Em agosto de 1976, Juscelino Kubitschek estava em sua fazenda nas proximidades de Luziânia (GO). Um amigo lhe perguntou o que pretendia fazer no aniversário, já que a data se aproximava. “Pela primeira vez na minha vida, eu não tenho ideia do que vou fazer no meu aniversário”. Cassado pelos militares desde 1964, boatos sobre sua morte circulando pelas redações dos jornais, proibido de andar livremente em Brasília, os amigos morrendo ou eram alvos dos IPM’s da ditadura, o que Juscelino teria a comemorar?

O filho do caixeiro viajante João de Oliveira e da professora Julia Kubitschek nasceu em Diamantina, interior de Minas Gerais, em 12 de setembro de 1902. Era o caçula da família. Juscelino foi telegrafista e médico, mas a sua vocação era a política. Por mais que tentasse se afastar do chamado, ele não resistiu. Deputado, prefeito, governador, senador, Presidente da República. Quantos 12 de setembro ele não comemorou com os amigos dançando valsa ao som do “Peixe Vivo” nos salões nobres dos palácios onde morou e despachou.

Em 1964, ele perdeu os direitos políticos logo após o golpe militar. No ano seguinte, Juscelino e sua esposa Sarah partiram para o exílio. Começava o período de dureza e solidão. Os companheiros dos tempos de poder que tantos 12 de setembro comemoraram com ele já não tocavam a campainha para uma visita, já não enviavam um cartão de parabéns. O construtor de Brasília teve que virar fazendeiro para sobreviver. Receber os parabéns de forma discreta.

A ingratidão daqueles que subiram na vida às suas custas, a proibição de atuar na política, a família que não se reunia mais. Em agosto de 1976, Juscelino Kubitschek estava “desgostoso da vida”. Ele chegou a dizer que era mais útil ao país morto do que vivo. Poucos dias antes de completar 74 anos de vida, o ex-presidente morreu em um acidente de carro na Via Dutra. Até hoje a gente não sabe como pode o peixe vivo viver fora da água fria e nem como poderemos viver sem a sua companhia.