Ainda em setembro, mês no qual tanto se fala dos 200 anos da “ independência do Brasil”,  relembramos a chegada da corte e os rumos tomados pela música a partir de então.

Embora a comitiva real tenha sido recebida com grande festa, o Rio de Janeiro não estava preparado para atender toda a estrutura da corte. Dom João VI precisou implementar inúmeras medidas para tornar a capital do império uma cidade habitável para sua corte.

Chegada do Príncipe D. João, da família real e da Corte à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, missa comemorativa da chegada ao RJ
Óleo sobre tela. Armando Martins Viana. Século XX. Museu da Cidade, Rio de Janeiro

Quando a Família Real Portuguesa adentrou a Baia de Guanabara em 1808, o Rio de Janeiro era uma cidade colonial de população diversificada, ruas estreitas e vida cultural escassa para os padrões da corte joanina.

O grupo que acompanhou o Rei nesse trajeto era bem diverso e nele também estavam artistas europeus que passaram a influenciar o estilo e as práticas de músicos coloniais, construindo uma nova percepção do gosto e uma nova maneira de observar o mundo das artes. A pedido de Dom João VI, Antônio de Araújo Azevedo, o Conde da Barca, idealizou a Missão Artística Francesa, com o propósito de fundar a Real Escola de Belas Artes.

Academia Real de Belas Artes, projetado por Grandjean de Montigny
 Visto em três diferentes épocas
o aspecto do edifício em 1826, quando contava somente com o andar térreo; vista mais acima, aparece com um segundo andar acrescentado; o edifício é visto em sua última aparência, antes da demolição, com alguns acréscimos configurando um terceiro pavimento

A missão artística, composta por personalidades de reconhecido talento, os pintores Jean Debret (1768-1848) e Nicolas Antoine Taunay (1755-1830), escultores como Auguste Taunay (1768-1824) e arquitetos como Grandjean de Montigny (1777-1850), entre outros, desembarcaram no Rio de Janeiro em 1816

Passados poucos meses do desembarque no Rio de Janeiro da “missão artística” francesa, aporta em terras brasileiras outra comitiva francesa, a do Duque de Luxemburgo, que tinha como um de seus objetivos o restabelecimento das relações franco-portuguesas. Junto com os diplomatas ligados ao Duque de Luxemburgo vieram também o naturalista Auguste de Saint Hilaire (1779-1853) e o compositor Sigsmund Neukomm (1778-1858).

Retrato de Augusto de Saint Hilaire(1779-1853)
 óleo sobre tela – Henrique Manzo(1896 – 1982)
Acervo do Museu Paulista da USP

O compositor austríaco Sigismund Neukomm foi um dos músicos europeus que deixou sua marca e influenciou a música brasileira.

Sigismund Neukomm(1778-1858)

Segundo Maurício Monteiro:

A circulação de músicos estrangeiros no Rio de Janeiro joanino foi importante para o estabelecimento de uma prática de corte, para sustentar a demanda de música e, sobretudo, ajudar a constituir um novo gosto, baseado em práticas cortesãs. (MONTEIRO, 2008, p. 61)

Sigismund Ritter Neukomm nasceu em Salzburg em 10 de julho de 1778 e teve como professor de música Joseph Haydn (1732-1809). Permaneceu no Brasil entre os anos de 1816 e 1820. Ministrava aulas de música para a Família Real e para membros da elite carioca. Admirava e ajudava talentos brasileiros como Padre José Mauricio Nunes Garcia (1767-1830) e Francisco Manuel da Silva (1795 -1865).

O envolvimento de Neukomm com as práticas musicais brasileiras exerceu influência tanto em sua própria obra, como na vida artística do Rio de Janeiro joanino.

 Ouviremos do compositor austríaco, obra composta em 1819, no Rio de Janeiro, intitulada O Amor Brasileiro – capricho para pianoforte sobre um lundu brasileiro interpretado pelo pianista carioca Arnaldo Estrella (1908 -1980).

Retrato do Pianista Arnaldo Estrella (1908 -1980)
Nanquim sobre papel, 1942
Arpad Szenes (1897 – 1985).

Observe o amalgama cultural entre o Brasil colonizado e a cultura colonizadora.