Seleção brasileira: nosso patriotismo patropi suporta quantos 1 a 0? Ah, temos o Neymar

05 dezembro 2022 às 15h43

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Perder faz parte da Copa. Faz parte de qualquer esporte e até da vida. Na sexta-feira, 2, a seleção de Tite fez história às avessas, e, pela primeira vez desde 1950, perdeu para um time africano na Copa.
Recorde durável, hein.
Pelé, que é o Deus do futebol, vaticinou que o século não viraria sem uma seleção africana campeã da Copa.
O século virou, nenhuma seleção africana conseguiu subir o caneco acima da cabeça (Romário, fanfarrão e soberbo que sempre foi, dizia que o Rei calado era um poeta).
O próprio Camarões, algoz do momento, foi o mais bem colocado em 1990, quando jogou as quartas daquela copa pré-tetra.
O fato é que os times africanos também avançaram e se globalizaram tanto quanto os grandes esportistas brasileiros e sul-americanos.
Os descendentes primeiros de Adão são uma correria só, parecem os quenianos na São Silvestre. Chegam no Brasil e roubam a festa no final do ano.
A verdade é que players africanos estão, também, nas competitivas ligas da Inglaterra, da Espanha e da Itália. São profissionais dos milhões, tal qual nossos garotos ex-pobres das nossas beiradas e dos rincões.
Outro fato é típico daquelas frases dos narradores obsoletos: “Copa não tem jogo fácil, amigoooo”.
O Brasil, desfalcado de Neymar, seu melhor jogador, e de Pombo (tava fora por que mesmo?!) viu Tite querer reinventar a roda e cair numas táticas de neném, como a de depender do tristonho boneco de açúcar (Gabriel Jesus) para buscar resultado.
A despeito de sexta, quando nada funcionou bem, ressalto o chavão: não há jogo fácil, amigo. É tudo mesmo uma caixinha de surpresas.
Veja o chaveamento:
Alemanha, a única que poderia nos alcançar nas estrelas, já vai ver a copa do sofá de Berlim.
Japão, que há pouco só jogava “soccer” via anime (aprendeu mesmo o jogo com o Zico), passou em primeiro num grupo com a poderosa Espanha (ganhou dela de 2 a 1).
Mais do que uma derrota espinhenta brasileira, que nem fez tanta falta assim no “jogo do bicho” (terminamos em primeiro no Grupo G), chegamos nas oitavas com o ego ferido.
Nossos feriados, como diziam Nelson Rodrigues, estão seriamente ameaçados?
Mais uma bobeira dessa e é rotina na lata.
Nossa vontade de ir embora do serviço, às 13h ou 15h, está amordaçada. Sentiu, Tino!
Como vamos pegar congestionamentos homéricos no meio da tarde ou sair de camiseta amarela para todo canto?
Além de uma agência de propaganda, tenho também uma pequena loja de bijus (segue aí no insta @bijubebel). Ou seja, sou duplamente obrigado a buscar entender mecanismos de vendas.
Hoje, com mirradinhos 1 a 0, deixamos o patriotismo na porta. Amanhã ele já não entra tão faceiro abanando o rabinho em casa.
Quem é a viva-alma que vai amanhecer com ânimo em dia para comprar brincos, bandanas e colares brasileirinhos?
Nós, e todos os pequenos lojistas, que havíamos comprados verdadeiras montanhas de quinquilharias verde-amarelas — para revender como portugueses negociando com índios —, enxergamos hoje um mini cash da Bolsa.
Hoje, na hora do almoço, conversava com um segurança do prédio em que trabalho. Ele pegou parte do salário, R$ 1 mil, e investiu para ganhar mais que o dobro nos BETs da vida. Eis só mais um exemplo de brasileiro que dorme amargurado.