Como Goiás pode ajudar, ou atrapalhar, a governabilidade de Bolsonaro e Haddad
14 outubro 2018 às 00h01

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Bancada goiana em Brasília deve estar mais próxima do candidato do PSL que o do PT

Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) se enfrentam no segundo turno das eleições, mas a principal batalha deve ser a partir de 2019 no Congresso Nacional. Independentemente de quem for eleito no dia 28 de outubro, é fato que o próximo presidente não terá a maioria de deputados federais e senadores ao seu lado. Portanto, as negociações serão necessárias para que se possa governar e, de fato, pôr em prática as promessas feitas durante a campanha.
PT e PSL são os partidos com o maior número de representantes eleitos para a Câmara dos Deputados — 56 e 52, respectivamente. Contudo, a legenda de Fernando Haddad perdeu 12 parlamentares na comparação com o pleito de quatro anos atrás, enquanto a de Jair Bolsonaro saltou de apenas um deputado federal eleito em 2014 para 56 em 2018, o que significa um crescimento de 1341%.
No Senado, o PT conquistou seis cadeiras e o PSL, quatro — o maior partido é o MDB, com 12, seguido do PSDB, com nove, e do PSD, com sete. Em 2010, quando, assim como em 2018, houve eleição para dois terços dos senadores, o PT elegeu 11 e o PSL, nenhum.
A ascensão do PSL a um dos maiores partidos do Brasil se dá única e exclusivamente pela filiação de Jair Bolsonaro na última janela partidária. O presidenciável buscava uma sigla para se candidatar, encontrou abrigo no PSL e levou consigo uma manada de políticos, dos quais muitos obtiveram resultados positivos nas urnas, alavancados, entre outros motivos, pela chamada onda conservadora.
Mas, frise-se, o número ainda é insuficiente para ter a cobiçada governabilidade. No entanto, Jair Bolsonaro tem adotado uma postura interessante a fim de conseguir base em Brasília: diálogo com grupos de pressão, como as bancadas ruralista, da bala e da arma, ao invés conversas diretamente com os partidos.
Goiás
Dos 17 deputados federais eleitos por Goiás, somente dois são do PSL — Delegado Waldir e Major Vitor Hugo — e um do PT — Rubens Otoni. Mas é possível analisar quais rumos os demais tomarão em eventuais governos de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.
Além do PSL, DEM e PP elegeram dois parlamentares. São eles: Dr. Zacharias Calil e José Mário Schreiner, do primeiro, e Professor Alcides e Adriano do Baldy, do segundo. Flávia Morais (PDT), Francisco Jr (PSD), João Campos (PRB), Glaustin da Fokus (PSC), Magda Mofatto (PR), Lucas Vergílio (SD), Elias Vaz (PSB), Célio Silveira (PSDB), Alcides Rodrigues (PRP) e José Nelto (Pode) são os outros eleitos.
Destes, Francisco Jr, João Campos, Glaustin da Fokus e Magda Mofatto estão mais inclinados a apoiar Jair Bolsonaro, caso eleito, em razão de determinadas pautas cujas posições dos parlamentares goianos são conhecidas publicamente, como porte de armas e aborto.
Em Goiás, o presidenciável do PSL conta também com o apoio do governador eleito Ronaldo Caiado (DEM), que deve ajudá-lo na aproximação com a bancada goiana. O democrata tende a atrair para Jair Bolsonaro o apoio de, no mínimo, mais quatro deputados federais: Dr. Zacharias Calil, José Mário Schreiner, Alcides Rodrigues e José Nelto.
Por outro lado, Flavias Morais e Elias Vaz são filiados a partidos que se posicionam à esquerda do centro. Neste sentido, a tendência é que não apoiem Jair Bolsonaro, mas não é certo que estejam ao lado de Fernando Haddad. O PDT, por exemplo, já declarou que será oposição mesmo se o petista vencer as eleições.
Em relação aos senadores goianos, Jorge Kajuru (PRP) apoiou Jair Bolsonaro durante a campanha. Entretanto, o radialista tem como uma de suas principais características a natureza oposicionista de denunciar quem quer que esteja no poder. Por isso, ainda é cedo parar cravar de que lado Jorge Kajuru estará.
Com a eleição de Ronaldo Caiado já no primeiro turno, o senador democrata dará lugar em Brasília ao primeiro suplente, Luiz Carlos do Carmo (MDB). Apesar de seu partido ter declarado neutralidade no segundo turno, o futuro senador deve caminhar com Jair Bolsonaro devido a sua ligação com o meio religioso — ele é irmão do bispo Oídes José do Carmo, da Assembleia de Deus.
Há deputados federais e um senador goiano que pertencem a partidos do chamado centrão, que podem garantir governabilidade a qualquer um dos dois lados. São os casos de Lucas Vergílio, Célio Silveira, Professor Alcides, Adriano do Baldy e Vanderlan Cardoso, que, mesmo sendo evangélico — o que resultaria em um apoio quase natural a Jair Bolsonaro —, esteve ao lado do PT nas eleições de 2010.
Assim, pode-se dizer que, em Goiás, Jair Bolsonaro contaria com o apoio de pelo menos dez deputados federais e um senador, além do governador. Já Fernando Haddad, sendo bem generoso, teria o respaldo de três deputados federais.
Goiás pode, dessa forma, ajudar o candidato do PSL e atrapalhar o do PT. Vale ressaltar, por fim, que, nacionalmente, o Pros apoia Fernando Haddad e, regionalmente, é representado pelo presidente estadual da sigla, Lincoln Tejota, como vice-governador de Ronaldo Caiado. Se o PT ganhar as eleições, Lincoln Tejota, mesmo não apoiando o presidenciável petista, pode vir a ser um elo entre o Estado e a União.
Atualização: Professor Alcides e Vanderlan Cardoso sinalizaram apoio a Jair Bolsonaro por meio de publicações que circulam nas redes sociais. O segundo, inclusive, aparece ao lado do ministro das Cidades e presidente estadual do PP, Alexandre Baldy. Portanto, o deputado federal eleito Adriano do Baldy, também do PP, é outro que deve aderir ao candidato do PSL.