Uma casa branca virada para o mar, em uma esquina do bairro da Urca, no Rio de Janeiro, se tornou cenário de uma das obras do audiovisual brasileiro mais aclamadas dos últimos anos. A casa onde morou a família Paiva se tornou conhecida através do filme “Ainda Estou Aqui”, estrelado por Fernanda Torres, e cotado para o Oscar 2025. 

Apesar da casa original ficar a quase 10km de distância da escolhida para o cenário do filme, a escolha do diretor Walter Salles fez com que a casa da Urca ganhasse fama. Essa mesma notoriedade fez com que a família Savini, que morou na casa antes das filmagens, se surpreendesse. Ricardo Savini, ex-ceo da ER Petroleum, sua esposa, Juliana Garcia, e as três filhas do casal, Lívia, Ornella e Cecília, moraram na casa de setembro de 2019 até janeiro de 2022. 

A real casa onde moraram os Paiva ficava na Avenida Delfim Moreira, de frente à praia do Leblon.

“Acho que minha família criou um afeto pelo local… A gente viveu o nascimento dela (Cecília, a caçula), todo mundo junto. A pandemia não foi boa para ninguém, mas conseguimos nos fortalecer e ter momentos bem importantes ali”, diz Lívia ao Portal G1. “Apesar de ter sido quase três anos, foi a residência em que passei mais tempo”, compartilhou.

Segundo a coordenadora de produção executiva do longa-metragem e pesquisadora de material de arquivo, Camila Leal Ferreira, o projeto teve início sete anos atrás. Leal conta ao G1 que, a pedido de Salles, ela começou a procurar casas ligadas ao mar em meados de 2021.

“Hoje, na Zona Sul do Rio de Janeiro, sobraram pouquíssimas casas perto do mar. E foi rodando toda cidade que cheguei à Urca”, afirmou.

Nalu Paiva, filha legítima de Eunice e Rubens, as figuras retratadas pelo filme, afirma que a casa da Urca é muito parecida com a original. Ela chegou a desenhar os cômodos da residência verdadeira com lápis coloridos para a produção do “Ainda Estou Aqui”. 

Na estreia do filme, em Veneza, Nalu cumprimentou a produtora-executiva ao ver a cena da casa: “nossa, igualzinha”.

Reforma na antiga casa

Quando a família Savini deixou a casa na Urca, não imaginava que a residência seria remodelada. Ornella Savini contou ao g1 que, algum tempo depois, ao visitar a região, se surpreendeu com as mudanças “um tanto quanto esquisitas”.

A clássica pintura branca deu lugar a tons envelhecidos, o portão automático foi trocado por um modelo de ferro antigo, e uma das varandas simplesmente desapareceu. Até o muro perdeu as grades de proteção, ficando mais baixo e exposto. “Tínhamos certeza que novo morador era maluco”, relembrou Livia Savini, em tom bem-humorado.

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“Ainda Estou Aqui” estreia no Brasil com esperanças de indicação ao Oscar e aclamação internacional

A verdade por trás da transformação, no entanto, era bem diferente. A casa estava sendo adaptada pelo diretor de arte Carlos Conti para servir de cenário ao filme “Ainda Estou Aqui”. Ambientado em 1971, o longa retrata a trajetória de Eunice, vivida por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, uma ativista de Direitos Humanos marcada pelo assassinato do marido, Rubens Paiva (Selton Mello), durante a ditadura militar.

O vínculo da família Savini com o local voltou à tona depois que Livia e Ornella, as irmãs mais velhas, compartilharam nas redes sociais um vídeo contando como era viver na casa antes dela se tornar parte de uma história cinematográfica.

“Não estou mais aqui 😭se você chorou vendo o filme, imagina a gente que morou na casa antes da gravação”, escreveu Livia, na legenda da publicação, que atraiu a atenção da própria Fernanda Torres.

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“Soube que a casa ia ser cenário antes do filme “

Ornella e sua família souberam que a casa seria cenário do filme antes da estreia do longa. A descoberta aconteceu quando a atriz Luiza Kosovski, que fez a personagem Eliana Paiva, contou que estava gravando o longa na antiga residência dos Savini.

A família Savini soube que a casa seria usada como cenário antes mesmo do lançamento do filme. Uma das atrizes do longa, Luiza Kosovski (Eliana Paiva), é amiga de Ensino Médio de Ornella, e as duas mantêm contato até hoje. “Ela me contou que tinha passado no filme [do Walter Salles] e que estava indo para o primeiro set de filmagem. Momentos depois, ela me enviou uma mensagem e disse: amiga, você não vai acreditar, eu to gravando na sua antiga casa”, compartilhou Ornella ao G1. 

Família Savini na casa da Urca l Foto: Arquivo Pessoal.

“Eu sabia que a casa ia ser cenário do filme, mas nada me preparou para o que eu ia ver. Aquela vida no início [do filme], da família, os lugares, eram onde eles conviviam. A casa aparece na maior parte do filme e eu me vi na convivência daqueles personagens”, comentou Lívia Savini. “A casa é espaçosa e agradável. O filme captura bem o que é morar lá”.

“Ainda Estou Aqui” foi escolhido para tentar disputar a categoria de melhor filme internacional no Oscar 2025 e ganhou, em 9 de setembro, o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza.