Caiado e Daniel operam, com Mendanha e Wilder, um grupo forte para enfraquecer oposição em 2026

07 maio 2023 às 00h00


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O verdadeiro político, aquele que sobrevive a várias disputas, portanto não é sazonal, quando termina uma eleição, olha pouco para trás — evitando comemorações excessivas e tripudiar dos adversários. Pelo contrário, começa, de imediato, a olhar para o futuro, que, como se sabe, não existe no futuro, porque é uma construção que se faz no presente.
Ronaldo Caiado foi eleito governador de Goiás, pela primeira vez, em 2018. Ganhou no primeiro turno, numa vitória maiúscula, considerando que derrotou o candidato do PSDB, o então governador José Eliton (que ficou em terceiro lugar), e o candidato do MDB, Daniel Vilela (o segundo colocado).
No poder, entre 2019 e 2022, Ronaldo Caiado operou em várias frentes, com destaque para três. Primeiro, ajustou as contas do Estado. Segundo, colocou o governo a serviço do crescimento econômico e do desenvolvimento (a distribuição dos dividendos do crescimento — o que é, em regra, muito difícil). Terceiro, procedeu a uma ampla rearticulação de suas forças políticas. Tratemos só de uma frente — a política.

Chegou-se a pensar, num primeiro momento, que Ronaldo Caiado, dadas suas posições resolutas, entraria em choques com alguns grupos políticos, inclusive aliados.
Entretanto, Ronaldo Caiado revelou-se agregador tanto no plano nacional — chegou a tolerar a “bocolândia” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por realismo — quanto no plano local.
Ajustado o Estado — as pessoas dizem assim: “Não deixou a peteca cair” —, Ronaldo Caiado não deixou de lado a articulação política, ou seja, deu uma mirada forte para o futuro.
Reeleições são difíceis, sobretudo se as oposições estão organizadas e articuladas. Ronaldo Caiado parece ter observado com extremo cuidado, talvez com o auxílio de pesquisas quantitativas e qualitativas, as “reacomodações” do quadro político.
O governador já estava próximo de Iris Rezende, mas percebeu que era decisivo, para ter uma reeleição menos intranquila, aproximar-se de Daniel Vilela, o presidente estadual do MDB.
Daniel Vilela e Ronaldo Caiado conversaram, trocaram ideias sobre o governo, e, rapidamente, o governador o convidou para ser seu vice em 2022.

Sem Daniel Vilela, as oposições ficaram sem um nome consistente para a disputa em 2022. E mais: ao lado da situação, o jovem emedebista fortaleceu o grupo de Ronaldo Caiado.
Então, ao se fortalecer, com Daniel Vilela na vice, Ronaldo Caiado contribuiu para enfraquecer as oposições. Pode-se dizer que sua articulação, feita bem cedo, foi uma tacada de mestre.
Marconi Perillo e Vanderlan Cardoso
Em 2026, as oposições estarão há oito anos fora do poder. Estarão fortes? Estarão fragilizadas? Sobretudo, quem fará oposição eleitoral ao grupo de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela? Ainda não se sabe direito.
Marconi Perillo (PSDB) tem dito a aliados que irá disputar o governo de Goiás em 2026. É possível? É. Será forte? Não se sabe. Talvez seja recomendável que dispute mandato de deputado federal, com a finalidade de voltar ao centro do debate público, e dispute mandato de governador em 2030, quando terá 67 anos. Em 2030, doze anos depois de ter deixado o governo, os eleitores ainda continuarão discutindo seus problemas? É provável que não, principalmente porque terão mais cristalizados na memória os prováveis doze anos do grupo Ronaldo Caiado-Daniel Vilela.
Com quem Marconi Perillo irá para a disputa de 2026? Não se sabe.
Vanderlan Cardoso (PSD), se eleito prefeito de Goiânia em 2024, não irá para a disputa do governo. Porém, se perder, terá dificuldade inclusive na sua tentativa de se reeleger senador. É provável que o senador e Marconi Perillo caminhem juntos em 2026, até para se ampararem, ante um possível isolamento generalizado.


