COMPARTILHAR

Carlos César Higa

O jornal “O Estado de S. Paulo”, ou simplesmente “Estadão”, é um dos jornais mais antigos ainda em circulação no Brasil. Sua primeira publicação foi em 4 de janeiro de 1875. Naquela época, o Brasil era um império governado por Dom Pedro II, com mão de obra escrava e os Estados era chamados de província. Por isso na primeira página da primeira edição do “Estadão” está escrito “A Província de São Paulo”. O nome só mudou depois da Proclamação da República, no final de 1889.

No começo da década de 1970, Carlos Lacerda, um político fora da política e dono da Editora Nova Fronteira, pretendia escrever um livro contando a história do jornal. A publicação sairia em 1975, ano do centenário do “Estadão”, mas o projeto não foi para frente. Lacerda era muito próximo da família Mesquita, dona do jornal. Ambos apoiaram o golpe de 1964 e ambos foram alvos da arbitrariedade que veio em seguida. 

Júlio de Mesquita Filho: diretor do jornal “O Estado de S. Paulo” por longo tempo | Foto: Acervo do Estadão

Todo o acervo do “Estadão” está disponibilizado no site do jornal. Pelas páginas manchadas pelo tempo — a digitalização permitiu sua preservação e acesso —, podemos ver as transformações do Brasil e do mundo desde o final do século XIX, o breve-porém-intenso século XX até desaguar nos dias de hoje.

Além disso, podemos ver as mudanças na imprensa brasileira, como o preto e branco das páginas se tornou colorido, as diferenças na forma de se escrever, a tecnologia atuando na feitura do jornal, na divulgação da notícia e na vida das pessoas.

O site Acervo Estadão traz as páginas censuradas pelas duas ditaduras que sufocaram o Brasil no século passado (a de Getúlio Vargas, de 1937 a 1945, e a dos militares, de 1964 a 1985)) e como o jornal se posicionou diante os fatos. É a História acontecendo a cada página do outrora “Província de São Paulo” e atual “Estadão”. E uma fonte de pesquisa obrigatória.

Para quem pensa que a história da imprensa é bolinho, é importante saber que Júlio de Mesquita Filho, diretor-proprietário do “Estadão”, foi preso no governo de Getúlio Vargas, na década de 1930, e exilado. Durante a ditadura, o jornal foi censurado.

Carlos César Higa é mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG).