Iris pavimentou o caminho para a reeleição, mas tinha um coronavírus no caminho
14 junho 2020 às 00h00

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Aos 86 anos, prefeito tem sido impedido de fazer política da forma que ele gosta: com inaugurações e misturado com o povo nos mutirões

A cada eleição, a história se repete. Iris Rezende, expert no jogo de esconde e mostra, mais uma vez tem feito mistério sobre uma possível candidatura. O cenário estava montado para que o emedebista se lançasse às urnas, para conquistar o seu quinto mandato de prefeito de Goiânia: contas em dia e um pacotão de obras programas para serem entregues semanas antes da eleição. Nada novo, mas, ao longo dos anos, a estratégia se mostrou extremamente eficaz.
Mas havia uma pandemia no meio do caminho. O coronavírus chegou para virar de cabeça para baixo tudo aquilo que se achava consolidado. Tudo que era concreto, de repente esvaiu-se no ar. E, de uma hora para outra, o eleitor pode ter se despertado para o fato de que, afinal, não são apenas obras físicas que fazem uma administração.
Não se pode acusar o prefeito de omissão. Ele tem se movimentado. Transformou leitos da Maternidade Célia Câmara em unidades específicas para atendimento ao paciente com Covid-19. Especializou equipes do Teleatendimento para acompanhar, remotamente, os enfermos. Porém, mais que a questão prática, nota-se ausência de Iris Rezende na linha de frente do combate à doença.
Nas negociações com o setor produtivo – que pressiona pela reabertura de shoppings centers e das lojas da Rua 44, por exemplo –, a interlocução foi com os secretários Fátima Mrué (Saúde) e Walison Moreira (Desenvolvimento Econômico). Os empresários sentiram falta do diálogo direto com o prefeito.
Obviamente, a própria pandemia impõe restrições ao prefeito. Iris completará 87 anos em dezembro. Lá se vão mais de 60 desde que conquistou o primeiro mandato, no voto, a vereador, em 1958. Ainda que goze de perfeitas condições de saúde, de uma vitalidade e de uma lucidez invejáveis, é fato que ele é do grupo de risco para a Covid-19.
Portanto, afastar-se de aglomerações não é opcional – é obrigatório. A se manter a situação atual, não há como dar ampla visibilidade às inaugurações, mesmo pelas redes sociais. O efeito, assim, fica diluído.
Mas há exemplos de que as questões de saúde pessoal, se são limitantes, não são completamente proibitivas, mesmo porque existem muitos recursos para superar essas limitações. Em São Paulo, por exemplo, o prefeito Bruno Covas, que passa por um sério tratamento para um câncer muito agressivo, fala quase diariamente à população paulistana.
Aqui mesmo, em Goiás, o governador Ronaldo Caiado foi à linha de frente, especialmente no início da pandemia – a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que ratificou a autonomia dos municípios em questões de isolamento social, aliada à falta de apoio popular, diminuiu a margem de manobra do democrata. Caiado tem 70 anos de idade e, há poucos meses, enfrentou uma arritmia cardíaca. Portanto, também faz parte do grupo de risco.
Secretariado
Na última decisão importante da Prefeitura sobre as ações em relação à Covid-19, coube ao secretário de Governo Paulo Ortegal dar a notícia que os empresários não gostariam de ouvir: a de que, diante do avanço da doença, que está infectando e matando como nunca em Goiás, não seria possível reabrir as atividades que ainda estão paralisadas – como as academias, bares e restaurantes.
Outro sinal que deve ser interpretado é a permanência de Ortegal no secretariado, com o fim do prazo para desincompatibilização dos agentes públicos que pretendem disputar cargo eletivo em outubro. O secretário era um dos cotados à vice de Iris. Mas, a não ser que ocorra o adiamento da eleição – e que isso signifique que o prazo de desincompatibilização também seja estendido –, essa hipótese está sepultada.
Algumas pessoas próximas ao prefeito dizem que o “fico” de Ortegal garante o funcionamento da engrenagem da Prefeitura, o cronograma das obras e o combate ao coronavírus Sars-CoV-2. Sob esse olhar, a manutenção do homem-forte de Iris no cargo abre espaço para que o DEM, do governador Ronaldo Caiado, indique o próximo vice-prefeito do emedebista. Além disso, não deixaria a bola da gestão cair por causa de questões políticas. Há, porém, um outro olhar possível. Ortegal permaneceu onde estava porque não havia motivo para sair, já que não seria convocado para integrar a chapa de Iris em outubro.
Como o Jornal Opção tem demonstrado seguidamente, na Coluna Bastidores (uma das mais bem informadas do jornalismo político goiano), a possibilidade de Maguito Vilela vir a ser o candidato do MDB em Goiânia não está descartada. Ao contrário, tem sido cada vez mais discutida.
Maguito, por óbvio e por estilo, permanece calado – publicamente, claro. É fiel a Iris, não por qualquer tipo de submissão, mas por lealdade de homens que se respeitam e se admiram. O ex-prefeito de Aparecida de Goiânia deve muito de seu sucesso na vida pública a Iris. E nunca demonstrou qualquer rancor por ter sido preterido na eleição a governador em 1998 (mais de duas décadas depois, ainda há quem acredite que, tivesse sido o candidato do PMDB na época, a história política goiana teria sido diferente).
Maguito Vilela saiu revigorado da administração em Aparecida de Goiânia. Em sua gestão, o município cresceu vertiginosamente, o parque industrial se consolidou e os indicadores sociais melhoraram substancialmente. Suas virtudes, porém, não descredenciam Iris. Ao contrário, só demonstram que o MDB tem substituto à altura.
Pandemia
Voltando à pandemia. Mesmo para um político que, às vezes, parece imortal, o coronavírus trouxe desafios desconhecidos. O Sars-CoV-2 limitou muito as ações de Iris. Ele não pode, nesse momento, ser o gestor que sempre gostou de ser: misturado às pessoas, inaugurando obras, abraçando a todos em seus mutirões. Uma campanha totalmente digital descaracteriza totalmente a essência do emedebista. Essa nova forma de fazer política traria o oxigênio do qual ele sempre respirou? Certamente não.
Como um emedebista lembrou ao Jornal Opção, recentemente, a filha do prefeito, Adriana, é médica. A opinião de uma especialista em saúde pode pesar em uma decisão final. No cenário de hoje, a possibilidade de uma não candidatura pode sair da pura especulação e se tornar realidade. Ainda que, de Iris, um sim nunca será surpreendente.