Confessa: você dava “Boa Noite” para o Cid Moreira a cada encerramento do Jornal Nacional. Quantas mulheres só esperavam o “Boa noite” dele para assistir o próximo capítulo da novela das 08. Ele conseguiu transformar a sua saudação final em acontecimento nacional. Até quem não faz imitações arriscava um “Boa noite” tentando imitar a voz do Cid.

Nos últimos dois anos, na última aula antes do encerramento do ano letivo, eu passava para os meus alunos um vídeo do Cid Moreira, de 1974, declamando o texto “Desiderata”. É lindíssimo e fala sobre a valorização das coisas simples da vida. Na voz grave do Cid, a mensagem ganhava um significado ainda maior.

Durante 25 anos, Cid Moreira apresentou o Jornal Nacional. Desde que me entendo por gente, eu o via na televisão noticiando o que aconteceu no Brasil e no mundo ao longo do dia. Além da voz tão característica, a cabeleira grisalha também chamava atenção. Cid não era apenas um leitor de notícias, ele passava credibilidade naquilo que era lido. Se ele falou, tá falado! No tempo dele, o Jornal Nacional era mais “sisudo”, não abria espaço para descontração. O apresentador só virava a cadeira na hora de mudar de câmera.

Em meados dos anos 1990, Cid Moreira se tornou um dos apresentadores do Fantástico. Ali ele conseguiu mostrar ao telespectador o seu jeito descontraído principalmente quando apresentava o quadro do “Mister M”. A mesma voz que tanto leu as notícias, agora narrava o mascarado que desvendava os truques dos mágicos. O Cid da redação do Jornal Nacional agora era um homem do entretenimento.

Nesta mesma época, Cid Moreira narrou toda a Bíblia, do Gênese ao Apocalipse. Eu comprei em uma banca de jornal um CD com sua declamação dos Salmos. Para mim, o Salmo 26 na sua voz ficou perfeito.

Nos últimos anos, Cid esteve bem ativo no Instagram. Junto com sua esposa Fátima, ele mostrava sua rotina aos 90 e poucos anos. Hoje, recebemos a triste notícia da sua morte. O “Boa noite” que era um acontecimento, agora virou memória.