2020 sugere que um Caiado fortalecido deve enfrentar candidato do MDB em 2022
15 novembro 2020 às 00h00
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O governador vai para o próximo embate com aliados fortes, como Vanderlan, Lissauer e Roberto Naves. Aposta do MDB pode ser Gustavo Mendanha
Para 243 dos 246 municípios de Goiás, as eleições terminam no domingo, 15. Em Aparecida de Goiânia é provável que o prefeito Gustavo Mendanha, do MDB, seja eleito no primeiro turno. Restam possíveis disputas em duas cidades, que tem mais de 200 mil eleitores: Goiânia e Anápolis. É natural que, como ainda não se tem o resultado das urnas, não se possa tirar conclusões peremptórias. Mas, a partir do que ocorreu nas campanhas, sobretudo nas articulações políticas, é possível sugerir algumas interpretações que vão além do que registraram as pesquisas de intenção de voto.
Pode-se afirmar que a disputa de 2020 serviu como uma espécie de laboratório para a disputa de 2022 — que ocorrerá daqui a um ano, dez meses e 15 dias — no sentido de fortalecer bases eleitorais e, ao mesmo tempo, sedimentar alianças e forjar novas alianças políticas.
A seguir, em tópicos, discute-se algumas questões postas em 2020 que estão conectadas ao pleito de 2022.
Hegemonia de Ronaldo Caiado
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do partido Democratas, é um gestor responsável. Com todas as dificuldades, decorrentes de equívocos de governos anteriores e da crise econômica, ampliada pela pandemia do novo coronavírus, manteve o Estado nos trilhos do crescimento e do desenvolvimento.
Ronaldo Caiado destacou-se também como articulador político. Poderia ter ficado na torre de marfim, o Palácio das Esmeraldas, isolado por aliados, obtendo informações por meio de terceiros ou fiando-se tão-somente em pesquisas de intenção de voto (que, se dão a circunstância, não fornecem a ambivalência do quadro eleitoral).
O governador optou por visitar as cidades, apoiando aliados de 2018 e novos aliados, exibindo lealdade e posicionamento.
Em Posse, cidade-polo do Nordeste goiano, discursou a favor de Márcio Passos, candidato a prefeito pelo Podemos. Em Porangatu, cidade-polo do Norte, apoiou, pessoalmente, Vanuza Valadares, do Podemos.
Na principal cidade do Sudoeste goiano, Rio Verde, bancou, diretamente, a reeleição do prefeito Paulo do Vale, do partido Democratas. Na cidade mais emblemática do Entorno de Brasília, Luziânia, hipotecou apoio ao deputado estadual Diego Sorgatto, do Democratas.
Em Goiânia, município com quase 1 milhão de eleitores e que reverbera em todo o Estado, ficou ao lado do senador Vanderlan Cardoso, do PSD. Trata-se de um político altamente consistente e experimentado — com chance de ser eleito prefeito da capital.
Na cidade-polo do Sul, Itumbiara, trabalhou com o candidato Dione “da Famóveis” Araújo, do Democratas. Na principal cidade do Sudeste, Catalão, esteve ao lado, desde o primeiro minuto, do prefeito Adib Elias, do Podemos, que lhe foi leal, em 2020, em tempo integral.
Em Valparaíso, no Entorno de Brasília, declarou-se favorável à candidatura de Pábio Mossoró, do MDB. Por que bancar um emedebista? Trata-se de engenharia política. Porque uma possível derrota de Lêda Borges (PSDB) enfraquece tanto a deputada estadual quanto seu principal apoiador, Marconi Perillo, que pretende disputar mandato de deputado federal, em 2022, tendo como base política exatamente o Entorno do Distrito Federal. Pode-se indagar: sendo emedebista, Pábio Mossoró deve bancar Daniel Vilela (ou Gustavo Mendanha) para governador em 2022? Sim. Mas também pode compor com Ronaldo Caiado, pois o jogo está aberto. Dividir adversários, ou criar instabilidade em suas bases, demonstra habilidade política.
