Se alguém perguntar por Nara Leão, diz que ela foi por aí
07 junho 2024 às 19h05
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Nara Leão morava na Avenida Atlântica, em Copacabana, no Edifício Champs Élysées. Foi no apartamento dela que os primeiros acordes da Bossa Nova começaram a ser tocados. Hoje, na frente do prédio, tem uma placa que recorda ali como o berço da Bossa Nova. A gente passa na frente, vê o portão e logo já imagina Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlinhos Lyra e tantos outros adentrando para subir até o apartamento da família Leão.
Com o passar do tempo, a suave batida da Bossa Nova deu lugar às guitarras elétricas e as músicas de protesto. Zuza Homem de Melo conta essa mudança em seu livro “Eis aqui os bossa nova”, um ótimo livro para quem quiser conhecer sobre a música brasileira. Depois do golpe de 1964, a música suave deixou a zona sul carioca e subiu até os morros. Nara seguiu essa mudança e deixou o Barquinho, música do seu ex-namorado Ronaldo Bôscoli, para cantar as músicas de Cartola e Zé Ketty. Ela participou do Show “Opinião” e dos eventos organizados pela União Nacional dos Estudantes (UNE). Em 1967, o Tropicalismo mexeu com tudo na música e lá estava Nara Leão acompanhando a banda passar cantando coisas de amor. Sua foto aparece na capa do disco “Tropicália ou Panis et Circenses.”
Nara fez vários shows na Europa durante a década de 1970. Bem que ela tentou seguir uma vida “normal”, longe da carreira artística, cursando a faculdade de Psicologia na PUC-RJ, mas não teve jeito. A música estava em sua alma. Nara Leão foi a primeira cantora no Brasil a lançar um CD. Eram músicas da Bossa Nova como Garota de Ipanema. Nara começou a ter problemas de saúde em meados dos anos 1980. Ela sentia muita dor de cabeça. Ao fazer exames, foi diagnosticado um tumor cerebral. Sua irmão Danuza Leão conta os últimos dias de Nara no hospital no seu livro “Quese Tudo”.
A menina de Copacabana, da Bossa Nova, da Tropicalia, do samba do morro, morreu em 7 de junho de 1989. Ela viveu igual a música “Diz que fui por aí”:
“Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando o violão debaixo do braço
Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
Se houver motivo
É mais um samba que eu faço”
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