A agência Mynd, a maior do setor de marketing de influência, fundada em 2017 pela jornalista e psicóloga Fátima Pissarra, foi o epicentro da crise. Os contratos com perfis de fofoca propensos à desinformação e publicações coordenadas já haviam sido objeto de reportagens em 2021 e 2022.

Com 450 agenciados, 400 funcionários e um faturamento anual de R$ 350 milhões, a agência representa uma série de celebridades, incluindo as cantoras Luísa Sonza, Pabllo Vittar, Cleo e Preta Gil, além de influenciadores como a ex-Fazenda Deolane Bezerra, e os ex-BBB Gil do Vigor, Babu Santana, Thelminha e Thais Braz.

A Mynd é acusada por veículos, perfis e parlamentares antipetistas e bolsonaristas, de ser uma espécie de “gabinete do ódio”da esquerda, o que marcou o governo passado. Entretanto, a primeira empresa de Pissarra, a Music2, promoveu ações publicitárias e fez contratos com a gestão de Dilma Rousseff (PT), e a Mynd atuou com os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

A crise se agravou com o suicídio da jovem Jéssica Canedo, que foi alvo de mentiras difundidas por perfis de fofoca nas redes sociais. A Mynd e sua CEO, Pissarra, foram criticadas por sua associação com esses perfis. O maior deles, o Choquei, já foi agenciado pela Mynd e continuou a firmar contratos pontuais com a agência mesmo após deixar de ser um cliente regular.

Outro perfil, o Garoto do Blog, que foi o primeiro a espalhar as mentiras sobre Jéssica, era cliente da Mynd quando o escândalo estourou. A Mynd suspendeu o contrato enquanto aguardava as investigações da polícia sobre o caso.

A situação se complicou ainda mais quando a Mynd lançou uma campanha em 2022 incentivando os jovens a tirar título de eleitor, uma faixa etária em que Lula tinha ampla vantagem sobre Bolsonaro. Muitos dos agenciados da Mynd declararam voto no petista.

Os ataques à Mynd e a Pissarra intensificaram-se após a disseminação de um vídeo do influenciador Daniel Penin, associando a agência e a empresária à tragédia. O YouTube só colocou um alerta de que “o conteúdo a seguir pode conter temas sobre suicídio ou automutilação” depois que o vídeo já tinha mais de 4 milhões de visualizações.

Hackers vazaram contratos da empresa e Pissarra relata que ela e sua família têm sofrido ameaças. Ela atribui os ataques à política de diversidade de sua agência, que emprega mais de 50% de funcionários negros, mulheres e LGBTQIA+. No entanto, ela se recusa a assumir responsabilidade no caso, afirmando que a Mynd apenas vende publicidade para seus contratados, sem interferir no conteúdo.