Cargo de governador exige pragmatismo de Ronaldo Caiado

13 dezembro 2020 às 00h00

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Chefe do Executivo goiano mostra que aprendeu as lições que ocupar o cargo deixam na hora de dialogar com prefeitos eleitos na base e da oposição

Foi-se o tempo em que Ronaldo Caiado (DEM), com a experiência de parlamentar de cinco mandatos como deputado federal e um de senador, reclamava dos avanços do então governador Marconi Perillo (PSDB) pelo avanço do tucano sobre as bases de seu partido no interior após as eleições municipais. Aquele discurso era coerente com o de um congressista e presidente estadual do DEM que atuava na oposição. Nada mais coerente do que se opor à tomada de prefeituras das mãos da sigla pelo chefe do Executivo estadual.
Em 2020, Caiado se viu em uma posição diferente, o que também exige uma postura completamente oposta àquela adotada quando era deputado federal e depois senador, entre os anos de 2011 e 2018. Os inquilinos do Palácio das Esmeraldas precisam ser mais pragmáticos. Sabem que conquistar bases de apoio em todo o Estado, principalmente em regiões estratégicas, são peças fundamentais para construir o projeto da reeleição nas próximas eleições para governador.
Mas a construção da rede de prefeitos eleitos que apoiam o governo estadual vai muito além de conquista de território favorável na hora da campanha. Ajuda a governar. Mesmo que um prefeito não aceite caminhar ao lado do mandatário à frente do Estado, as negociações institucionais precisam estar sempre abertas. As conversas e reuniões necessitam continuidade e frequência. É por isso que o governador Ronaldo Caiado se mostra acertadamente pragmático ao abrir as portas de seu gabinete no décimo andar do Palácio Pedro Ludovico Teixeira desde o primeiro dia após a votação de 15 de novembro para receber os candidatos que venceram as eleições para prefeito em cada um dos 246 municípios goianos.
Do lado do governador, abre-se a garantia de um bom relacionamento entre chefes de Executivos na hora de negociar obras, acordar parcerias e definir a aplicação de recursos nas principais necessidades de cada município. Aos prefeitos fica a garantia de um guarda-chuva que só o governo estadual pode garantir. Ainda com a confirmação, ao menos até o momento, de que o auxílio emergencial de R$ 300 será encerrado a partir do dia 1º de janeiro, justamente quando assumem os 246 prefeitos eleitos em Goiás nos dias 15 e 29 de novembro.
Necessidades dos goianos
Os desafios políticos eleitorais não são, nem de longe, mais importantes do que a necessidade dos moradores de cada cidade do Estado. E é por isso que o governador precisa manter as conversações com cada um dos prefeitos que se dispor a ir ao Palácio antes de assumir a chefia de seu município. A boa relação atrai, obviamente, diversos prefeitos para o partido do governador que está no poder ou a legendas de seu entorno. É um movimento natural. Candidatos que foram eleitos na oposição podem rapidamente figurar na situação meses depois de empossados em seus municípios. A troca é mais do que esperada no período pós-eleitoral. Demonstra a força gravitacional do poder, independente de quem seja seu ocupante.
Por mais que um presidente de partido oposicionista tenha a oferecer o fortalecimento de um grupo para a formação de chapas de deputados estaduais e federais para 2022 ou na hora de buscar a reeleição em 2026, o Executivo estadual atrai a segurança de uma boa gestão que uma sigla desconectada do governo não pode garantir. Com a reeleição de Roberto Naves (PP) em Anápolis no segundo turno, o grupo caiadista encerrará 2020 com 133 prefeitos eleitos. A expectativa do governador é ter, já em 2021, aproximadamente 160 chefes de Executivos municipais goianos ao seu lado. Não é uma meta impossível de imaginar que Caiado consiga alcançar.
Somente o DEM elegeu 62 prefeitos no Estado. Somados às cidades conquistadas por Cidadania, PDT, Podemos, Progressistas, PSC, PTB, o grupo caiadista passará a controlar no ano que vem municípios que totalizam 40,62% do eleitorado goiano. É uma bela carta na manga para quem entra em uma reunião com prefeitos que ainda estão na dúvida sobre qual caminho seguir, se o da oposição ou o da base situacionista.
Um caso emblemático é o do prefeito reeleito em Valparaíso de Goiás, Pábio Mossoró, do MDB. Com 51,4% dos votos, o gestor da cidade do Entorno do Distrito Federal derrotou a deputada estadual Lêda Borges (PSDB), opositora ao governo Caiado na Assembleia Legislativa. Vitória do governador, muitos podem dizer? Sim. Mas também uma conquista da oposição. O emedebista Pábio Mossoró recebeu apoio do presidente estadual de seu partido, o ex-deputado federal Daniel Vilela (MDB). Uniu os adversários em 2018 Caiado e Daniel na busca pela reeleição em Valparaíso. Mais do que isso. Tem agora o caminho aberto para escolher se caminhará ao lado da oposição ou da situação caiadista no segundo mandato.
Peça fundamental
O caso de Valparaíso é importante no jogo para 2022 porque o MDB, principal partido de oposição no Estado, elegeu 30 prefeitos. Numericamente é menos da metade dos chefes de Executivos eleitos pelo DEM. Mas em votos, duas das prefeituras conquistadas por emedebistas são fundamentais: Goiânia e Aparecida de Goiânia. Na capital, o ex-governador Maguito Vilela derrotou o candidato apoiado por Caiado, o senador Vanderlan Cardoso (PSD). Na vizinha Aparecida, Gustavo Mendanha foi reeleito com 95,81% dos votos válidos, a maior votação proporcional do Brasil onde o candidato tinha adversário. As duas cidades garantem para o MDB a gestão de 34,94% do eleitorado do Estado.
Quando o MDB se junta a PSDB e PT, outros dois partidos de oposição à gestão Ronaldo Caiado, o eleitorado das cidades que serão administradas por prefeitos das quatro siglas chega a 41,03% de Goiás. A conta incomoda qualquer governante que tem no horizonte a disputa pela reeleição em menos de dois anos. PSDB comandará 20 prefeituras e o PT três. Os dois partidos vivem um momento de desidratação no Estado, mas unidos ao MDB podem incomodar Caiado em 2022. É por isso mesmo que o pragmatismo de Ronaldo Caiado governador tem várias lições a ensinar àquele Ronaldo Caiado parlamentar de oposição.
O Caiado deputado federal e senador deixou ao Caiado governador o aprendizado de como formar alianças e buscar os votos a cada eleição. Mas o principal ensinamento vem do Caiado governador ao Caiado congressista: a política exige que seus atos sejam práticos.