara mais Centrão e menos petista. Poderá apoiar o candidato de Jair Bolsonaro? Sim, desde que este candidato se mostre competitivo e, assim, tenha condições de derrotar o petista-chefe.
Mas há um terceiro jogo, com outros players, e o Centrão está de olho grande nas nuances. Trata-se da possibilidade de um candidato da direita democrática e civilizada se firmar na arena nacional.
A direita que não aprecia golpes de Estado tem nomes consolidados na política do país, uns menos e outros mais: Ronaldo Caiado, do União Brasil, Ratinho Júnior, do PSD, Romeu Zema, do Novo, e Tarcísio de Freitas, do Republicanos.
Tarcísio de Freitas teria dito, nos Estados Unidos, que já “está” quase aceitando a candidatura a presidente da República. A informação foi publicada na coluna de Lauro Jardim, em “O Globo”. Rapidamente, o governador de São Paulo contestou a informação. Mas o jornalista decidiu mantê-la.
É provável que Tarcísio de Freitas, se disse que poderá ser candidato a presidente, tenha tentado agradar Jair Bolsonaro (que, no caso de Freitas aceitar a candidatura presidencial, poderá bancar Eduardo Bolsonaro para governador de São Paulo).
Gilberto Kassab é mais do que secretário de Tarcísio de Freitas. É a eminência parda, em termos de “gerência” política, da gestão paulista (é o operador). O poderoso chefão do PSD nacional disse que não permitirá que o governador repita João Doria, que deixou o governo de São Paulo para disputar a Presidência e se deu mal.
Qual é a verdade? A rigor, ninguém está mentindo. Não se trata disso. Todos estão jogando. Se a imagem de Lula da Silva, um profissional da política, piorar, de maneira incontornável, Tarcísio de Freitas poderá aceitar a pressão do bolsonarismo e disputar a Presidência. Se o petista-chefe estabilizar sua imagem, melhorando-a e conquistando parte substancial do Centrão, o membro do Republicanos certamente disputará a reeleição em São Paulo.
O fato é que, no imaginário coletivo, ninguém acredita que Tarcísio de Freitas será candidato a presidente. Até por ser mais racional disputar o governo de São Paulo… ele não tem nem adversários à altura.
Bolsonarismo poderá compor com Caiado?
Então, à direita moderada e democrática restam três alternativas reais: Ronaldo Caiado (cujos números nas pesquisas vêm melhorando), Ratinho Júnior e Romeu Zema. O governador do Paraná é forte no Sul, notadamente no seu Estado, mas não se tornou uma presença nacional, assim como o mineiro Romeu Zema. Ronaldo Caiado, dos três, é o único que aparece em todo o país e se coloca como pré-candidato a presidente, fato que é reconhecido pela imprensa, que o entrevista a respeito com frequência.
O bolsonarismo, se não tiver Tarcísio de Freitas ou Eduardo Bolsonaro, poderá apoiar um candidato como Ronaldo Caiado? É possível que Jair Bolsonaro pode ter maior peso político se apoiar um candidato que guarde certa independência em relação ao seu grupo.
Por mais que Jair Bolsonaro seja forte — de fato, é, assim como Lula da Silva —, talvez não o seja para emplacar qualquer um, como Eduardo Bolsonaro. Se apoiar um candidato que guarde certa independência — que seja de direita, mas não bolsonarista — poderá contribuir para sua vitória.
Em suma, Jair Bolsonaro poderá ser “cabo” eleitoral de Eduardo Bolsonaro e “general” eleitoral de Ronaldo Caiado. Quer dizer, poderá ter mais peso político se apoiar o governador de Goiás do que se apoiar seu filho. Os eleitores brasileiros certamente preferem a República à Monarquia.
Ronaldo Caiado (ou Tarcísio de Freitas) poderá representar o “renascimento” da direita no Brasil. Não um renascimento de uma direita qualquer, e sim a democrática, não golpista e civilizada.