Ao contrário do que disse Vinicius de Moraes, São Paulo não é o túmulo do samba e Adoniran Barbosa é a prova de que a terra da garoa pode sim dar um bom batuque. O paulista de Valinhos, nascido em 6 de agosto de 1912, não queria saber de música quando era jovem. Seu sonho era ser um ator famoso, mas ninguém via seu talento. Adoniran bem que bateu na porta dos teatros, mas, aos poucos, ele percebeu que o negócio mesmo era a música. Com o advento do rádio, Adoniran tomou gosto pela batucada e o samba o laçou de vez. Com boa voz, logo começou a gravar discos e a fazer sucesso.

Adoniran deu um tom paulistano para o samba ao reforçar o seu sotaque. Ele descreveu as mudanças que São Paulo passou ao longo dos anos 1940 e 1950. O progresso chegou demolindo as saudosas malocas para dar lugar aos imensos arranha céus.

“Se o senhor não tá lembrado
Dá licença de contar
Ali onde agora está
Este adifício arto
Era uma casa véia, um palacete assobradado”

Ele também cantou em “Trem das Onze” a pressa de ir embora para Jaçanã e não perder a hora do trem. Deu um puxão de orelha no Arnesto que chamou a galera para o samba e não avisou que iria sair na hora marcada. Os amigos ficaram numa reiva porque era só colocar um aviso na porta.

Adoniran não ficou famoso pelo ator que desejava ser, mas pela música, pelo samba carregado de sotaque paulista que só ele poderia fazer. Vinicius de Moraes que nos perdoe, mas samba de São Paulo é fundamental.