“A grande mídia quer livrar os responsáveis pelo crime de Mariana”
14 novembro 2015 às 10h47
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Alexandre Araújo Costa
A grande mídia está começando a repercutir de maneira irresponsável que houve “abalos sísmicos” na região de Mariana (MG). Trata-se de uma cumplicidade inaceitável da mídia com as corporações. Essas matérias não passam de factoides plantados pela Vale e BHP, donas da Samarco S.A.
A escala Richter é logarítmica, ou seja, um abalo de intensidade 8 não é duas vezes maior que um de abalo 4. Ele é 10 mil vezes mais forte. Aliás, a cada ponto na escala, a intensidade cresce dez vezes. Como bem mostra a tabela Richter, abalos inferiores a 2 sequer são sentidos por nós. Só a sensibilidade do equipamento (sismógrafo) permite que se saiba que ele aconteceu.
Acima de 5,0 pode haver danos, mas eles só são importantes se a construção for frágil, de má qualidade, fora de qualquer parâmetro de segurança. Estamos falando de um barraco, um casebre, uma ponte artesanal de madeira.
Estruturas de engenharia corretamente construídas devem ser capazes de suportar abalos de escala 7 ou mais, com danos, mas sem colapso. Uma represa precisa ter estrutura ainda mais resistente. É o tipo de estrutura que só tremores próximos a uma escala 9 ou mais seriam capazes de derrubar.
Movimentos sísmicos de menos de 2,0 na escala Richter ocorrem o tempo todo! Milhares deles todo dia. E ninguém os sente, de tão fracos! Então, falar de “abalos sísmicos na região de Mariana” num momento como esse, quando se sabe que, para haver qualquer relação entre o desabamento da represa e atividade geológica seria necessário um terremoto 100 milhões de vezes mais intenso do que os tremeliques observados, é pura má-fé.
A grande mídia quer livrar a cara da grande mineração. Corporação de braços dados com corporação. Alguma surpresa?
Alexandre Araújo Costa é professor titular da Universidade Estadual do Ceará, doutor em Ciências Atmosféricas pela Universidade do Colorado (EUA), PhD pela Universidade de Yale (EUA) e integra o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.
“Não é acidente; é crime ambiental por negligência”
Roberson Guimarães
A Samarco Mineração S.A. é uma empresa dirigida à mineração, beneficiamento, pelotização e exportação de minério de ferro. O controle acionário da empresa está dividido igualitariamente entre a Companhia Vale e a BHP Billiton. Essencialmente, toda a produção da companhia é vendida para siderúrgicas de 25 países das Américas, Ásia, África, Europa e Oriente Médio. Não é um absurdo que os meios de comunicação só se preocupem em solicitar da população ajuda com donativos para os desabrigados quando a responsável pela tragédia é uma multinacional biliardária? Só mais uma coisinha: isso não é um acidente. É crime ambiental por negligência do responsável.
Roberson Guimarães é médico.
“Governador Valadares sofre a morte que exala do Rio Doce”
Samuel Zatta
Vocês não têm ideia do que estamos passando em Governador Valadares. Acabou a água da cidade. Estamos sem previsão de ter o abastecimento normalizado. Água mineral para beber? Ficou o “olho da cara”. Há mau cheiro pela cidade por toda a morte que exala do Rio Doce. Em quanto tempo nossa vida volta ao normal? Estamos em calamidade pública. Porém nessa cidade tem um povo orando, clamando e pedindo socorro. Que Deus nos ajude!
Samuel Zatta é pastor e morador de Governador Valadares.
“O tempo está acabando, Brasil”
Arnaldo B. S. Neto
Uma emergência ambiental atrás da outra. O berço esplêndido se esgotou. Quando vamos deixar de ser o país que paga suas contas exportando sua natureza? O tempo está acabando para você, Brasil. Descubra outro modelo ou pereça miseravelmente na vala comum das nações fracassadas.
Arnaldo B. S. Neto é professor da Faculdade de Direito (UFG).
“Faça uma breve pausa para pensar no tempo”
Tom Coelho
Minha filha está completando 6 anos de idade. Esta é uma das mais incontestáveis provas de que o tempo voa. Afinal, ainda me recordo dela como um bebê engatinhando, pronunciando suas primeiras palavras, comemorando seu primeiro aniversário.
Já notou como nossas vidas parecem seguir orientadas por um piloto automático? Acordamos em horários regulares, tomamos um café da manhã parecido e seguimos para nossas atividades pelos mesmos caminhos, enfrentando o trânsito nosso de cada dia. Quer você seja um estudante, um atleta ou um profissional, no seu destino a rotina (do francês “routine”, o caminho muito frequentado) lhe aguarda: uma sequência de aulas para assistir, treinos extenuantes para cumprir, reuniões ou ações operacionais para realizar. No decorrer do dia, um almoço talvez insípido no mesmo restaurante ou refeitório, alguns momentos fugazes de prazer por telefone ou pessoalmente com um colega ou familiar, fechando o dia em companhia da TV, do celular ou da internet, jantando e indo dormir, para recomeçar tudo na manhã seguinte.
Faça uma breve pausa, por favor. Coloque-se defronte ao espelho e observe como a vida está passando rápido diante de seus olhos. Cabelos embranquecem ou começam a rarear, rugas instalam-se em sua face, algumas dores ocupam partes de seu corpo. Agora olhe ao redor e perceba o mesmo em relação aos seus pares: pais, irmãos, filhos, amigos.
Minha filha me proporciona ao menos dois momentos muito felizes todos os dias: quando a desperto e quando a coloco para dormir. Ao acordá-la, com pequenos beijos e abraços, sinto o calor de seu corpo ainda pequeno e o aroma de sua pele. Ao abrir os olhos e receber seu carinho, ouço o som de sua voz e toda sua disposição por iniciar mais um dia. Ela faz questão de descer as escadas em meu colo, o que ainda é possível, e exige minha companhia ao seu lado enquanto faz seu desjejum.
À noite, após o banho e o jantar, aquela pequena mocinha, agora com longos cabelos cacheados e trajando sua ainda infantil camisolinha, sobe as escadas novamente em meu colo e por alguns minutos, antes de adormecer, conversa comigo sobre suas ideias, sobre seu sonho de um dia poder voar como uma fada, sobre como ela julga sua “vida perfeita”.
Então, termino meu dia envolvido pela alegria e tomado por reflexões. É impressionante como a pureza e a inocência de uma criança têm muito a ensinar a nós adultos sobre como valorizar e celebrar cada novo dia. Neste momento, lembro-me de Shakespeare, que dizia: “O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam. Mas, para os que amam, o tempo é eterno”.
Tom Coelho é educador, palestrante e escritor. E-mail: [email protected].