Ronaldo Caiado trabalhou para candidatos de sua base ganharem a eleição. Mas, mesmo onde não ganharem, bases sólidas para 2022 ficarão estabelecidas. Não se constrói uma base político-eleitoral apenas com políticos vitoriosos.
A conquista de novos líderes
A habilidade política de Ronaldo Caiado pode ser verificada na conquista de novos líderes políticos, que, antes adversários, agora são aliados.
Veja-se o caso do prefeito de Anápolis, Roberto Naves, do partido Progressistas. Não participou da campanha de Ronaldo Caiado em 2018. Mas se tornou um dos principais aliados do governador.
Roberto Naves é um gestor altamente eficiente e, ao mesmo tempo, um expert em articulação política. Ronaldo Caiado, um atento observador da cena política e de seus personagens, percebeu, de imediato, que o prefeito de Anápolis trafega bem com vários grupos políticos. Eles se aproximaram e estarão juntos em 2022.
Em Anápolis, ao mesmo tempo que Roberto Naves fortalece Ronaldo Caiado, que nasceu na cidade, o governador fortalece o prefeito. Em 2022, o gestor municipal tende a ser uma das peças-chaves da campanha do gestor estadual.
Outro aliado de peso de Ronaldo Caiado é o presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira, do PSB. Aos 40 anos, o deputado é uma revelação política, tanto que, no comando do Legislativo, agrada tanto a situação quanto a oposição, que o respeita. Na eleição para prefeito, articulou em praticamente todas as regiões de Goiás, conquistando apoio para disputar mandato de deputado federal, ou, quem sabe, a vice de Ronaldo Caiado, em 2022.
O senador Vanderlan Cardoso, do PSD, é outra conquista crucial. Ele era cotado para disputar o governo em 2022, com o apoio do MDB de Daniel Vilela e Maguito Vilela. Mas, numa engenharia política de precisão, se tornou aliado de Ronaldo Caiado e apoiará sua reeleição na próxima disputa.
Decisivo, portanto, não é apenas que, em 2022, Roberto Naves, Lissauer Vieira e Vanderlan Cardoso estarão com Ronaldo Caiado, e sim também que não estarão no campo das oposições.
Cumpre assinalar que, ao robustecer sua musculatura, com a conquista de aliados de peso, em todo o Estado, Ronaldo Caiado trabalhou para tornar as oposições, de alguma forma, mais anêmicas. Vale frisar que o governador tem um olhar clínico para os líderes que realmente contam.
PSDB caminha fragilizado
O PSDB governou Goiás por 16 anos e, contados os quatro anos de Alcides Cidinho Rodrigues, pode-se falar em 20 anos de poder do chamado Tempo Novo. Mesmo assim, recentemente, ao contabilizar suas possíveis vitórias, um líder do partido admitiu, mostrando os dez dedos das mãos, que o partido possivelmente elegeria no máximo dez prefeitos. Ou até menos. Em Goiás, com o candidato Talles Barreto, o PSDB praticamente deu “traço”. O problema é o postulante? Talvez não. A pedra no caminho é, provavelmente, o desgaste do PSDB, que permanece gigante, semelhante ao do PT em termos nacionais.
Com uma base precária, como irá disputar o pleito em 2022? Os líderes terão de reunir os cacos do partido e, ao mesmo tempo, terão de tentar atrair figuras da sociedade, sem contaminação pelos longos anos de poder do PSDB, com o objetivo talvez não de tentar conquistar o poder, em termos de Executivo, e sim de ampliar sua base legislativa. Não será fácil. O PSDB não tem nenhum deputado federal, dada a debacle de 2018, e dificilmente terá condições de eleger senador e governador.
A cúpula do PSDB pretende lançar o ex-governador Marconi Perillo como uma espécie de “puxador” de votos. A tática pode dar certo e, claro, pode não dar. No caso de acerto, acredita-se que o tucano-chefe poderá contribuir para a vitória de pelo menos dois deputados federais. Mas há também a possibilidade de o desgaste de Marconi Perillo, quiçá ainda não superado, contribuir para a derrocada de toda a chapa.
