As relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela têm sido marcadas por complexidades e desafios. Recentemente, a decisão do Brasil de vetar a inclusão da Venezuela no BRICS e a crise territorial envolvendo a região do Essequibo desencadearam uma série de reações adversas por parte do governo de Nicolás Maduro. Esses acontecimentos lançam luz sobre a eficácia das políticas adotadas pelos Estados Unidos em relação ao regime venezuelano e colocam em perspectiva as estratégias diplomáticas brasileiras.

Em outubro de 2024, durante a cúpula do BRICS, o Brasil vetou a inclusão da Venezuela como país parceiro do bloco. Essa decisão foi alinhada com a posição brasileira de que a Venezuela não atendia aos critérios necessários para a adesão, especialmente em termos de governança e estabilidade política. O governo brasileiro expressou preocupações sobre o aumento da repressão política na Venezuela e a falta de transparência em processos eleitorais recentes.

Imagem publicada em redes sociais pela Polícia Nacional da Venezuela

Em resposta ao veto, o governo venezuelano classificou a decisão brasileira como uma “agressão inexplicável e imoral”. A tensão aumentou quando a Polícia Nacional da Venezuela publicou uma imagem nas redes sociais mostrando uma figura sombreada semelhante ao presidente Lula, acompanhada da frase: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Essa postagem foi interpretada como uma ameaça direta ao líder brasileiro, evidenciando o agravamento das relações bilaterais.

Paralelamente, a disputa territorial entre Venezuela e Guiana pela região do Essequibo intensificou-se. A Venezuela reivindica a área rica em recursos naturais, enquanto a Guiana, apoiada por decisões internacionais, mantém sua soberania sobre o território. O Brasil, que compartilha fronteiras com ambos os países, adotou uma postura de neutralidade, defendendo a resolução pacífica do conflito e oferecendo-se como mediador. Os Estados Unidos, por sua vez, expressaram apoio à Guiana, condenando qualquer tentativa de anexação forçada por parte da Venezuela. Essa posição americana reflete sua política de contenção a regimes autoritários e de apoio a nações democráticas na região.

Historicamente, setores da esquerda brasileira têm demonstrado solidariedade a regimes autoritários sob a justificativa de alinhamento ideológico ou oposição ao imperialismo ocidental. Essa tendência é evidenciada pelo apoio a governos como o de Cuba, Venezuela e Nicarágua, mesmo diante de denúncias de violações de direitos humanos e repressão política. A recente crise com a Venezuela expõe as contradições dessa postura, uma vez que o apoio incondicional a regimes autoritários pode resultar em prejuízos aos interesses nacionais brasileiros. A ameaça velada ao presidente Lula por parte de uma instituição venezuelana levanta questionamentos sobre a reciprocidade e a lealdade desses regimes em relação ao Brasil.

A postura da esquerda brasileira e de muitos de seus aliados internacionais em relação a conflitos globais como a guerra entre Rússia e Ucrânia e os conflitos entre Israel e grupos insurgentes como Hamas e Hezbollah expõe uma contradição notável. Ao apoiar a Rússia de Vladimir Putin, sob o argumento de resistir à “influência imperialista” dos Estados Unidos e da OTAN, a esquerda ignora as violações de soberania e os ataques diretos à Ucrânia, um país independente e democraticamente eleito. Ao justificar ou minimizar as ações russas, esses grupos se posicionam contra os princípios de autodeterminação e democracia, que afirmam defender em outros contextos.

Em contraste, quando se trata do conflito entre Israel e grupos insurgentes como Hamas e Hezbollah, a esquerda rapidamente condena Israel, acusando-o de agressão desproporcional. Esse posicionamento ignora que tanto o Hamas quanto o Hezbollah realizam ataques deliberados contra civis israelenses e são amplamente reconhecidos como grupos que recebem apoio e financiamento de regimes autoritários, como o do Irã. Apesar das evidências de que esses grupos operam sob a lógica de ataques indiscriminados, a esquerda frequentemente justifica suas ações, retratando-os como “movimentos de resistência” contra a ocupação, ignorando o direito de Israel de se defender contra ataques diretos.

Essa hipocrisia evidencia um duplo padrão: enquanto a esquerda adota uma retórica anti-imperialista seletiva ao apoiar regimes autoritários como o russo ou o iraniano, condena qualquer tentativa de defesa por parte de democracias aliadas aos EUA. A justificativa para o apoio à Rússia e a tolerância para com grupos insurgentes como o Hamas e o Hezbollah indicam que o alinhamento ideológico é priorizado em detrimento de princípios universais de paz, democracia e direitos humanos. Esses posicionamentos contraditórios revelam uma falta de comprometimento com valores fundamentais e colocam em xeque a legitimidade de suas críticas no cenário internacional.

A tentativa do governo brasileiro de adotar uma postura mais conciliadora com a Venezuela resultou em uma resposta agressiva por parte de Caracas. A publicação da imagem ameaçadora e as declarações inflamadas do governo venezuelano colocam o Brasil em uma posição delicada, questionando a eficácia de sua política externa em relação a regimes autoritários. Além disso, a crise do Essequibo e o posicionamento brasileiro de neutralidade podem ser interpretados como falta de firmeza diante de disputas territoriais que afetam a estabilidade regional.

Os recentes desdobramentos nas relações entre Brasil e Venezuela evidenciam os desafios de lidar com regimes autoritários que não demonstram disposição para o diálogo construtivo. A postura assertiva dos Estados Unidos em relação a Nicolás Maduro, frequentemente criticada por alguns setores, mostra-se agora justificada diante das ações hostis de Caracas. O Brasil, ao buscar uma aproximação, enfrenta uma resposta que não apenas compromete suas relações bilaterais, mas também coloca em xeque sua estratégia diplomática na região. Além disso, a histórica tendência da esquerda brasileira de apoiar regimes autoritários é colocada em evidência, sugerindo que tal postura pode, em última instância, prejudicar os interesses nacionais e a segurança do país.

Antônio Caiado | Foto: Acervo Pessoal

Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 102º Batalhão de Operações de Informação como Primeiro Sargento (1SG), liderando grupos de soldados em busca de informações que possam facilitar as estratetgias militares americanas em solo estrangeiro.