“Drummond, o poeta. Sua morte abre a expectativa exata do homem que ele foi, testemunha imensa de seu tempo e de seu modo – modo de poeta. Estadistas, filósofos, músicos, cientistas, romancistas, todos se tornam menores quando, de tempo em tempo, surge o poeta. Sem compromisso com a verdade, ele é o único verdadeiro quando atinge a poesia, que não é feita apenas de palavras, mas de um modo de caminhar pela vida. Aquele modo esguio, aquela cabeça baixa, no peito o retrato de Itabira — como dói. Quando ele nasceu, um anjo torto, que não gostava de galicismo, disse: ‘Vai, Carlos, ser poeta na vida!’ E ele foi — e como foi!” — Carlos Heitor Cony na Revista Manchete de 29 de agosto de 1987.

Uma vez, alguém postou no YouTube a reportagem completa do “Jornal Nacional” sobre a morte do poeta Carlos Drummond de Andrade. Me chamou a atenção o incômodo da romancista e contista Ligia Fagundes Teles com aquela movimentação toda no Cemitério São João Batista e os microfones ao redor dela aguardando uma palavra sobre Drummond. Essa movimentação, esses microfones eram consequência da popularidade do poeta de Itabira. Ele conseguiu ser popular por causa das suas letras. Escreveu poemas, crônicas, deu entrevistas para televisão, gravou um disco declamando as próprias poesias. Era comum ver Drummond andando pelas ruas de Copacabana ou do centro do Rio de Janeiro.

Carlos Drummond de Andrade morreu no dia 17 de agosto de 1987. Doze dias antes, ele enterrou sua filha Julieta, invertendo a lógica da vida. O poeta que escreveu muito e sobre tudo já não via mais motivos para viver. O mesmo anjo torto que desceu em Itabira, em 1902, voltou para o Rio de Janeiro, em 1987, para levá-lo até a eternidade.