Despedida escancara desconexão de Bolsonaro com o Brasil e finalmente desmobiliza público radicalizado

30 dezembro 2022 às 11h00

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A gente só vai embora quando não pertence mais naquele lugar. É o óbvio ululante. Poderia usar isso para qualquer situação. É a constatação de Milton Santos quando ele diz que só se migra quando não se tem outra perspectiva, ou de algum psicanalista para falar sobre o instinto humano de fuga em situação de perigo. O fato é que se não tivesse feito absolutamente nada errado, o atual presidente Bolsonaro não estaria em fuga para a Flórida.
Na manhã desta sexta-feira, 30, Natuza Nery explica que antes de decidir pela viagem, Bolsonaro consultou advogados e obteve avaliações na seguinte linha: sem foro, qualquer juiz de 1ª instância poderia decretar a prisão de Bolsonaro e, mesmo que ficasse poucas horas em uma delegacia, o constrangimento estaria dado.
Só que existem alguns obstáculos para a prisão de Bolsonaro. O primeiro é que mesmo perdendo o foro, é preciso que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), responsáveis por investigações da Polícia Federal contra o presidente, remetam os inquéritos para a primeira instância. É necessário comunicar o foro adequado.
Outro problema é o recesso judiciário. Então, sem um fato realmente novo, a possibilidade de prisão fica a partir de fevereiro que é quando a Justiça de fato retoma os trabalhos.
Para os bolsonaristas que ainda ficam nos quarteis ouvi ontem que esperam uma guerra civil. Discurso de despedida do cargo feito pelo presidente nesta manhã, porém, sinalizou contra os movimentos. Em pronunciamento feito em live para balanço de mandato, Bolsonaro declarou que “nada justifica tentativa de ato terrorista”, apesar de tentar desconectar a motivação dos atos de seu nome.
“Hoje em dia, se alguém comete um erro é bolsonarista. Nada justifica, aqui em Brasília, essa tentativa de ato terrorista na região do aeroporto. O elemento que foi pego, graças a Deus, que não coaduna com nenhuma situação, mas classificam como bolsonarista”, declarou. Bolsonaro chegou a comentar que os atos são pacíficos, mas criticou atos violentos.
Cerca de 8 mil agentes de segurança irão trabalhar na cerimônia de posse. A Esplanada dos Ministérios deve ser fechada a partir desta sexta-feira para a preparação do esquema de segurança e o rastreamento do local.
Alarmes sobre a segurança na posse dispararam no último fim de semana, quando a polícia de Brasília encontrou uma bomba colocada num caminhão de combustíveis. Segundo as investigações, a intenção era detoná-la no aeroporto da capital. O artefato foi desativado pelo esquadrão antibomba sem causar estragos.