Anápolis e a gestão que paralisa os adversários
03 outubro 2015 às 12h54
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Enquanto o clima em Goiânia é efervescente no cenário político, com direito ao suspense acerca da confirmação da candidatura de Iris Rezende e a organização dos demais candidatos que tentam desmentir a franca preferência do eleitor goianiense pelo peemedebista, em Anápolis, o tic-tac do compasso de espera pode ser ouvido a ecoar ao longe. A diferença principal entre os dois cenários já é, de partida, pelo tipo de disputa a ser concebida nas suas praças.
Se em Goiânia, o jogo está aberto e a sucessão é compulsória, em Anápolis o prefeito petista João Gomes é o adversário a ser batido. Com direito a concorrer numa reeleição — a última prevista em lei — Gomes é o único candidato já fechado em seu partido e, de fato, é o principal nome. Se Iris é tido como o franco favorito, João Gomes está milhas à frente de seus adversários. E um dos principais motivos é: João Gomes nem sequer sabe quem são os seus concorrentes.
O marasmo político anapolino é, em grande parte, fruto de um competente trabalho político desenvolvido pelo grupo que vem comandando a administração desde 2009. Quando João Gomes ainda era vice-prefeito e Antônio Gomide estava à frente, ambos já circulavam nos meios políticos apaziguando, pregando a união e abrindo espaços dentro da administração a todos os partidos. Até mesmo o DEM chegou a ter cargos na Prefeitura de Anápolis. Para uma cidade acostumada com gestões conturbadas, conflitantes e baseadas no discurso “nós contra eles”, o gesto paralisou os movimentos oposicionistas.
E é neste mar congelado que, hoje, este grupo que tem João Gomes à frente, surfa com serenidade: a ausência de líderes oposicionistas em outras legendas na cidade fez com que o desenvolvimento de nomes competitivos ficasse limitado.
Outro ponto fundamental é que a neutralização da oposição deu-se pela forma como o eleitor espera que seja: não pela força, pela opressão, mas pelo resultado do trabalho administrativo. A cidade passou por uma transformação estrutural e de mentalidade. O golpe de autoestima permitiu que o anapolino voltasse a defender sua terra sem constrangimento. O volume exponencial de obras, bem como o atendimento de demandas e superação de compromissos feitos em campanha (foram prometidas 5 mil moradias populares e este número hoje ultrapassa a casa das 7 mil unidades) inibiu a criação de um grupo opositor com um discurso forte. Os que se lançaram contra a gestão, criticaram o excesso de parques e praças construídos, ou a existência de muita água como ornamento destes espaços naturais.
Enfim, a sublimação do inócuo.
João Gomes tem a gestão ao seu lado. Já está devidamente acostumado ao “ser prefeito” em todas as vicissitudes e delícias deste conceito. Trabalha por talento nato o diálogo com todos. É evangélico, empresário e petista, mas transita com facilidade e naturalidade em todas as vertentes contrárias a suas crenças e ideologias. João fala a língua do povo porque tem a origem popular. Foi engraxate, lavador de carros no centro de Goiânia e veio para a Anápolis abrir uma empresa aos 18 anos. É um currículo de vida difícil de ser comparado.
Tecnicamente, como gestor, já deixou sua marca. Se havia a dúvida sobre uma eventual queda no ritmo das obras, o prefeito mostrou serviço. Tem realizado com celeridade e resultado. A atual administração tem tocado obras, inaugurado escolas, postos de saúde, hospital e parques. Tem aberto novos projetos que estão em execução na cidade.
Politicamente, a intimidade do João Gomes empresário e líder classista — bem antes de pensar em se tornar vice-prefeito — com o atual governador (na época em que ainda era deputado e postulante a candidato) facilitam sua vida. Mesmo de partidos diametralmente opostos, Perillo e Gomes conversam com tranquilidade, o que torna a cada dia mais improvável uma investida milionária e politicamente atroz de Marconi na cidade contra a reeleição de João Gomes. Em 2012, Perillo já tirou o pé do acelerador na cidade, deixando o caminho ainda mais livre para Antônio Gomide. Difícil imaginar um cenário em que ocorra algo diferente disso.
