Superando seca de 2024, Rio Verde espera produção de grãos acima de 1,8 milhão de toneladas nesta safra

28 janeiro 2025 às 13h30

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Durante os meses de agosto e setembro de 2024, a seca prolongada somada aos incêndios que atingiram todo o país afetaram a produção agrícola de Goiás, principalmente nos grãos. Esse processo, intensificado pelo fenômeno El Niño, reduziu a produtividade e aumentou os preços, além de reduzir a oferta no mercado. Neste ano, entretanto, a safra e o calendário de chuvas se sincronizam, dando previsões positivas para produção do estado, cujo principal polo produtor de grãos está na microrregião de Rio Verde.
Nesse sentido, a reportagem conversou com representantes do setor para entender em profundidade as previsões para produção desta safra.
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Goiás e Rio Verde
Em entrevista ao Jornal Opção, Leonardo Machado, gerente técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), diz que a expectativa é de “safra recorde”. O especialista explica que neste ano, devido à melhora nas condições climáticas, o estado pode esperar colheita entre 19 e 20 milhões de toneladas nesta safra. Um fator que contribui para o cenário positivo é o aumento da área produzida em relação ao ano anterior.
Dados do Ifag mostram que, em Rio Verde, no ano de 2023, foram produzidas 1.770.300 toneladas de grãos e, segundo o gerente técnico do instituto, a expectativa para esta safra é que se ultrapasse as 1.800.000 toneladas. “Ano passado [2024], este dado recuou devido fatores climáticos”, por isso, o objetivo agora é retomar os valores alcançados no ano anterior à seca prolongada que afetou a produção rioverdense.

Machado reforça os danos sofridos pela seca prolongada no ano passado. Por se tratar de “uma indústria a céu aberto”, o especialista reafirma que “o produtor necessita cada vez mais de condições climáticas favoráveis para ele poder produzir”. Nesse sentido, Machado destaca a importância do uso de técnicas modernas de previsão das condições climáticas, por parte do produtor rural, e, além disso, reforça o papel do seguro rural. “O seguro rural é uma ferramenta importante que a gente pode utilizar e deve utilizar para se proteger do risco climático”, concluiu.
Em 2023, conforme aponta o Ifag, foram plantados grãos em 421.500 hectares em Rio Verde, o que resultou em uma movimentação de R$ 4.485.976.000,00 (Quatro bilhões, quatrocentos e oitenta e cinco milhões, novecentos e setenta e seis mil reais). Conforme revelado, a expectativa para este ano é de superar esse valor.
Questões ambientais
O presidente do sindicato rural de Rio Verde, Olávio Teles Fonseca, reforça as expectativas positivas para a produção deste ano. O investimento em tecnologia e monitoramento nas lavouras, conforme compartilha Fonseca, resulta em uma “safra com boa produção e boa produtividade”.
Apesar das previsões positivas, o sindicalista recomenda cautela, já que os produtores estão reféns das condições climáticas, que se provaram potencialmente devastadoras no ano passado. “Em Rio Verde não se via uma seca tão devastadora desde 2008, quando o município ficou 153 dias sem nenhuma chuva”, explicou. Durante os meses de agosto e setembro de 2024, o Corpo de Bombeiros registrou ao menos 400 incêndios no município, o que afetou não apenas a produção, mas também as nascentes e reservas d’água.

Outro ponto que requer atenção é a reação do mercado financeiro às movimentações do dólar, o que pode acabar encarecendo a cadeia produtiva, apesar da melhora no cenário do plantio. “Todos os produtos atrelados ao agro estão vinculados à moeda americana, cuja volatilidade de preços impacta em muito as margens de rentabilidade do setor”, resumiu Fonseca.
Da mesma forma que Machado, Fonseca afirma que o produtor rural deve estar atento aos estudos climáticos a fim de sincronizar a produção. Para além disso, a coordenação entre diversos atores do município é ponto vital para controle das queimadas em época de seca, conforme aponta o presidente do sindicato, dando destaque à Comissão de Combate aos Incêndios na Zona Rural. “O convênio com a Prefeitura Municipal é direcionado para a contratação de caminhões, brigadistas e compra de equipamentos, e todo o trabalho é executado pelo Corpo de Bombeiros”, explicou. Para ele, as parcerias entre o setor público e o privado “têm sido de grande valia para o setor”.
Para os produtores
Ao Jornal Opção, o produtor rural e diretor do Sindicato Rural de Rio Verde, Adriano Barzotto, explica que a soja, o milho e seus derivados são o carro chefe da microrregião de Rio Verde, tanto para o mercado externo quanto para o interno. A cada movimento de retração dos clientes estrangeiros, o mercado interno consegue absorver a produção, e vice-versa: “a gente tem as duas realidades e a gente vai aproveitando o melhor de cada momento”, resumiu.
Pensando em preços, o diretor afirma que “nós estamos, do ano passado pra cá, com 2 bilhões de toneladas [de grãos] no estoque nacional”, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse cenário pode levar a um achatamento dos preços até maio. A partir desse momento, os valores de venda do grão devem ser mais proveitosos para o agricultor. “Se aquele produtor conseguir guardar um pouco da sua safra, com certeza vai pegar melhores preços”, sintetizou.
O produtor rural e sindicalista sinaliza que a categoria deve se ater ao calendário da safrinha, considerando todas as previsões climáticas feitas, a fim de garantir melhor produtividade. “Ele [produtor rural] precisa fazer o plantio dentro do calendário para ele poder ter um rendimento satisfatório“, concluiu.