Os palcos se ressentem da ausência de Antonio Meneses

09 julho 2024 às 17h13

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Em um comunicado recente, o mundo da música de concerto recebeu uma notícia comovente e inquietante: o violoncelista brasileiro Antonio Meneses, um dos mais renomados músicos de sua geração, anunciou seu afastamento dos palcos e das salas de aula. Meneses enfrenta um desafio pessoal gigantesco, um tumor cerebral agressivo, conhecido como glioblastoma multiforme, diagnosticado em junho deste ano. Atualmente, ele está sob cuidados paliativos na Suíça, onde vive, cercado por sua família e amigos mais próximos.
Antonio Meneses, nascido no Recife em 1957 e criado no Rio de Janeiro, sempre foi uma figura proeminente no cenário musical. Sua trajetória é marcada por conquistas extraordinárias, desde a vitória nos prestigiados concursos de Munique e Tchaikovsky até a colaboração com as mais importantes orquestras e maestros do mundo. Seu talento e dedicação à música o elevaram ao status de um dos mais completos e atuantes artistas da música brasileira de concerto.
Meneses não é apenas um virtuoso do violoncelo; ele é um artista que transpira paixão e autenticidade em cada nota que executa. Sua discografia vasta é um testemunho de sua versatilidade e profundidade artística, abrangendo desde os clássicos do repertório até obras contemporâneas, sempre interpretadas com uma sensibilidade ímpar.

Além de seu trabalho solo, Antonio Meneses também deixou uma marca indelével no campo da música de câmara. Como integrante do Beaux-Arts Trio, ele encantou plateias ao redor do mundo com sua habilidade técnica e expressividade emocional. Suas colaborações em duo com pianistas de renome, como Menahem Pressler, Cristian Badu, Celina Szrvinsk e Maria João Pires, são exemplos de diálogos musicais de altíssimo nível, onde a cumplicidade e o respeito mútuo resultam em performances memoráveis.
A notícia de seu afastamento traz à tona não apenas a fragilidade da vida, mas também a resiliência de um artista que dedicou sua vida à arte e ao compartilhamento de sua paixão com o mundo. A música de Antonio Meneses sempre foi um reflexo de sua alma, e mesmo neste momento difícil, seu legado continua a inspirar e a emocionar.
Neste momento de incertezas, Antonio Meneses encontra conforto no carinho e apoio de sua família e amigos próximos. Enquanto ele enfrenta essa batalha, sua música permanece como um farol de beleza e esperança para todos nós. Seu afastamento dos palcos é uma perda imensurável, mas a grandeza de sua arte e a profundidade de seu impacto na música de concerto são eternas.

Ouviremos de Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) O Trenzinho do Caipira (1931), Arranjo: Ricardo Castro com Antonio Meneses no violoncelo Cristian Budu ao piano na Sala São Paulo em 2019.
Observe o universo de sons brasileiros, nessa obra, uma cadência crescente que dá velocidade a esse trem, elemento rítmico constante em toda a peça. O jogo rítmico dessa obra representa o início dos movimentos de um trem, o momento em que ele ganha velocidade; depois, ocorre um arrefecimento em sua marcha para chegar ao repouso. Os sons do piano e do violoncelo se mesclam para criar efeitos sonoros e imagéticos de um trem.