A final da Copa do Brasil, realizada neste domingo, 24, entre São Paulo e Flamengo no Estádio do Morumbi (SP) teve um “toque” goiano. Ou melhor dizendo, uma luva aparecidense. O goleiro Rafael, um dos principais responsáveis pelo título conquistado pelo São Paulo ergueu outro prêmio além do inédito troféu da campanha paulista: uma luva de borracha dada ao goleiro vencedor da competição. 

O prêmio “Goleiro Continental”, feito de pneus reciclados, foi confeccionado pelo artista plástico Cristiano Borges, de 43 anos, que é morador de Aparecida de Goiânia. O pedido feito por um dos patrocinadores do evento, conforme entrevista de Cristiano ao Jornal Opção, foi realizado em agosto, após eles o encontrarem durante uma busca pelas redes sociais. O artista, que levou um mês para enviar a obra ao Rio de Janeiro, no último dia 4 de setembro, fez a confecção da luva no espaço de 12/4 metros que reservou em casa para realizar trabalhos de artesanato.

Cristiano explica que foram sete tentativas para chegar à luva ideal, sendo que cada tentativa era realizada em três etapas: o molde da luva com ligação (borracha crua usada na recapagem de pneus), o preenchimento do objeto com pó de pneu e, por último, o revestimento da obra com pneus. Vale ressaltar que, em todos os processos, foi necessário o cozimento do objeto no autoclave (máquina usada para deixar a borracha rígida). 

“Nunca imaginei. Quando eles me procuraram eu não acreditei. Como que uma pessoa do outro lado do Brasil iria me achar em Aparecida e me fazer um convite para desenvolver uma luva dessa?”, questionou o artista, que completou:

“A gente começou a conversar e eles me informaram que precisava alguns dias antes da final. Não foi fácil, fiquei algumas noites sem dormir por conta da ansiedade. É uma pressão psicológica muito grande, a responsabilidade é muito grande e a luva era pequena, o que dificultou a confecção”, afirmou. 

Troféu foi entregue logo depois da conquista do título. (Foto: Reprodução/Instagram)

Tentativas e aprovação 

Há 19 anos na área do artesanato, Cristino conta que os primeiros protótipos confeccionados não foram aprovados pelo patrocinador da Copa do Brasil, que queria uma obra que se equiparasse a uma luva profissional. Depois de algumas tentativas, o artista fez o pedido de uma luva original para tê-la como base. 

Com um modelo, Cristino conseguiu produzir a luva ideal feita de materiais recicláveis. O objeto, inclusive, foi enviado para a cidade carioca para a aprovação do encomendador que arcou com os custos de envio e reenvio. Depois de finalizada, a luva foi colocada em uma caixa de acrílico e dada ao goleiro são paulino.

“Tentei a primeira vez, mas ela [luva] não ficou bacana. Depois passei a segunda e a terceira e também não ficaram boas. Enviei a foto para eles [patrocinador], ai me disseram que não podia ficar daquela forma, com a palma da mão inchada. Ela tinha que ficar quase reta, no formato que dava para encaixar uma bola. Quase desisti, estava desenvolvendo uma coisa só da minha cabeça. Aí me mandaram uma luva original, que usei como modelo”, explicou. 

“Dever cumprido”

Cristiano afirma que não conseguiu assistir ao jogo, mas que foi surpreendido com uma mensagem do patrocinador que enviou uma foto do goleiro tricolor com o troféu e o parabenizou pelo trabalho. Neste momento, de acordo com o artista, ele foi tomado por uma sensação de alívio e de dever cumprido: “até dormi melhor”, brincou. 

“Me considerei pequeno pelo tamanho do evento, mas isso me deu forças para insistir no que estou fazendo”, concluiu Cristiano, que além da luva, constrói outros objetos como animais, veículos e móveis de pneus reaproveitados. 

Luva produzida por Cristiano na própria residência. (Foto: Arquivo pessoal)