6 autores mais polêmicos e ‘cancelados’ da literatura

O mundo da literatura, embora frequentemente exaltado como espaço de liberdade criativa e reflexão profunda, também é palco de intensos debates sobre ética, ideologia e responsabilidade social. Ao longo da história, diversos autores enfrentaram o chamado “cancelamento”, termo contemporâneo que designa a rejeição pública por atitudes, obras ou declarações consideradas problemáticas. A seguir, conheça cinco escritores que, por diferentes razões, foram alvos de críticas ferozes e cancelamentos culturais.

O cancelamento desses autores levanta questões complexas: devemos separar a obra do autor? É possível admirar um texto sem endossar suas ideias? Em tempos de redes sociais e vigilância ética, a literatura também se torna campo de batalha ideológica, e esses cinco nomes provam que nem mesmo os grandes escapam do escrutínio público.

J.K. Rowling – Entre magia e controvérsia

A criadora do universo de Harry Potter viu sua reputação abalada após declarações consideradas transfóbicas nas redes sociais. Embora continue sendo uma das autoras mais lidas do século XXI, Rowling enfrenta boicotes, críticas de fãs e até dissociação por parte de atores da franquia que ajudou a construir. O debate sobre liberdade de expressão versus discurso de ódio ganhou força com seu caso.

Johann Wolfgang von Goethe – O efeito Werther

Os Sofrimentos do Jovem Werther causou uma onda de suicídios na Europa após seu lançamento em 1774. Jovens passaram a imitar o protagonista, inclusive em seu trágico fim. Algumas regiões chegaram a proibir o livro, e o fenômeno ficou conhecido como “Efeito Werther”, um dos primeiros casos de cancelamento por impacto psicológico de uma obra literária

Fiódor Dostoiévski – O peso do pensamento russo

Autor de clássicos como Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov, Dostoiévski foi alvo de cancelamentos modernos especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Algumas instituições culturais ocidentais suspenderam eventos relacionados ao autor, numa tentativa de boicote simbólico à cultura russa. A medida gerou controvérsia: seria justo punir um pensador do século XIX por ações de um governo atual?

Maquiavel – O pai da política amoral

O filósofo renascentista Nicolau Maquiavel é frequentemente associado à manipulação e à frieza política, graças à sua obra O Príncipe. Embora seu nome tenha virado adjetivo, “maquiavélico”, muitos o consideram um símbolo de cinismo e imoralidade. Séculos depois, ainda há quem o “cancele” por enxergar em seus escritos uma legitimação da tirania.

Monteiro Lobato – Racismo na literatura infantil

Um dos pilares da literatura brasileira, Monteiro Lobato é reverenciado por obras como O Sítio do Picapau Amarelo. No entanto, seus textos, especialmente os que retratam a personagem Tia Nastácia, foram criticados por reproduzirem estereótipos racistas. Trechos de cartas pessoais também revelam visões eugenistas. O debate sobre manter ou adaptar suas obras para novas gerações continua aceso.

 Gilberto Freyre – Casa-grande, senzala e polêmica

Sociólogo e autor de Casa-Grande & Senzala, Freyre foi pioneiro ao abordar a formação da sociedade brasileira. Contudo, sua visão sobre a escravidão e a miscigenação é vista por muitos como romantizada e condescendente. Acadêmicos contemporâneos questionam seu legado, acusando-o de suavizar as violências do sistema escravocrata.

Gilberto Freyre acreditava em um tipo de “sistema perfeito” baseado na convivência harmoniosa entre diferentes raças e culturas dentro da estrutura patriarcal da sociedade brasileira colonial. Essa visão está no cerne de sua obra Casa-Grande & Senzala (1933), onde ele propõe que a miscigenação entre portugueses, indígenas e africanos teria gerado uma cultura rica e singular, o “homem brasileiro”, resultado de uma suposta integração social e afetiva entre senhores e escravizados.

Leia também:

CPI do INSS pede prisão de Nelson Wilians e aprova quebra de sigilo

Israel cria córnea sintética e paciente volta a enxergar após dez anos de cegueira

Picape conceito da John Deere criada por IA chama atenção, mas não deve sair do papel