“Na ala 3 feminina da Casa de Prisão Provisória”
17 outubro 2015 às 09h39
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Antônio Lopes
Esta semana aconteceu mais uma rodada de palestra multiprofissional composta por trabalhadores da saúde, Judiciário, assistência social, jornalismo e voluntários da Igreja junto ao público feminino — em situação de liberdade restringida — composto por cerca de 140 mulheres, em sua grande maioria aguardando julgamento por infringir os artigos 33, 157 e 233 do Código Penal brasileiro. A liberdade não se conquista da boca para fora, mas do peito para dentro.
Na Ala 3 Feminino da Casa de Prisão Provisória (CPP) da capital goiana, meninas entre 18 e 72 anos de idade convivem e dividem suas realidades, concretas, em espaço cercado por cimento, trancadas a sete chaves. Em meio a elas, cinco crianças recém-nascidas, duas do sexo masculino, as quais vão crescendo de braços em braços, em meio a muitas histórias, todas elas reais.
Ali a vida torna-se, mais uma vez, mercadoria e fetiche na busca por esperança e liberdade. A cada canto do corredor de acesso à caverna iluminista — ou, num movimento inverso, de volta às luzes da escuridão pós-moderna —, ecoa o horror no som metálico das chaves, símbolo do poder ali exercido e negociado naquele que é o verdadeiro ninho da serpente.
Trancafiadas, mulheres em formação dividem com as idosas, pejorativamente chamadas “vovós do tráfico”, o espaço comum. Territórios delimitados por fios emendados atados do teto ao piso de cimento frio, posses e espaços destinados ao namoro em dia de visita. Segundo Foucault, “a racionalidade formal manipulatória obstina-se por fundar a impossibilidade de um conhecimento racional sobre o real”.
Sob a grande tenda em concreto cercada por grades, trancafiada a sete chaves e vigiada diuturnamente por agentes carcerários, a Ala 3 Feminino da CPP, hoje, restringe dezenas de almas, ainda vivas, que respiram por frestas o gás da coerção judicializada na restrição da liberdade. Há ânsia e sonho por liberdade, reconstrução de vida, recomeço fora da cela, para além dos muros e, segundo relatos de muitas delas, longe do convívio com o parceiro ou parceira, preso ou que ainda “tá de boa lá fora”.
A faculdade humana de conhecer o real, em sua objetividade, esbarra num estruturalismo engendrado, segundo o filósofo marxista Nelson Coutinho, “pela concepção pancreática do poder […] que tudo envolve e domina, revela-se tão tenebroso e monolítico quanto aquele descrito em sua fase arqueológica, sobretudo porque sua genealogia sustenta uma concepção de um poder transcendente sem sujeito”.
Ali há muito que ensinar, aprender e apreender. O ego de muitos mestres os pendura na parede do orgulho, junto às titularidades, mas a realidade salta aos muros da academia. Preso e encarcerado, o ser social, ator do que acontece a cada esquina, ao vivo e em cores, promove a dialética das relações sociais. Essas se dão de olhos nos olhos, mãos dadas e através de direitos delegados, seja no ninho da andorinha, no olho da serpente ou sob as asas da liberdade.
Antônio Lopes é assistente social, mestrando em Serviço Social (PUC-GO), pós-graduando em Filosofia (Nova Acrópole) e aluno especial em Direitos Humanos (UFG).
“Não haverá mais gestor como Pedro Wilson”
KEILA DAMACENO
Gestor público como Pedro Wilson (PT) não haverá mais. Como prefeito de Goiânia, não investiu em propaganda política: investiu em educação, pagou precatórios paralisados há 28 anos. Esse foi o único político em quem senti orgulho de votar desde os meus 16 anos. Pena que não quis continuar a se candidatar em meio a essa lama nojenta que é a política.
Keila Damaceno é advogada.
“Estamos mesmo ‘bem’, com nossos governos”
MARIA LUIZA RODRIGUES
Governo de São Paulo tratando de esconder material que possa incriminá-lo; Prefeitura de Goiânia devastando a cidade cortando árvores e praças; governo do Estado de Goiás militarizando escolas; governo federal apostando em desmatamento e hidrelétricas. É, estamos mesmo bem.
Maria Luiza Rodrigues Souza, doutora em Antropologia, é professora da Faculdade de Ciências Sociais da UFG.
“Dificuldades práticas para coibir violência”
VALÉRIA MORAIS LESSA
Trata-se de um problema que atinge, na maioria das vezes, o sexo feminino e não costuma obedecer nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico, como poderiam pensar alguns. Em alguns casos, o abuso do álcool é um forte agravante da violência doméstica física. A embriaguez patológica é um estado em que a pessoa que bebe torna-se extremamente agressiva, às vezes nem se lembrando com detalhes do que tenha feito durante essas crises de furor e ira. Nesse caso, além das dificuldades práticas de coibir a violência, geralmente por omissão das autoridades — ou porque o agressor quando não bebe “é excelente pessoa”, segundo as próprias esposas, ou porque é o esteio da família e se for detido todos passarão necessidade —, a situação vai persistindo. Lamentável! [“Violência contra as mulheres prova que a civilização não exclui a barbárie”, Jornal Opção 2099]
“Damos extrema audiência à violência”
JORGE ANTÔNIO MONTEIRO DE LIMA
Infelizmente, o ser humano pós-moderno é bruto. Existe muito poder e pouco amor pessoal e ao próximo. Damos extrema audiência à violência e pouca atenção ao que realmente é importante. Homens e mulheres estão embrutecidos e o aumento da violência urbana e social está ligado a isto.
Jorge Antônio Monteiro de Lima é psicólogo e escritor.