O comício pelas Diretas no Rio de Janeiro, em 1984, aconteceu na Avenida Presidente Vargas, perto da Igreja da Candelária. Uma multidão compareceu ao evento. Lideranças políticas e artistas se revezavam no microfone defendendo as eleições presidenciais diretas. Mas quando um senhor de cabelos brancos tomou o microfone todo mundo queria ouvi-lo. Ele lembrou o primeiro artigo da Constituição: “Todo o poder emana do povo”. Cabia então ao povo exercer o seu poder de escolher o seu Presidente. Aquele senhor se chamava Heráclito Sobral Pinto e quando ele começou a advogar, a grande maioria daquela multidão no centro do Rio de Janeiro nem tinha nascido.

Sobral nasceu em 5 de novembro de 1893 em Barbacena, Minas Gerais. Formou-se advogado na Faculdade Nacional de Direito, pois desde criança se incomodava com as injustiças. Sobral era católico, conservador, mas não via nenhum obstáculo em defender aqueles que divergiam das suas crenças e ideologias. Foi assim em 1935 quando aceitou fazer a defesa do líder comunista Luiz Carlos Prestes e, durante a ditadura de Getúlio Vargas, defendeu o alemão Harry Berger utilizando a Lei de Proteção aos Animais para que fosse tratado com dignidade enquanto estava preso.

Em 1955, a candidatura presidencial de Juscelino Kubitschek foi questionada por alguns udenistas. Lá estava Sobral passando por cima da sua simpatia pela UDN para defender a liberdade do PSD de escolher o ex-governador mineiro como seu candidato à Presidência da República. Depois da eleição, Kubitschek convidou Sobral para ser ministro do STF, mas o convite foi recusado. Para ele, o que fez nas eleições de 1955 foi o cumprimento da justiça. Nenhum cargo era maior do que as causas defendidas por Sobral.

Durante a ditadura militar, novamente os destinos de Sobral e Kubitschek se encontraram. Enquanto o ex-presidente respondia aos inúmeros inquéritos policiais militares, Sobral fez a sua defesa. Além de Kubitschek, ele defendeu outros presos políticos e denunciou as torturas que aconteciam nos porões dos quartéis. Aquele advogado franzino, já exibindo vasta cabeleira branca, não tinha medo dos esbirros militares. Em 1968, Sobral Pinto esteve em Goiânia e foi preso por não cumprir as ordens de um militar.

E no momento que a ditadura se esfarelava, do alto do palanque no comício pelas Diretas, lá estava Heráclito Sobral Pinto com a mesma firmeza de sempre sendo fiel aos seus ideais.