“Em véspera de finados, finou-se Lima Barreto”
01 novembro 2024 às 10h13
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“Em véspera de Finados, finou-se o romancista Lima Barreto. O seu enterro encontrou por isso no cemitério enorme multidão. E como o cemitério era o de São João Batista, o feretro do escritor passou por entre alas de gente, a quem o luto obrigatório do dia não prejudicava o rigor elegante nem a refinada distinção”.
O jornalista João Luso escreveu para o Jornal do Comércio um texto recordando Lima Barreto, escritor que morreu em 1º de novembro de 1922. Ele escreveu linhas depois a ironia que era um escritor do subúrbio, “afeiçoado à população obscura” ser enterrado em um cemitério em “bairro aristocrático”. O São João Batista fica no bairro de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro. “Essa homenagem do último adeus dos vivos, prestou-lhe, embora sem saber a quem, a Alta Roda, o escol opulento e fulgurante da população”. Morto no dia de todos o santos e enterrado em Finados, o escritor recebeu a despedida dos grã-finos cariocas.
Lima Barreto, tal qual João Luso, escreveu para o Jornal do Comércio. Era comum no começo do século passado escritores publicarem seus romances em páginas de jornal. Lima Barreto pagou do próprio bolso a edição de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, sua publicação mais conhecida, em livro, em 1915. Uma de suas vontades era ser eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Candidatou-se três vezes, perdeu duas e na última tentativa, retirou seu nome antes da eleição.
Devido ao alcoolismo e a depressão, Lima Barreto foi internado em um hospício. Por conta da sua escrita crítica e combativa, ele foi marginalizado da crítica literária e teve muitas dificuldades para publicar seus livros. Morreu desprezado pela elite, mas seus restos mortais estão enterrados em um cemitério de elite, no Rio de Janeiro. Talvez por isso João Luso deu ênfase no artigo que prestava homenagem a Lima Barreto.
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