Depois da ditadura, Eurico Dutra se lançou candidato presidencial e Barão de Itararé podia fazer graça
09 agosto 2024 às 13h00
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“Atarefado com a campanha política e abafado com a onda de boatos, afastou-se do Ministério da Guerra o General Gaspar Dutra, abrindo uma vaga para o seu distinto colega de armas e bagagens, o General Góis Morteiro. Já amanhã os dois militares trocarão improvisos e dirão coisas amáveis entre si, segundo o hábito que se generalizou entre os oficiais de igual patente, sobretudo generais. Deixando o Gabinete Vargas, o General Dutra vai dedicar-se aos estudos de oratória inflamada preparar-se para estafantes discursos de praça pública sem direito a copo d’água. Homem de idade média, está disposto a tudo empenhar para conseguir eleitores – o que representa espírito de sacrifício. O seu substituto, por sua vez, deixou um bom emprego em Montevidéu para dar uma mãozinha na liquidação do antigo Estado Novo. Espera-se que o General Góis Morteiro inicie, depois de amanhã, uma série de entrevistas com que costuma dar enchimento aos jornaizinhos de quarenta centavos” (A Manha, dia 8 de agosto de 1945)
O jornal “A Manha”, editado por Apparício Torely, o Barão de Itararé, trazia humor ao jornalismo político brasileiro. No dia 9 de agosto de 1945, o General Eurico Gaspar Dutra deixava o Ministério da Guerra para se lançar candidato presidencial nas primeiras eleições diretas desde 1930. O General Góis Monteiro, cujo nome virou trocadilho no jornal do Barão, assumiria o ministério. O Estado Novo envelheceu e estava com os dias contados. Naquele tempo, o mundo se levantava dos escombros da Segunda Guerra Mundial e se assustava com as bombas atômicas lançadas no Japão. Aqui no Brasil, Getúlio Vargas bem que tentou ficar no poder até as eleições de dezembro de 1945, mas ele saiu pouco tempo antes, após pressão dos militares.
Os brasileiros se preparavam para viver a vida sem Vargas no poder e voltar a eleger Presidente da República pelo voto direto, secreto e fiscalizado pela Justiça Eleitoral. Dutra saiu candidato carregando consigo os eleitores varguistas. Pelo lado da oposição, a recém criada UDN também lançaria um militar como candidato: o Brigadeiro Eduardo Gomes. Aos poucos, o Brasil voltava a escolher seu presidente e a tirar um sarro dos políticos.