Entenda a diferença entre assintomáticos – que, segundo a entidade, raramente transmitem a doença – pré-sintomáticos, que são altamente transmissores

Depois do vai e volta sobre as máscaras de proteção e a hidroxicloroquina, a Organização Mundial de Saúde (OMS) pecou novamente na comunicação sobre os riscos de contágio do coronavírus Sars-CoV-2. Em comunicado à imprensa, na segunda-feira, 8, a chefe do programa de emergências da entidade, Maria van Kerkhove, afirmou que a transmissão de Covid-19 por pessoas assintomáticas “parece rara”.

Em poucos minutos, a declaração repercutiu mundialmente, dando força aos argumentos de que o isolamento social de massa é uma estratégia equivocada – bastando a quarentena de pessoas com sintomas da doença. Como esclareceu a própria OMS, e muitos especialistas, a coisa não é bem assim.

A OMS destacou que há uma diferença entre “assintomáticos” e “pré-sintomáticos”. No primeiro grupo estão as pessoas que contraem o vírus, mas que, em momento algum, desenvolverá sintomas da doença. Elas representam cerca de 20% do total que teve contato com o coronavírus. O segundo inclui pessoas infectadas que desenvolverão sintomas em algum momento – ou seja, cerca de 80% do total.

O biólogo Átila Iamarino, que se transformou em uma celebridade nas redes sociais e ganhou espaço na imprensa tradicional com seus estudos sobre a Covid-19, foi um dos que fizeram o alerta. “Onde se acompanhou a transmissão e os sintomas das pessoas, a maioria dos casos de transmissão e a maior quantidade de vírus no corpo acontecem 2 a 3 dias antes dos sintomas, na fase pré-sintomática”, postou, no Twitter.

Artigos científicos

Alguns artigos científicos, como este, do Annals of Internal Medicine, apontam que cerca de 40% a 60% da propagação do vírus partem de pessoas que ainda não apresentaram sintomas, mas que, em algum momento, os terão. “É um desavio, porque mesmo se os assintomáticos transmitem pouco, você não tem como saber com antecedência quem será assintomático de fato e quem só não apresentou sintomas. Não há uma linha clara dividindo um do outro e sintomas da Covid-19 podem aparecer de repente”, postou o cientista de dados e professor do Insper Thomas Conti.

“Ou seja, temos evidências significativas que houve falha de comunicação e a OMS deveria retomar em breve o tema para explicá-lo melhor. Transmissão sem sintomas acontece. Não deixem de usar máscaras, higienizar mãos e manter distância dos outros por não ter sentido sintomas”, alertou Conti.