Criminosos usam redes sociais para venda de anabolizantes falsificados
11 agosto 2023 às 13h11
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O comércio clandestino de anabolizantes, que tem conexões na China e no Paraguai, tem ganhado espaço no ambiente cibernético, principalmente em redes sociais que possuem espaços coletivos exclusivos para a venda deste tipo de mercadoria sem prescrição médica. Os anabolizantes, popularmente conhecidos por “bomba”, inclusive, são usados para abastecer laboratórios caseiros e academias espalhados por todo país.
Por três semanas, o Jornal Opção, com exclusividade, acompanhou o comércio ilegal desses produtos e chegou a negociar com vendedores e falsificadores. Organizados, os criminosos possuem tabelas de preços e até dão dicas de como usar de forma “correta”, a fim de não acarretar riscos à saúde. Garantem: “é seguro”.
O valor dos produtos variam de acordo com a necessidade do cliente. O repórter, se passando por um cliente em busca do “corpo sarado”, conversou com o criminoso que se apresentou como Lander. Ele ofereceu uma caixa com dez doses de Somatropina por R$ 1,3 mil.
Porém, caso o repórter quisesse um resultado mais rápido, ele também poderia adquirir 100 ml do Zptropin por R$ 379. Há opções, no entanto, a partir de R$ 70, como o frasco de 10 mg de Oxandrolona. Vale ressaltar que todos os medicamentos mencionados são hormônios para o crescimento.
“O produto é de qualidade, mas apenas eu vendo no grupo. Pode pedir referências lá dos meus produtos, trabalho com o certo. Como vai usar pela primeira vez, você precisa de um consultor. Eu não monto ciclo, mas posso indicar um de uma academia”, explicou Lander.
“Minha primeira compra foi com o Pereira (como também é chamado Lander), estou muito satisfeito. Confesso que estava com receio, pois já passei por situações complicadas com compras na internet. Mas agora ganhou minha confiança, primeira compra de muitas que virão”, afirmou um dos 238 clientes do grupo, após serem questionados pelo repórter sobre a qualidade dos anabolizantes.
Produtos falsificados
O que mais chamou a atenção é o preço ofertado pelos criminosos, muito abaixo do comercializado no mercado legal, deixando clara a falsificação por parte dos vendedores. Cada frasco da Somatropina, por exemplo, pode chegar a custar R$ 990. Ou seja, os dez frascos oferecidos por Lander por R$ 1,3 mil poderiam chegar a R$ 9,9 mil.
O delegado Frederico Maciel, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor do Estado de Goiás (Decon), explica que o combate a esse tipo de crime é difícil. O motivo, segundo ele, é que as vítimas não procuram a delegacia para denunciar, visto que eles compram os anabolizantes no mercado clandestino. Ou seja, são coniventes com o crime.
“Quem usa, porém, não está cometendo crime. É um crime contra a saúde pública, a pena é alta, parecida com a pena do tráfico, mas difícil de combater”, afirmou.
Riscos à saúde
Os anabolizantes são usados na medicina para fins de tratamento, como por exemplo, quando o homem tem baixa testosterona, explica o médico Cláudio Calixto. O uso destes produtos para estética sem acompanhamento médico, inclusive, pode acarretar em uma série de problemas à saúde.
Entre os efeitos colaterais, de acordo com Cláudio, está o crescimento de mamas no homem e o excesso de pelos em mulheres, assim como a mudança na voz e a redução dos seis das mesmas. Mudanças de comportamento também podem acontecer, podendo até mesmo desencadear depressão.
“O principal é a complicação cardiovascular. A pessoa pode ter mais chances de pressão alta, AVC, ataques cardíacos podendo levar a morte. O colesterol também pode ser afetado, assim como o libido. Não é tão comum, mas em alguns casos, pode haver a amputação de membros”, concluiu.