O livro, com 536 páginas, conta com posfácio da escritora Socorro Acioli e contém uma ampla cronologia da vida e da obra do escritor

Em 1968, trabalhando na Editora Bloch, no Rio, tive oportunidade de visitar o escritor José J. Veiga (1915-1999) algumas vezes.

José J. Veiga morava num edifício de frente para o mar vizinho do Edifício Manchete. Nascido em Corumbá de Goiás, em 1915, o escritor foi amigo de infância de meu pai, o poeta Benedito Odilon Rocha, e irmão de sangue de Geraldo Magela Veiga, irmão adotivo de meu pai.

Desde muito jovem, José J. Veiga dominava o idioma inglês e trabalhou em Londres na Rádio BBC.

Depois, no Rio, trabalhou na revista Seleções (onde também trabalhou o jornalista, biógrafo e escritor Ruy Castro), para a qual traduzia grandes romances de modo resumido (vale frisar que, para as editoras, traduzia livros completos, como os contos do escritor americano Ernest Hemingway). Esse trabalho acabou criando a sua prosa singular que o tornou grande escritor.

José J. Veiga, mestre na arte do conto | Foto: Reprodução

Há quem atribua a Millôr Fernandes a divulgação de José Saramago no Brasil. Mas tudo indica que o primeiro grande escritor a apresentar o Nobel de Literatura português ao leitor brasileiro foi José J. Veiga, que escreveu as orelhas do romance “Levantado do Chão”.

Uma boa notícia: a Editora Companhia das Letras está lançando uma edição especial com os “Contos Reunidos” (536 páginas), de José J. Veiga, com prefácio da escritora Socorro Acioli e ampla cronologia.

Socorro Acioli diz do escritor goiano, um dos ases do realismo mágico no Brasil: “José J. Veiga precisa ser lido no lugar justo de um de nossos melhores prosadores. Um contista exemplar. Veiga tem muito a ensinar ao nosso tempo”.

Pode-se dizer que, como contista, é uma espécie de Hemingway dos trópicos. Um mestre da contenção e do equilíbrio.

A Companhia das Letras está publicando toda a obra de José J. Veiga, acompanhada de excelente fortuna crítica, como análise de Silviano Santiago, um dos mais importantes críticos literários do país.

O nome de batismo do escritor é José Jacinto Veiga, mas ele assinava seus livros apenas como José J. Veiga. Amigo de Guimarães Rosa, um dia recebeu a sugestão de adotar José J. Veiga, “escondendo” o Jacinto. O autor de “Grande Sertão: Veredas” buscou ajuda na numerologia para definir o nome literário do contista e romancista.