No começo da Beatlemania, entre 1962 e 1963, deveria ser bacana entrar num estádio ou num ginásio lotado com um monte de fãs berrando por você. Eu fico imaginando os Beatles nas suas turnês pelos Estados Unidos. Tocar no Ed Sullivan Show, se apresentar no Shea Stadium… Eles deveriam estar eufóricos. Talvez lembrassem do começo da carreira no Cavern Club, a temporada em Hamburg. Talvez o empresário Brian Epstein falasse para eles: “Tá vendo? Não disse que levaria vocês para o topo?”

Mas toda euforia tem um fim. Já no final de 1965, os Beatles perceberam que não compensava mais se apresentar ao vivo e nem ouvir a própria voz por causa dos berros das fãs. Naquele ano, eles lançaram “Rubber Soul”, um álbum mais amadurecido, não era uma continuação dos shows ao vivo como foram os álbuns anteriores. Ao invés de fazer shows onde ninguém os ouvia, os Beatles começaram a pensar na hipótese de parar com as turnês e focar todas as energias no estúdio, descobrindo novos sons, buscando outros acordes.

A confirmação veio em 1966. Após incidentes na turnê pelo Oriente e a reação de extremistas à entrevista que John Lennon concedeu a uma revista inglesa afirmando que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo, definitivamente não fazia mais sentido se apresentarem em público. Ao contrário das outras turnês, quando foram recebidos como heróis, os americanos receberam os Beatles com frieza. A entrevista de Lennon ainda repercutia. Extremistas quebraram discos, queimaram fotos da banda. No dia 29 de agosto de 1966, os Beatles fizeram o último show ao vivo para o público. Foi no Candlestick Park, em São Francisco. Sem turnê, sem gritaria, os Beatles puderam elaborar melhor suas canções e fazer álbuns maravilhosos como Sgt Pepper’s, White Álbum e Abbey Road.