Estão disponíveis na Vila Cultural Cora Coralina, no centro de Goiânia, duas novas exposições de artistas goianos. As obras expostas são essencialmente goianas, desde a idealização a produção das telas. Nascida em Inhumas e moradora de Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros, Fabíola Morais apresenta a exposição “Visões Psicodélicas do Cerrado”, composta por pinturas a óleo, desenhos de grafite sobre papel algodão que trazem à tona camadas esotéricas e psicodélicas vindas do vegetal e também da cultura indígena. 

A artista iniciou seus desenhos de mão livre quando ingressou na Faculdade de Arquitetura. A bagagem em relação a arte e técnica de projetar edificações se tornou concreta no âmbito das artes quando Fabíola Morais escreve a tese de doutorado em História “Lugares do desenho na história sintomal da Escola de Artes e Arquitetura (UCG), transformações disciplinares e institucionais e a arte como recalque”.

Sobre suas produções, a artista destaca que o ambiente no qual ela vive influencia diretamente em sua perspectiva artística de vida.  

A princípio o que apresento é um desenho descritivo das formas orgânicas do ambiente onde estou inserida. Busco por composições e cores atraentes, da mesma forma que as flores se expõem para abelhas e besouros. Depois de conseguir a atenção do seu olhar, atravesso a fina película que separa o mundo capturado por sua percepção limitada do mundo ‘real’ formado inteiramente de mistério

Fabíola Morais é artista visual e vive hoje em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros

Obras que compõem a exposição variam entre produções recentes e aquelas que tiveram início na década passada. Segundo a artista, o próprio processo criativo “dança” entre as datas. Ser moradora de uma região preservada, mas que está ameaçada a todo momento gera uma pressão no que se refere a produtividade. 

“Morando na chapada consigo enxergar pessoas que trazem outros conceitos em relação a como lidar com biomas, produção de água, como lidar como povos ancestrais. E em certa medida isso é o contrário de pensamentos urbanos. Se eu falo de cerrado como tem tanta gente falando, é porque existe uma defesa desse bioma. Eu me coloco como agente defensora […] Devemos usar de toda tecnologia já alcançada em prol do equilíbrio ambiental” considera.

A exposição “Interior das Ruas” está na sala Antônio Poteiro e retrata a relação entre a vida no campo e a indisciplina da arte urbana marginalizada, as pichações. O artista Paulo Paiva se fundamenta em memórias afetivas e num acervo fotográfico presente no Museu da Imagem e do Som de Goiânia, localizado no Centro Cultural Marietta Telles Machado. O artista junta a cultura caipira interiorana com o urbano subversivo e destaca a singularidade goiana através das telas. Paulo retrata a síntese desses âmbitos que vêm à tona no cenário goianiense. 

Essa junção dos dois universos vem da minha própria vivência, sou goianiense. Essa influência é constante em mim. Nossa letras e grafismos das pichações que são marginalizadas são únicas, assim como nosso sotaque e nosso modo de viver. Esses dois mundos entrelaçam em mim e foi a maneira que consegui sintetizar

Paulo Paiva à esquerda e na direita Wilson Formiga, ambos artistas visuais goianos

As técnicas usadas variam desde aquarela até tinta na parede com rolo. Paulo não se restringe a técnicas e utiliza materiais mais acessíveis, como tinta acrílica. Suas produções também variam de tamanho, pintando telas e paredes murais. No total foram dois anos de pesquisa e trabalho que resultaram nessa exposição.

A mensagem que deixo com minha arte é a inclusão. Devemos olhar com mais carinho pra nossa cultura e não deixá-la cair no esquecimento. Assim como a arte urbana que é vista com maus olhos, somos um estado muito tradicionalista. Ainda temos visões de artes muito enquadradas. Busco mais cuidado com que é nosso, envolvendo cultura, reivindicações e abrir espaço para novas gerações se expressar de maneira genuína

As exposições seguem disponíveis para visitação na Vila Cultural Cora Coralina até 1° de setembro, de segunda a domingo, das 9h à 17h, com entrada gratuita.

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