Tem uma cena da minissérie JK, que a Globo exibiu em 2006, que é interessante. Juscelino Kubitschek, interpretado por José Wilker, adoeceu, mas os familiares não quiseram divulgar a real situação do presidente. No Congresso, o burburinho não parou. Benedito Valadares, interpretado por Otávio Augusto, disse “eles fingem que falam a verdade e a gente finge que acredita”. Eu gosto dessas frases espirituosas dos nossos políticos.

Benedito Valadares e Juscelino Kubitschek se conheceram em 1932, quando Minas Gerais se colocou ao lado de Getúlio Vargas durante a Revolução Constitucionalista. Ele viu que o médico que cuidava dos feridos seria um bom político. Nomeado por Vargas para governar Minas Gerais logo após o conflito, Valadares não se esqueceu do Dr. Kubitschek e o convidou para ser seu chefe de gabinete de Belo Horizonte. Apesar da resistência, Valadares não arredou o pé até Juscelino aceitar. Em 1940, Benedito chamou de novo Juscelino para assumir a Prefeitura de Belo Horizonte. Surgia o “prefeito furacão”.

Às vezes, a gente coloca Benedito Valadares apenas como o homem que chamou Juscelino Kubitschek para a política. Interessante que, em seu livro de memórias, pouco se fala sobre o ex-presidente. Valadares foi um político de destaque em Minas. A nomeação para o governo mineiro em 1933 surpreendeu a todos e lançou uma frase dita até hoje “Será o Benedito?”.

Benedito Valadares pode até não ter entrado em detalhes sobre a sua relação com JK, mas o seu livro de memórias intitulado “Tempos idos e vividos”, lançado em 1966, traz casos da política. Ele recordou uma história que aconteceu durante a Revolução de 1932, no Túnel da Mantiqueira, perto da divisa entre Minas Gerais e São Paulo:
“Chegou ao Túnel, em visita ou por qualquer outro motivo, o chefe de polícia do governo Vargas, Tenente Filinto Muller. Em companhia de oficiais que o levavam para ver a frente, subimos as serras íngremes da Mantiqueira. Quando estávamos já bem no alto, apontei para outra elevação maior, do lado oposto:

  • Há um trem lá!…
  • Trem?! – perguntou admirado o chefe de polícia.
  • Trem em Minas é qualquer coisa, tenente.”

Benedito Valadares nasceu em 4 de dezembro de 1892, em Pará de Minas e morreu em 2 de março de 1973, no Rio de Janeiro, no exercício do mandato de senador. Ao longo do século XX nós tivemos grandes lideranças políticas. Algumas surgiram nas asas do getulismo como foi o caso de Benedito Valadares.