O Atlético Mineiro é o Vila Nova que deu certo

27 novembro 2014 às 00h26

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O Galo saiu do fundo do poço para, em menos de dez anos, A trajetória negativa guarda algumas semelhança com a do Tigrão, que ainda aguarda sua redenção
Elder Dias
Um time popular, de torcida barulhenta com fama de fanática, com um arquirrival mais rico, mais cheio de títulos e mais poderoso. Poderíamos estar falando de uma disputa antiga em Goiás, mas a cena é em Belo Horizonte.
Há menos de dez anos, mais precisamente em 2005, o Atlético Mineiro era um clube próximo da ruína. O dono do primeiro título (conquistado em 1971) daquilo que passou a ser considerado o Campeonato Brasileiro estava rebaixado para a Série B. Vivia efetivamente sua pior fase.
Voltou à Série A em 2007, como campeão da Segundona. O Galo ainda penou alguns anos, mas, a partir da segunda década do século, deixou os voos de pato para alçar altitudes bem maiores. A diferença? Um homem: Alexandre Kalil, que assumiu a presidência do clube em 2010, saneou as dívidas e tomou atitudes ousadas, como a de bancar a vinda do talentoso, mas caro, Ronaldinho Gaúcho. No fim de 2012, o time conquistava o vice brasileiro.
O melhor viria no ano seguinte: campeão da Copa Libertadores da América, em uma conquista épica. Daria (e dá) um belo script cinematográfico. Basta não falar do Mundial Fifa, no fim do ano, que foi só decepção.
O auge parecia ter passado, mas… eis que o Galo supera Corinthians e Flamengo em viradas históricas na Copa do Brasil e conquista o título do torneio em cima de ninguém menos do que o arquirrival Cruzeiro. A parte 2 do filme está agora garantida.
Guardadas as devidas proporções, a saga do alvinegro de Minas poderia inspirar o colorado goiano. É que por lá a ascensão do Atlético trouxe um novo ânimo também para o Cruzeiro. O resultado: o futebol mineiro conquistou dois Brasileiros, uma Copa do Brasil e uma Copa Libertadores em apenas dois anos.
O Vila Nova está no fundo do poço. Bi-rebaixado em 2014, vai disputar a Segundona estadual e a Terceirona nacional. Está sem pagar seus atletas, alguns há cinco meses. Vai jogar a última partida do ano com moleques do time juvenil.
E agora, quem poderá defender a tradição do Tigrão da Vila Famosa? Eu, pessoalmente, não sei. Já apostei em Leonardo Rizzo e Carlos Alberto Barros, uma dupla com cacife financeiro e poder no clube. Estavam na diretoria neste ano desastroso, ainda que não no comando executivo, e agora perderam qualquer credibilidade.
A salvação do Vila, um time à imagem e semelhança do Galo mineiro no que diz respeito à volúpia e ao sofrimento, ainda está na chegada de seu Alexandre Kalil. Alguém que esteja menos interessado em negócios pessoais e futricas de grupelhos e mais em assumir uma verdadeira liderança que mude o rumo do outrora respeitado Tigrão da Vila Famosa.
É preciso mudar a trajetória do Vila em 180 graus e acelerar de volta. Ou será o fim. Um triste fim, a propósito, que pode selar um destino trágico para todo o futebol goiano.