Wilder Morais e o bolsonarismo
A incógnita é o empresário Wilder Morais. Ele foi eleito senador em 2022 graças ao bolsonarismo ou aos seus próprios méritos (como dinheiro)? As duas cousas, possivelmente.
O fato é que, tendo sido carregado nos ombros ou não pelo bolsonarismo, Wilder Morais é senador e está no jogo. No momento, opera no interior, de maneira orgânica, para conseguir conquistar o maior número de candidatos a vereador e prefeito para a disputa de 2024.
Por não ser nenhum néscio, Wilder Morais sabe que, para disputar o governo, não basta ter muito dinheiro — do partido ou da própria conta bancária. É crucial ter bases políticas sólidas em todos os 246 municípios de Goiás. Se não tiver, quem fará sua campanha num Estado grande como Goiás (maior que Cuba, Portugal e Israel juntos)?
Aquele que não conseguir montar um exército eleitoral nos 246 municípios — basta ver o fracasso de Gustavo Mendanha, em 2022 — corre o risco de uma derrota acachapante. A disputa para governador é muito diferente da disputa para senador. Wilder Morais, assim como Vanderlan Cardoso — que perdeu duas eleições para o governo —, sabe disso. Por isso, está, desde já, tentando montar uma base político-eleitoral no Estado, o que não será nada fácil. Porque, dependendo de suas decisões a respeito de alianças, o aliado de hoje, no interior e na capital, pode migrar para as bases do governo amanhã.
O que se está dizendo é o seguinte: prefeitos só irão para a base de Wilder Morais, de maneira consistente, se ele estiver na base do governador Ronaldo Caiado. Se não estiver, podem até se aproximarem do senador — dadas suas emendas —, mas dificilmente o acompanharão num projeto eleitoral em 2026.
Wilder Morais e Ronaldo Caiado são amigos e o senador não quer fazer oposição ao governador. Pelo contrário, caminha para anunciar seu apoio ao governo.
Porém, o que Wilder Morais fará, em 2026, se Ronaldo Caiado e Jair Bolsonaro (que caminha para se tornar inelegível, inclusive com possibilidade de prisão) forem candidatos a presidente da República?
Por ser filiado ao PL, Wilder Morais apoiará Bolsonaro? É o mais provável. No altar da política amizades são sacrificadas com frequência. Mas o apoio a Bolsonaro significa que, necessariamente, o senador não apoiará o candidato a governador de Ronaldo Caiado, optando por disputar o governo?
Está cedo por definir uma posição, e por isso Wilder Morais não vai, por certo, se posicionar agora. Porém, o que sugere o realismo, até para que não se torne, em 2026, o Mendanha de 2022? O realismo — com a ressalva de que política não se faz apenas com realismo, mas também com sonhos e emoções — indica que, se esperar 2030, Wilder Morais poderá contar com o apoio de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela. Indica não é certeza, é uma possibilidade. Porque, se Pedro Sales for o vice de Daniel Vilela, e se este for eleito em 2026, o jovem executivo por certo poderá disputar o governo em 2030.
O futuro, como se sabe, nem a Deus pertence. Então, o eleitor deve tratar o que está lendo aqui como conjecturas ou especulações. A bola de cristal do jornalismo é a razão e esta sugere que é preciso ter cautela na tentativa de analisar as perspectivas e expectativas dos políticos. O futuro, mesmo sendo uma “invenção” do presente, é uma incógnita.
Veja-se uma questão que pode “favorecer” Wilder Morais e “prejudicar” Daniel Vilela em 2026. A primeira suplente do senador é Izaura Cardoso, mulher de Vanderlan Cardoso.
Então, se Vanderlan Cardoso for eleito prefeito de Goiânia, em 2024, poderá apoiar Wilder Morais para governador, em 2026. Ou seja, representará uma força significativa. E, se Wilder Morais for eleito em 2026, a mulher de Vanderlan Cardoso ganhará quatro anos de mandato de senadora. É uma hipótese a se levar em conta.
Gustavo Mendanha e novo projeto
Como Wilder Morais pode “escapar”, por causa de sua aliança com Bolsonaro — e o senador deve conhecer a máxima de Antônio Carlos Magalhães (ACM): “Só é forte na corte quem é forte na província” —, Mendanha vai se filiar ao MDB. O membro do Patriota, que disputou o governo em 2022 e obteve 25% dos votos válidos, é um jovem político que está em fase de consolidação, sobretudo se passar a integrar um projeto vencedor.
A derrota de Mendanha em 2022, na verdade, não o enfraqueceu. Pelo contrário, o fortaleceu politicamente, porque o tornou mais conhecido em todo o Estado (durante a campanha, era tão desconhecido, que, ao chegar numa cidade do Entorno, um prefeito teria dito: “É o menino da deputada Magda Mofatto”).
Mendanha percebeu que não se ganha eleição para governador sem grupo político, sem apoios nas cidades do interior. Ao perder o MDB, que ficou com Daniel Vilela e Ronaldo Caiado, Mendanha “ganhou” o Patriota — um partido que, durante a campanha, o Jornal Opção apodou, com realismo, de “ong política”.
A derrota foi instrutiva para Mendanha, tanto que se reaproximou de Daniel Vilela e se aproximou de Ronaldo Caiado. Qual é o futuro de Mendanha no seu retorno ao MDB?
Há várias possibilidades. Pode-se garantir que, filiado ao MDB, será, obrigatoriamente, candidato a senador em 2026? Não, é claro. Mas se trata de uma possibilidade.
Mesmo que se diga que é cedo para discutir 2026, é preciso admitir que já se tem nomes praticamente definidos no campo governista. Daniel Vilela será candidato a governador — e há pouca coisa tão definida quanto isto. O governador Ronaldo Caiado já o definiu como seu candidato. A primeira-dama Gracinha Caiado tende a ser candidata a senadora — e não haverá resistência ao seu nome, porque se trata de uma articuladora política hábil.
Sobram na chapa majoritária governista as vagas de vice e senador. O pP quer uma vaga na chapa de candidatos a senador para Alexandre Baldy ou para Roberto Naves. Pode trocá-la, porém, pela vice de Daniel Vilela. Frise-se que o vice pode ser Pedro Sales, um dos indivíduos mais ligados ao governador Ronaldo Caiado. Uma vice para o União Brasil faz parte da lógica da política, ou seja, seria uma inversão da chapa de 2022.
Porém, se o pP emplacar o vice, sobra uma vaga para o Senado — que poderá ser de Mendanha. Ou, quem sabe, de Adriana Accorsi? Será isto possível: uma aliança MDB, União Brasil e PT? A política, como a vida, é feita de lógicas que, num primeiro momento, parecem impossíveis, não-lógicas. Sublinhe-se que o União Brasil indicou três ministros para o governo de Lula da Silva, do PT.
Em 2022, o governismo tinha um grande operador político, Ronaldo Caiado. Em 2023, pelo que se nota, há dois operadores hábeis: Ronaldo Caiado e Daniel Vilela.
Os dois estão operando ao modo de Ronaldo Caiado em 2022. Ou seja, trabalhando para reduzir a força das oposições, desde já, e para ampliar as forças governistas.
Ronaldo Caiado e Daniel Vilela estão atuando como mestres. As oposições estão dormindo no ponto.