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Marisa Letícia e Lula da Silva: tolerância, e não agressividade desmedida, indica que o indivíduo é de fato moderno | Foto: Ricardo Stuckert / Agência Brasil

As redes sociais tornaram-se um espaço sem limites — o que muitos confundem com democracia e inovação. Na semana passada, quando jornais e emissoras de rádio e televisão e sites anunciaram que Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula da Silva, havia sofrido um acidente vascular cerebral e estava internada no Hospital Sírio-Libanês, várias pessoas fizeram comentários que não merecem outros qualificativos que não abusivos e desrespeitosos.

Num dos posts, apostando que vários usuários não checam informações, um dos usuários do Facebook “informou” que Marisa Letícia havia falecido. A mensagem é de quinta-feira, 26. Na verdade, a ex-primeira-dama permanece internada.

Noutro post, outra pessoa, uma sra. distinta, lamentava que Marisa Letícia não estivesse em alguma unidade do SUS. Ora, por que a mulher de Lula não pode ser atendida num hospital de qualidade? Pode e deve, como qualquer outra pessoa. Aos poucos, apesar de todas as falhas, pacientes pobres começam a ter um atendimento de mais qualidade em hospitais públicos — sustentados pelos cidadãos que mais pagam impostos — e mesmo em hospitais particulares.

Um pouco de civilidade ao mencionar o caso de Marisa Letícia não desmerece aqueles que não aprovam falcatruas dos governos do PT. Na cama do Hospital Sírio-Libanês, lutando pela vida, está, mais do que a mulher de um político que é investigado sob acusação de corrupção — frise-se que não há processo transitado em julgado —, um ser humano. É assim que Marisa Letícia deve ser vista. O ser humano de fato moderno é mais o tolerante do que o agressivo.

O que se está sugerindo não é que os indivíduos deixem de criticar Lula e o PT — assim como não devem evitar críticas ao PSDB e a Geraldo Alckmin, Aécio Neves, José Serra, entre outros —, e sim, fundamentalmente, que se respeite a luta de uma pessoa, Marisa Letícia, para continuar viva, em circunstâncias dramáticas. É uma questão de humanidade.

Vale o registro de que jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão estão se comportando de maneira decente. As redes sociais — que são importantes, pois criam novos nichos de comunicação, conectando indivíduos díspares de vários países — estão se tornando “locais” de linchamento, de personalidades públicas ou não (nas redes, ressalve-se, todas são públicas). Como se sabe, os indivíduos, quando participam de linchamentos, não se veem como indivíduos, e sim como integrantes das massas. Os indivíduos são, por assim dizer, “dissolvidos” e, deste modo, se “dissolve”, teoricamente, a responsabilidade individual — daí a “extinção” da culpa, tanto em termos das leis quanto em termos psíquicos. Na perspectiva dos linchadores, “nós matamos” não equivale a “eu matei”. “Nós matamos” equivale a “eu não matei” e “eles mataram”.