João Saldanha peitou a ditadura e fez a base da seleção brasileira tricampeão em 1970

05 junho 2023 às 10h05

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João Saldanha, nascido em 3 de julho de 1917, era técnico da seleção brasileira em 1969 e preparava o time que brigaria no México pelo tricampeonato. Garrincha já estava descartado. Pelé era certeza. Os Feras do Saldanha estavam quase todos escalados. Mas, em 1969, tinha um torcedor ilustre, que morava no Palácio da Alvorada, e queria porque queria escalar o time da Copa. O general Emílio Garrastazu Médici era fã de futebol e desejava ver Dadá Maravilha na seleção. O Brasil era uma ditadura e as ordens do presidente deveriam ser cumpridas ainda mais de um presidente militar que acreditava em missão dada, missão cumprida. Saldanha não se intimidou com a pressão palaciana e disse: “Eu não escalo os ministros do presidente e o presidente não escala meus jogadores”. Os militares pressionaram a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), atual CBF, e Saldanha foi demitido. Além da recusa, ele era comunista. Imagine Médici, general da linha dura, recebendo a seleção campeã ao lado de um técnico militante do Partidão?

Nos anos 1960 e 1970, a crônica esportiva brasileira contava com grandes nomes como João Saldanha, Nelson Rodrigues e Armando Nogueira. Os três participaram da primeira mesa redonda da televisão brasileira, a Grande Resenha Facit, transmitida pela Rede Globo. Imagina as discussões entre o botafoguense João Saldanha e o fluminense Nelson Rodrigues.
Além de jornalista e técnico da seleção brasileira, Saldanha também era um grande frasista. “Se macumba funcionasse, Campeonato Baiano terminaria empatado” ou “O futebol brasileiro é uma coisa jogada com música”. Em 1990, João Saldanha foi contratado pela Rede Manchete para comentar os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo realizada na Itália. Sua saúde já estava debilitada e ele morreu em 12 de julho de 1990, em Roma. Saldanha não voltaria a ver a seleção ser novamente campeã mundial e jogar bonito.