Chumbo em quem?
02 junho 2014 às 10h27
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A TV Cultura tem a melhor programação adulta (sem eufemismos) do sinal aberto no Brasil, apesar dos solavancos recentes.
Mas sua programação infantil está, sem exagero, entre as melhores do mundo. Em fevereiro passado, por exemplo, a Cultura ganhou o prêmio Emmy – o Oscar da televisão – com a série infanto-juvenil “Pedro & Bianca”.
A TV pública brasileira derrotou atrações da Dinamarca, Irlanda e Japão. Para um país que restringiu a qualidade da televisão aos canais pagos, não é pouca coisa.
Em Goiás, a TV Cultura chegou com atraso, retransmitida pela estadual TBC (TV Brasil Central, canal 13), em 1996. Para quem se ressentia da qualidade na TV aberta num tempo em que os canais pagos eram proibitivos, foi uma vitória.
Da minha parte, posso dizer que “Castelo Rá Tim Bum”, “ Nossa Língua Portuguesa”, “Vestibulando” e “Roda Viva” me livraram do tédio e da burrice imperantes naquele fim de século.
Mas os tempos são outros. Em Goiás, agora, as crianças podem assistir na Cultura – aliás, na TBC Cultura – sempre às 11 da manhã, ao singelo programa “Chumbo neles”.
Policial abjeto, o “Chumbo neles” exibe cenas de puro horror logo antes do almoço para adultos de mau gosto e crianças de má sorte que, não fossem as tenebrosas escolhas da TV do governo do estado, estariam assistindo a uma programação digna do prêmio Emmy – o oscar da televisão.
O programa de Batista Pereira – é este o nome do apresentador do “Chumbo Neles” que começou no “grosso” –, é certamente merecedor do prêmio “m…” – a escória da televisão.
A TBC Cultura tem outras pérolas em sua programação, como um ridículo “Programa Aplauso”. Mas aquele é apenas um rescaldo do colunismo social que se praticava em princípioos do século XX: uma frívola diversão para adultos frívolos.
Já o tal “Chumbo …” invade, com o sol a pino, uma das melhores programações infantis do mundo para destilar nas crianças goianas sua crueldade, seu mau gosto, sua vileza.
Quanto ao governo estadual – dono da maltratada TBC Cultura –, merece os parabéns pela versatilidade.
Afinal, não é para qualquer governo realizar um FICA para quem lá pode ir e proporcionar um circo macabro a quem aqui tem que ficar. “Chumbo neles”?