Ante tanta crise e instabilidade, eleitores se mostram mais preocupados com competência e experiência do que com puro combate à corrupção

Amazonino Mendes e Lula: governador e futuro presidente? População quer mudança, mas com segurança | Fotos: reprodução/ Facebook e Roberto Stuckert Filho

Escrever sobre eleições, ainda mais a um ano do pleito, é sempre uma tarefa árdua. E ingrata. Há uma infinidade de fatores que podem mudar todo o cenário da noite para o dia. Basta pegar o exemplo de 2014: a morte de Eduardo Campos (PSB), que além de chocar o Brasil fez sua substituta, Marina Silva (hoje na Rede), decolar nas pesquisas. Até uma semana antes do primeiro turno, vários “especialistas” apostavam em um duelo inédito entre duas mulheres pelo posto mais alto da República. Por fim, a tradicional disputa PTxPSDB culminou na reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

Muito aconteceu desde que a petista reassumiu o cargo. Crise econômico-política, manifestações, Lava Jato, impeachment, Michel Temer, reformas, mais crise, delação da JBS… O horizonte tupiniquim está mais incerto do que nunca. Há quem aposte que 2018 será o ano da mudança. Que o brasileiro, farto de tanta corrupção e incompetência, optará por representantes com novas ideias, práticas e até mesmo perfil.

Eu discordo.

Neste domingo (27/8), o Amazonas elegerá ninguém menos que Amazonino Mendes (PDT) como novo governador. Aos 77 anos, um dos políticos mais tradicionais do Estado deixou o ostracismo para assumir uma candidatura com o cretino slogan “Quem ama, reconstroi”. Prometeu “arrumar a casa” em 12 meses (mesmo tendo 15) e fazer um governo de transição até as eleições de 2018. Ele derrotará outro nome nada estranho para os amazonenses: o também ex-governador Eduardo Braga (PMDB). A disputa de dois caciques locais é um forte indício do que está por vir no ano que vem.

Apesar de ter podido escolher entre nove candidatos no primeiro turno — incluindo uma aposta da renovação local, a deputada Rebecca Garcia (PP) –, o eleitorado do Amazonas preferiu “o tradicional”: dois políticos experimentados, mas que colecionam denúncias de corrupção e uso indevido do recurso público. A despeito das paixões e dos extremistas de plantão — que serão capazes até de atacar a capacidade intelectual do povo do Norte –, a eleição suplementar indica uma tendência de que os eleitores não querem só o novo.

O “novo” precisa vir acompanhado de algo mais: talvez um fiador, como na São Paulo dos tucanos João Doria e Geraldo Alckmin, ou na Bahia dos petistas Rui Costa e Jacques Wagner. A liderança de Lula (PT) em todas as pesquisas já divulgadas ao Palácio do Planalto corrobora com o argumento de que é preciso ter um “plus”. Mesmo bombardeado pela mídia e pelo Judiciário, o ex-presidente é visto pelo povo como uma mudança relativamente segura. Seria trocar o que está aí — Temer e seu time campeão em denúncias –, mas com alguma garantia.

A eleição de 2018 pode surpreender e frustar os especialistas de plantão. A crise sem precedentes que assola o país desde 2015 dá sinais de que não influenciou o eleitor a grandes revoluções. Muito pelo contrário, cansado de tanto sofrimento e descaso do poder público, o povo (no sentido mais puro da palavra, não apenas a classe média metida a rica que tem dominado, de forma equivocada, o noticiário de todo o país) quer alguma segurança. Mesmo que os candidatos enfrentem problemas judiciais, como Amazonino Mendes e Eduardo Braga, mas tenham serviço prestado e possuam o suficiente para fazer o básico: garantir o arroz com feijão na mesa dos mais pobres.

Veremos no ano que vem, uma vez mais, a disputa PTx PSDB? É provavél que sim. Lula e Geraldo Alckmin (não acredito na indicação de João Doria), independente das denúncias às quais respondem, me parecem os dois candidatos com maior capacidade político-administrativa para guiar esse trem desgovernado que virou o Brasil. Mesmo em lados opostos, os dois detêm as características de “mudança segura” que a população parece estar procurando.

2018 é logo ali.