Quando Devair Ferreira abriu aquela cápsula e viu sair um pó azul, na noite de 13 de setembro de 1987, ele não imaginava que o encanto daquele brilho se transformaria num pesadelo. Quem viu de perto aquele brilho acabou se contaminando. O pó era o Cesio 137, um elemento químico usado em exames de raio-x. Por isso a cápsula contendo o Cesio foi encontrada na antiga sede do Instituto Goiano de Radioterapia, na Rua 4 esquina com a Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O Cesio liberado no ambiente é um risco para a saúde.

O governo de Goiás juntamente com a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) isolou a área infectada. As vitimas ficaram em barracas montadas no gramado do Estádio Olímpico. Seus pertences, tudo que construíram durante décadas virou lixo radioativo armazenado em contêineres. Homens com roupas especiais começaram o trabalho de desinfecção e também monitorar o nível de radiação das vítimas. As que estavam em situação mais grave, como a menina Leide das Neves, foram transferidas para o Rio de Janeiro.

Weber Borges escreveu o livro “Eu também sou vítima” e conta em detalhes sobre o acidente, o trabalho do governador Henrique Santillo e do seu secretário de Saúde Antônio Faleiros. A tentativa de transmitir a informação correta para não alarmar a população. Goiânia foi destaque na imprensa mundial. Ainda estava fresca na memória o acidente em Chernobyl ocorrido no ano anterior.

Além da dor das vítimas, tinha o preconceito. Leide das Neves, de apenas 6 anos, morreu e seu enterro foi marcado pela intolerância. Como se não bastasse a dor da perda, os familiares tiveram que enfrentar a fúria de alguns moradores próximo ao Cemitério Parque que não queriam aquele enterro por temer a contaminação. O caixão de Leide teve que ser carregado em um guindaste por causa do chumbo. O brilho azul contido naquela cápsula era o brilho da morte.