MDB tende a subordinar o PSDB
Assim como o PT, o PSDB tende à busca da hegemonia. Entretanto, se não tiver viabilidade eleitoral em 2002, e para escapar de um vexame, o partido pode subordinar-se ao projeto do MDB de Daniel Vilela, Maguito Vilela e Gustavo Mendanha? É possível.
Mesmo se Maguito Vilela não for eleito em Goiânia, o MDB caminhará relativamente forte para a disputa de 2022, dada sua capilaridade eleitoral em todo o Estado. Trata-se de uma estrutura consolidada, com bases em praticamente todas as cidades. Portanto, terá candidato a governador.
Com Maguito Vilela na Prefeitura de Goiânia, numa cidade que reverbera em todo o Estado, Daniel Vilela — ou Gustavo Mendanha — será um candidato mais forte para enfrentar Ronaldo Caiado. Sem Maguito Vilela no poder na capital, a estrutura do partido será menor.
De qualquer maneira, o candidato do MDB a governador vai enfrentar um governador Ronaldo Caiado com estrutura ampliada e, politicamente, ainda mais experiente (frise-se que, no poder, revelou-se um articulador de primeira linha). Por isso, vai precisar de apoio — daí a possível parceria com o PSDB de Marconi Perillo e Jânio Darrot, o prefeito de Trindade que escapou incólume aos escândalos dos líderes do partido. O PSD de Vilmar Rocha também “tende” a compor com o MDB. Escreve-se “tende”, e com aspas, porque o senador Vanderlan Cardoso tem como principal cabo eleitoral em Goiânia exatamente Ronaldo Caiado. Portanto, Vanderlan Cardoso, que pertence ao PSD, vai bancar sua reeleição. Ligado historicamente ao empresário Otavinho Lage e ao ex-prefeito de Goianésia Jalles Fontoura, que planejam apoiar o candidato do MDB a governador, Vilmar Rocha provavelmente os acompanhará — o que poderá levar a uma divisão no PSD.
Em suma, PSDB e PSD (ainda que dividido) possivelmente caminharão com o MDB em 2022, como forças políticas subordinadas ou agregadas. Fala-se, até, que Otavinho Lage pode ser vice de Daniel Vilela. Seu irmão, Jalles Fontoura, disse ao Jornal Opção que Otavinho Lage não vai disputar eleição em 2022, mas confirmou que devem apoiar Daniel Vilela.
O vigor de Gustavo Mendanha
O prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, tem apenas 38 anos. Mas está se consagrando como um líder inspirador. Tão sagaz quando Maguito Vilela e Ronaldo Caiado, que são firmes e, ao mesmo tempo, conciliadores. A visão que se tinha dele, até poucos meses, era de um líder circunscrito a Aparecida de Goiânia. Mas a percepção mudou.
A imagem de gestor eficiente e moderno saltou de Aparecida para Goiânia. Se antes Maguito Vilela era seu padrinho político, hoje é o contrário: Gustavo Mendanha se tornou padrinho do candidato do MDB. O emedebista mais velho precisa do emedebista mais jovem para renovar-se e ser, digamos, “aceito” pelo eleitorado da capital.
O resultado é que hoje avalia-se que, aos 40 anos, em 2022, Gustavo Mendanha poderá disputar o governo de Goiás. Poderá exibir como cartel positivo a experiência de seis anos no comando da Prefeitura de Aparecida de Goiânia.
Ao leitor-eleitor cabe dizer que há, tanto na vida em geral quanto na política em particular, o imponderável. O que se desenha hoje, a partir dos fatos e dados disponíveis, amanhã poderá ser inteiramente modificado. Por isso, seguindo o filósofo, talvez seja possível sugerir que o futuro nem a Deus pertence. Portanto, todas as avaliações, inclusive as nossas, são provisórias, circunstanciais… uma tentativa de “fisgar” um pouco do futuro que vai sendo construído no presente.