A única entrevista que eu conhecia de Getúlio Vargas fora do poder era a que Samuel Wainer fez, em 1949, quando o velho ditador disse que voltaria como líder de massas. Encontrei no acervo digital do jornal O Globo uma entrevista que Vargas concedeu e foi publicada em 5 de novembro de 1945. Ele estava em sua fazenda, em São Borga, Rio Grande do Sul. A princípio, os seguranças de Getúlio Vargas não permitiram a entrada da equipe do Globo, mas, depois de alguma insistência, abriu-se as portas da fazenda e o jornalista Geraldo Romualdo com sua equipe entraram e se encontraram com Vargas.

Nem mesmo o velho ditador queria entrevista: “Pois é, meus amigos, eu tenho a impressão de que os senhores perderam uma longa e dispendiosa viagem. Eu não lhes posso fazer declarações. Ademais, a minha carreira política está encerrada”. O repórter contou como era a vida de Getúlio Vargas longe do Palácio do Catete. Enquanto caminhava com a reportagem do Globo pela sua fazenda, Vargas conversava sobre a nova vida. Ao invés de livros, ele devorava os jornais. Estava atento ao novo governo que se formara após sua deposição. Falou um pouco sobre política e respondeu ao ex-presidente Wenceslau Brás que parabenizou o General Góis Monteiro pela sua deposição. “Se eu fosse responder ao Sr. Wenceslau Brás, dir-lhe-ia que também em 37 recebi igual manifestação da sua parte. O Sr. Wenceslau Brás está sempre pronto para felicitar os vencedores. É um homem quem tem a mosca azul na cabeça”.

Vargas voltou à rotina de fazendeiro falando pouco sobre política e muito caminhando por suas terras. “E assim passa o seu tempo, na terra onde nasceu, o homem que dirigiu os destinos do Brasil durante quinze longos anos.” A equipe do Globo ficou até a manhã do dia seguinte na fazenda do velho ditador. A hospitalidade de Vargas foi reconhecida. Ele foi até o avião se despedir dos visitantes e retomar sua rotina que se repetiria até 1949 quando receberia Samuel Wainer e diria que voltaria ao poder como líder de massas.