Pesa contra Gomes o que pesa contra qualquer filiado ao PT: o processo já vicioso de desconstrução da legenda no Brasil. É grife, sinônimo de inteligência e conhecimento político falar mal do PT. Portanto, haverá – de fato – uma afetação de todos os candidatos do PT em 2016 por conta disto. No entanto, já ficou recorrentemente comprovado que uma gestão nacional positiva não salva uma municipal negativa. Bem como o inverso também não se toca ou se influencia.
Nem mesmo no ninho tucano anapolino, local propício para a proliferação de discursos oposicionistas, a movimentação é digna de quem quer entrar para valer no embate de projetos com o atual prefeito. Fernando Cunha, Ridoval Chiareloto e Frederico Jayme — três dos possíveis nomes a candidatos do PSDB — são próximos de João Gomes. Cunha não tem qualquer constrangimento em visitar o gabinete municipal, na semana passada lá esteve para o anúncio do projeto do Daia 2, Chiareloto é amigo de Gomes há 30 anos quando ambos adotaram Anápolis como sua terra. Por fim, Frederico Jayme que nem sequer se dispôs a filiar-se ao PSDB para enfrentar João Gomes.
Destoa deste grupo tucano o deputado Alexandre Baldy. O parlamentar não possui sequer ligação com a cidade de Anápolis quanto menos com o atual prefeito. Distante do discurso e da realidade local, Baldy anunciou que é, sim, pré-candidato à Prefeitura de Anápolis. O deputado tem a pretensão de lançar-se candidato ao Governo do Estado e, para isso, precisa encontrar uma cidade que lhe seja sua sede política. Escolheu Anápolis pela facilidade de montar este discurso por intermédio do sogro, Marcelo Limírio, um anapolino nacionalmente conhecido.
Baldy, como agente público, tem a necessidade de demarcar espaço e por esta razão tem de afirmar que é candidato em sua cidade. O que acontece é que o projeto de candidatura é um negócio de imenso risco ao jovem deputado cujas pretensões estão no Palácio das Esmeraldas. Pode concorrer e perder. E assim irá para o fim da fila na disputa pela vaga de candidato, afinal, se perdeu em sua própria cidade, como pode angariar apoio para tomar Goiás para si? Ao concorrer e perder, Baldy também perde a virgindade da derrota. Chega ao pleito de 2018 com um fracasso e não com uma expectativa da surpresa do novo.
Se vencer, Baldy dificilmente encontrará discurso para abandonar a prefeitura com um ano e meio de gestão para tocar um novo projeto. Quem dá as costas para a cidade não pode querer cuidar do Estado. Baldy é a principal aposta do ex-prefeito Ernani de Paula, que volta à cidade depois de 12 anos e anuncia ser candidato a vereador. Deve ser ele o principal apoiador do projeto de Baldy porque, assim como Ernani foi para Anápolis, Baldy representa o Novo. Seria um Ernani de Paula 2.0.
Neste sentido, é natural que seja demarcado espaço, mas que mais à frente Alexandre Baldy recue pela própria vontade de Perillo em não rivalizar com Gomes pela cidade. Se é diálogo que ele precisa e acesso político fácil à cidade, ele já possui isso com o petista. Há quem aposte que a afinidade e confiança de Marconi com João Gomes é infinitas vezes maior que com o jovem Baldy. Mas aí já são sussurros de bastidores.
O fato é que hoje a cidade vivencia seu momento administrativo sem sequer se esquentar quanto ao debate político. E nomes se organizam lentamente para montar um discurso que contenha crítica e projeto ao mesmo tempo.
Por enquanto, ninguém se apresentou.