Antônio Lopes

Esta semana aconteceu mais uma rodada de palestra multiprofissional composta por trabalhadores da saúde, Judiciário, assistência social, jornalismo e voluntários da Igreja junto ao público feminino — em situação de liberdade restringida — composto por cerca de 140 mulheres, em sua grande maioria aguardando julgamento por infringir os artigos 33, 157 e 233 do Código Penal brasileiro. A liberdade não se conquista da boca para fora, mas do peito para dentro.

Na Ala 3 Feminino da Casa de Prisão Provisória (CPP) da capital goiana, meninas entre 18 e 72 anos de idade convivem e dividem suas realidades, concretas, em espaço cercado por cimento, trancadas a sete chaves. Em meio a elas, cinco crianças recém-nascidas, duas do sexo masculino, as quais vão crescendo de braços em braços, em meio a muitas histórias, todas elas reais.

Ali a vida torna-se, mais uma vez, mercadoria e fetiche na busca por esperança e liberdade. A cada canto do corredor de acesso à caverna iluminista — ou, num movimento inverso, de volta às luzes da escuridão pós-moderna —, ecoa o horror no som metálico das chaves, símbolo do poder ali exercido e negociado naquele que é o verdadeiro ninho da serpente.

Trancafiadas, mulheres em formação dividem com as idosas, pejorativamente chamadas “vovós do tráfico”, o espaço comum. Territórios delimitados por fios emendados atados do teto ao piso de cimento frio, posses e espaços destinados ao namoro em dia de visita. Segundo Foucault, “a racionalidade formal manipulatória obstina-se por fundar a impossibilidade de um conhecimento racional sobre o real”.

Sob a grande tenda em concreto cercada por grades, trancafiada a sete chaves e vigiada diuturnamente por agentes carcerários, a Ala 3 Feminino da CPP, hoje, restringe dezenas de almas, ainda vivas, que respiram por frestas o gás da coerção judicializada na restrição da liberdade. Há ânsia e sonho por liberdade, reconstrução de vida, recomeço fora da cela, para além dos muros e, segundo relatos de muitas delas, longe do convívio com o parceiro ou parceira, preso ou que ainda “tá de boa lá fora”.

A faculdade humana de conhecer o real, em sua objetividade, esbarra num estruturalismo engendrado, segundo o filósofo marxista Nelson Coutinho, “pela concepção pancreática do poder […] que tudo envolve e domina, revela-se tão tenebroso e monolítico quanto aquele descrito em sua fase arqueológica, sobretudo porque sua genealogia sustenta uma concepção de um poder transcendente sem sujeito”.

Ali há muito que ensinar, aprender e apreender. O ego de muitos mestres os pendura na parede do orgulho, junto às titularidades, mas a realidade salta aos muros da academia. Preso e encarcerado, o ser social, ator do que acontece a cada esquina, ao vivo e em cores, promove a dialética das relações sociais. Essas se dão de olhos nos olhos, mãos dadas e através de direitos delegados, seja no ninho da andorinha, no olho da serpente ou sob as asas da liberdade.

Antônio Lopes é assistente social, mestrando em Serviço Social (PUC-GO), pós-graduando em Filosofia (Nova Acrópole) e aluno especial em Direitos Humanos (UFG).

“Não haverá mais gestor como Pedro Wilson”

KEILA DAMACENO

Gestor público co­mo Pedro Wilson (PT) não haverá mais. Como prefeito de Goiânia, não investiu em propaganda política: investiu em educação, pagou precatórios paralisados há 28 anos. Esse foi o único político em quem senti orgulho de votar desde os meus 16 anos. Pena que não quis continuar a se candidatar em meio a essa lama nojenta que é a política.

Keila Damaceno é advogada.

“Estamos mesmo ‘bem’, com nossos governos”

MARIA LUIZA RODRIGUES

Governo de São Paulo tratando de esconder material que possa incriminá-lo; Prefeitura de Goiânia devastando a cidade cortando árvores e praças; governo do Estado de Goiás militarizando escolas; governo federal apostando em desmatamento e hidrelétricas. É, estamos mesmo bem.

Maria Luiza Rodrigues Souza, doutora em Antropologia, é professora da Faculdade de Ciências Sociais da UFG.

“Dificuldades práticas para coibir violência”

VALÉRIA MORAIS LESSA

Trata-se de um problema que atinge, na maioria das vezes, o sexo feminino e não costuma obedecer nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico, como poderiam pensar al­guns. Em alguns casos, o abuso do álcool é um forte agravante da violência do­més­tica física. A embriaguez patológica é um estado em que a pessoa que bebe torna-se extremamente agressiva, às vezes nem se lembrando com detalhes do que tenha feito durante essas crises de furor e ira. Nesse caso, além das dificuldades práticas de coibir a violência, geralmente por omissão das autoridades — ou porque o agressor quando não bebe “é excelente pessoa”, segundo as próprias esposas, ou porque é o esteio da família e se for detido todos passarão necessidade —, a situação vai persistindo. Lamentável! [“Violên­cia contra as mulheres prova que a civilização não exclui a barbárie”, Jornal Opção 2099]

“Damos extrema audiência à violência”

JORGE ANTÔNIO MONTEIRO DE LIMA

Infelizmente, o ser humano pós-moderno é bruto. Existe muito poder e pouco amor pessoal e ao próximo. Damos extrema audiência à violência e pouca atenção ao que realmente é importante. Homens e mulheres estão embrutecidos e o aumento da violência urbana e social está ligado a isto.

Jorge Antônio Monteiro de Lima é psicólogo e escritor.